Impulsionada pela tradição, Banda Daki anima folião de JF neste sábado
Banda fica concentrada no Largo do Riachuelo, a partir das 10h30; nesta sexta, Zé kodak é homenageado com escultura no mesmo local
De antemão, Gustavo Passos avisa: “Não vou substituí-lo. Vou apenas representá-lo”. É mesmo difícil pensar em ocupar o lugar de um dos nomes mais reverenciados do carnaval de Juiz de Fora. O general da banda que veio a se tornar o marechal. O embaixador do carnaval de rua: de todos e para todos. José Carlos Passos sempre foi a referência carnavalesca de Gustavo, seu sobrinho. Zé Kodak é a referência carnavalesca de todos os juiz-foranos. É há mais de 50 anos. E se depender dos foliões, vai ser para sempre.
Isso porque a Banda Daki, da qual Zé Kodak é um dos fundadores, sai impulsionada pela força da tradição. Pela força de milhares de pessoas que guardam memórias afetivas dos sábados de carnaval que sempre reuniram toda a família. Quando o marechal morreu, em fevereiro de 2021, era comum ouvir: “E a banda? Vai sair?” Havia o questionamento: “Existe o bloco sem Zé Kodak?”. Existe, graças a um esforço coletivo de manter vivo o legado dele: reverenciar a história e inaugurar uma nova fase, com ele sempre ao lado.
A Banda Daki, neste sábado, a partir das 10h30, não vai sair pelas ruas de Juiz de Fora. Ela vai ficar parada no Largo do Riachuelo, em concentração. “Eu acho até que ele vai ficar chateado comigo porque a banda vai ficar parada, mas tem um pretexto”, brinca Gustavo, que assumiu a presidência da Associação Recreativa General da Banda, responsável por organizar o bloco. O pretexto é que a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) preparou uma homenagem a Zé Kodak.
Nesta sexta-feira (17), às 11h30, será inaugurada uma escultura, no próprio Largo do Riachuelo, apontando para a Avenida Rio Branco, que é onde a banda desfilava. A estátua, do artista plástico Yure Mendes, vai imortalizar Zé Kodak vestido de general: sua melhor fantasia. “A gente quer ter ele com a gente ali o tempo todo. Jamais eu quero sair e virar as costas para ele. Se a gente saísse, a gente iria dar as costas para ele. E não é isso que a gente quer”, justifica o sobrinho o fato de, pela primeira vez, a banda não desfilar.
Do tio para o sobrinho
Gustavo assumiu a organização da Banda Daki quase no susto. Seu tio, de certa forma, já dava indícios de que era ele que, oficialmente, seguiria o seu legado. Ainda em vida, passou a administração das lojas ao Gustavo. Ele mostra um vídeo da época em que seu tio passa o bastão. Mas, logo em seguida, Zé Kodak afirma que continua, como sempre, à frente da banda. “Ele não ia me passar o bloco, né?”
Fato é que Gustavo foi procurado logo em seguida à morte de Zé Kodak por seus amigos que queriam saber o rumo da banda, que queriam, inclusive, prestar homenagens ao general. “Eu não tinha essas informações. Não estava sabendo. Então, tive que assumir. Porque além de ser um tio-pai, eu tenho que seguir esse legado dele com tudo o que ele gostava.” Primeiro, foi Nelson Júnior que assumiu a presidência, e Gustavo a vice. O sobrinho subiu de cargo e Carlos Guedes, que era rei momo da Banda Daki, se tornou o vice.
Novas memórias construídas na tradição
“Eu pensei muito bem antes de assumir essa responsabilidade. Mas como é para homenageá-lo, aceitei. Eram as coisas mais importantes para ele: trabalhar no balcão e todos os dias do ano pensar na banda para conseguir sair no carnaval.” Agora, estando tanto no balcão como à frente da Banda Daki, é comum Gustavo reviver situações que via seu tio vivendo. “Tem muito ambulante me procurando igual procurava meu tio. Eles chegam falando: ‘Seu Zé deixava eu vender minha cervejinha sem cobrar nada. E você? Quanto você vai me cobrar?’ E eu também não vou cobrar nada. Eles levam a cerveja, fazem a festa e ajudam a tomar conta da banda, para não ter briga, criançada curtir. O intuito não é financeiro. Ele sempre teve um amor platônico de ver as pessoas se divertindo. De ver o nome dele sempre ligado à alegria. Ele era uma pessoa ímpar. Por isso que eu falo que eu não tenho pretensão e nem altura para substituí-lo. O máximo que vou conseguir é representá-lo.”
É um desafio grande ocupar essa posição. Mas Gustavo afirma que o essencial ele aprendeu ainda em vida com o tio: “Com ele, eu aprendi o essencial: ver as pessoas felizes, do ambulante ao folião que não tem dinheiro para ir a um baile de carnaval. Esse público todo: crianças, pessoas de todas as idades. É sempre repassar a alegria para as pessoas sem cobrar nada em troca. O legado que ele deixa é esse. Ele sempre quis ver todo mundo aproveitando igual e curtindo igual”.
Zé Kodak tinha como sonho comemorar os 50 anos da Banda Daki que, no entanto, foi sendo adiado por conta da pandemia. Neste ano, então, ele, finalmente, será comemorado. “A gente está lutando para ser à altura do que ele sonhou. Mesmo com minha cabeça nova, de um outro tempo, eu quero preservar a tradição, o repertório de música e o público que tem que ser atingido.” É olhar para o futuro sem perder os pés da tradição. “Eu tenho essa ideia de renovar o bloco a partir do ano que vem. Mas para isso, é necessário um trabalho do ano todo.” Soma-se a essa grande expectativa de, depois de dois anos, ver o bloco na rua, o fato de as escolas de samba voltarem a desfilar. Gustavo acredita que isso vai fazer com que mais pessoas fiquem na cidade e, consequentemente, curtam os blocos da semana de carnaval, sobretudo a Banda Daki. É, também, uma renovação de público.
Guardião do carnaval
Além de uma história imortalizada, Zé Kodak deixou um grande acervo, sobretudo da história do carnaval de Juiz de Fora, para além de materiais da Banda Daki. É Gustavo quem faz a preservação desses bens, que seguem no apartamento de Zé Kodak. A sugestão é que tudo seja doado à prefeitura, no entanto a tramitação não prosseguiu.