Caso Americanas: uma análise contábil

“O valor do patrimônio líquido da Americanas era de cerca de R$ 15 bilhões. A expectativa do mercado é que, agora, ele passe a ser negativo”


Por Márcio Moreira, docente do curso de Contábeis da Estácio

01/02/2023 às 07h00

A Americanas, uma das maiores varejistas do país, anunciou ter encontrado na sua contabilidade uma inconsistência contábil da ordem de R$ 20 bilhões. Essas contradições, segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), geralmente ocorrem devido ao não reconhecimento de despesas financeiras em seus resultados, porque não reconheceram passivos financeiros (empréstimos + financiamentos junto a bancos) ou não foi ajustado seu passivo com fornecedores a valor presente, sem a devida segregação de juros embutidos na operação.

Tudo isso pode gerar uma situação financeira distorcida da realidade, pois reduz o saldo da conta “fornecedores” em seus balanços. Para os analistas de mercado, há um impacto direto na companhia. Eles avaliam que podem resultar em três efeitos negativos para a empresa: aumento do endividamento, dependendo dos ajustes em seu balanço patrimonial; maior custo de dívida, por conta do risco de crédito; e liquidez e impacto no capital de giro, dado que a companhia poderá ter problemas em manter os dias de pagamento a fornecedores, por conta do seu ciclo de caixa ser menor.

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O valor do patrimônio líquido da Americanas era de cerca de R$ 15 bilhões. A expectativa do mercado é que, agora, ele passe a ser negativo. A empresa, por sua vez, deve ser limitada a seu caixa. Após a notícia, as ações das Lojas Americanas estão em leilão, sinalizando uma queda de mais de 70% do seu valor. Já existe também a possibilidade de a empresa pedir recuperação judicial.

O desempenho das ações vinha sendo impulsionado, principalmente, pelas expectativas do mercado quanto à entrada do novo CEO contratado, no médio e longo prazo. Agora, com sua demissão em menos de 15 dias de trabalho, a expectativa é de uma forte queda no valor das ações. Vale relembrar que o investidor e bilionário Luiz Barsi relata não investir no varejo brasileiro, porque, segundo ele, só existem dois tipos de varejo no Brasil: os que já quebraram e os que ainda vão quebrar.

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