Juiz-forano com paralisia cerebral é o primeiro a se formar em Economia na UFJF

Com diploma em mãos, Thiago Costa lembra dos desafios enfrentados na trajetória e destaca importância da acessibilidade e da inclusão


Por Pâmela Costa, estagiária sob supervisão da editora Fabíola Costa

22/01/2023 às 07h00

Seus olhos brilham quando se reconhece como inspiração a dezenas de pessoas, mas ainda fica tímido quando é chamado de revolucionário. Thiago da Costa, 34 anos, é o primeiro aluno com paralisia cerebral a se formar na Faculdade de Economia. Pioneiro, ele conhece bem a luta diária para ser aquele que abre caminhos, em meio a tantos obstáculos que as pessoas com deficiência ainda enfrentam.

“É preciso falar de acesso para pessoas com deficiência sem assumir um tom de vítima, mas com a visão de que a inclusão pode transformar vidas.” O juiz-forano passou boa parte da infância e da adolescência na cidade de Rio Pomba, mas voltou à sua cidade natal para ingressar na Universidade Federal de Juiz de Fora.

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Dividido entre Economia e Jornalismo, suas duas paixões, Thiago foi logo conquistado pela possibilidade de não abrir mão de nenhuma e decidiu explorá-las. O perfil no Instagram, criado durante a pandemia para minimizar os impactos do isolamento social, foi seu objeto de monografia e espaço para expor suas reflexões sobre economia e inclusão, esclarecer dúvidas, divulgar seu jornal digital e, também, mostrar um pouco de si.

Com o diploma em mãos, Thiago olha para trás e lembra do início da graduação, em 2013, como um momento de adaptação à vida acadêmica e de superação de dificuldades, mas que contou com o apoio do Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI), mantido pela universidade, mudando o curso de sua trajetória. Por conta da paralisa cerebral, ele possui dificuldade de locomoção e comprometimento da coordenação motora fina, dificultando a digitação e a escrita, além de ações, como pegar objetos e subir escadas. Contudo, a deficiência não afetou a parte cognitiva.

Mestrando em Economia, André Sobrinho atuou como monitor voluntário no Núcleo de Apoio à Inclusão. Diante da percepção sobre os processos de aprendizagem específicos do aluno, o monitor desenvolveu metodologias que se alinhassem às necessidades pedagógicas de Thiago, sempre visando a otimizar o seu desempenho. Amigos, André e Thiago hoje comemoram a conquista compartilhada.

Com a graduação em Economia concluída, Thiago já está com planos para a nova etapa: ingressar no mercado e trabalhar com análise econômica com foco na inclusão.

André Sobrinho (à direita) desenvolveu metodologias que se alinhassem às necessidades pedagógicas de Thiago e, abraçado ao amigo, comemora a conquista (Foto: Pâmela Costa)

Desafios para inclusão

Vinculado à Diretoria de Ações Afirmativas, o NAI tem o objetivo de construir e implementar políticas para pessoas com deficiência, Transtorno do Espectro Autista (TEA), altas habilidades e superdotação no âmbito dos cursos de graduação e pós-graduação da UFJF.

Mais do que contribuir para que pessoas com deficiência possam ingressar na universidade, as políticas de inclusão visam a garantir a permanência do aluno na instituição. Entre as ações desenvolvidas está a implementação de projetos envolvendo acessibilidades físicas e atitudinais, além de assessoramento de cursos de graduação e pós-graduação no cumprimento das demandas legais.

Segundo Nádia Faria, coordenadora do NAI, o trabalho é desenvolvido com o propósito de atender as individualidades de cada estudante, atuando de maneira personalizada, de acordo com a deficiência, o curso e a disciplina. Thiago elogia todo o trabalho feito pelo NAI, no entanto, considera que a universidade ainda precisa melhorar a parte física que, exceto os prédios novos, foi construída na década de 1960, em um tempo onde não se falava de acessibilidade arquitetônica.

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Nádia avalia que, embora muitos avanços já tenham sido feitos, ainda há um longo caminho a ser percorrido. O núcleo atua com base na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, Lei 13.146, de 6 de julho de 2015, mas falta uma regulamentação interna da UFJF, com legislações específicas para o trabalho feito dentro da instituição, abrangendo questões, como aumento do tempo de prova para PCD’s quanto um aumento do tempo para se formarem. “Então, o próximo passo é a normatização e a legalização do serviço, que é um direito do aluno.”

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