Morre Léo Mota, produtor de teatro de Juiz de Fora
Amigos e colegas de trabalho relembram sua trajetória a partir de produções e contribuições para a cena local
Morreu neste domingo (8), aos 40 anos, o produtor de teatro de Juiz de Fora Léo Mota. Em sua vida, criou junto com amigos a CorreCotia Produções, e trouxe espetáculos importantes para o município, como adaptações de João Falcão, “Il primo miracolo”, com Roberto Birindelli e “À beira do abismo me cresceram asas”, com Maitê Proença. Além disso, promoveu palestras, workshops e cursos que incentivaram produções locais. Amigos e colegas de trabalho relembram sua trajetória a partir de grandes trabalhos que criou na cidade, mas também ressaltam sua visão particular sobre o teatro e as formas que encontrou de incentivar a cena local.
Através da produtora CorreCotia, Léo conseguiu trazer diversas produções para Juiz de Fora – inclusive com grandes nomes do teatro, fazendo adaptações valiosas e popularizando apresentações. Para Adryana RyalPuri, diretora da Cia Teatrando e MIIN, a perda não é sentida apenas pelos mais próximos, e sim por toda Juiz de Fora, que pôde contar com seu incessante trabalho. “Ele oferecia tudo isso com o seu esforço, correndo atrás de artistas e de parcerias”. Muitos desses trabalhos eram oferecidos ao público, inclusive, de forma gratuita.
Na visão do amigo Tiê Fontoura, diretor e dramaturgo da cidade, um dos momentos mais marcantes da carreira de Léo foi logo antes da pandemia. Ele conseguiu direitos autorais de dois textos de João Falcão, escritor e dramaturgo bastante conceituado no Brasil. Ele fez montagens com atores locais de “A máquina” e “A dona da história” e, inclusive, recebeu o autor na cidade. “Com essa vinda, João fez um dos maiores elogios ao Léo: comparou a montagem juiz-forana com a montagem que ele fez em São Paulo, falando que era tão bem feita e tão boa quanto a de São Paulo, sendo que os recursos não eram os mesmos. O Léo ficou muito feliz com isso”, relembra.
Além das conquistas individuais, o produtor é lembrado como alguém que se esforçava para trazer projetos para Juiz de Fora, incentivar a produção local e fazer com que dificuldades fossem ultrapassadas. Durante a pandemia, por exemplo, fez o possível para que o teatro se mantivesse vivo. “Ele tinha muito trabalho bacana para fazer, conhecia muitas pessoas do mercado nacional, muita gente querendo trabalhar com ele. E todos que puderam trabalhar com ele, vão afirmar que ele era uma pessoa de muita luz, muito comprometida com a arte e com a cultura”, conta Tiê.
‘Alguém que acreditava na cidade’
Léo já deu cursos para atores, de improviso e voltados para TV em vários lugares do Brasil. Na sua trajetória profissional, iniciada em Vitória, no Espírito Santo, percebeu, no entanto, que queria mesmo era trabalhar com produção, e foi assim que começou a voltar seus trabalhos para essa área. Foi quando sua mãe morreu que ele resolveu voltar para Juiz de Fora, sua cidade natal, e concentrar seus trabalhos na cidade mineira.
Para Adryana, é nítido que ele era o tipo de artista e produtor que acreditava na cidade. “Uma pessoa que trabalha fora, que experimenta produção no Espírito Santo e Rio de Janeiro, que são lugares com polos culturais maiores, e volta acreditando no setor cultural da sua cidade, merece respeito e valor.” Em sua visão, o amigo e colega de profissão se dedicava a preencher lacunas de produções que os próprios órgãos públicos não conseguiam trazer para a cidade. “Nos últimos 10 anos, ele trouxe para Juiz de Fora artistas que o nosso setor cultural e o poder público não trouxeram”, afirma.
Legado para a cena cultural juiz-forana
Na visão dos amigos e produtores, preencher o espaço que ele deixa será difícil. Léo Mota estava sempre se esforçando para trazer artistas diversos, de outros estados, de diferentes áreas e buscando um intercâmbio cultural para todos. “O Léo também tinha uma perspectiva de ver o trabalho para além do teatro, tendo um contato do artista com outras linguagens. Ele propunha sempre esse viés do teatro com o cinema, com a televisão, com a internet. Foi uma pessoa que trouxe isso para nós e propôs uma forma nova de fazer esses trabalhos.”
Para todos esses amigos, no entanto, fica o ensinamento e também as portas que o produtor conseguiu abrir. “O que eu vejo como legado do Léo aqui em JF, e vejo que isso já tem repercutido bastante, é a forma como a gente se percebe como artista local e a projeção do nosso trabalho. A gente não pode se intimidar diante dos dois grandes centros canônicos de produção cultural, pode propor mesmo um intercâmbio, ter uma troca com textos e esse câmbio de ideias com diretores de fora”, diz. Algumas de suas produções, que já estavam em andamento, devem ser concluídas pelos amigos ainda em 2023, e por fim levadas ao público.