A prisão ideológica da UFJF

“(…) a UFJF literalmente estipula como critério de entrada na universidade o alinhamento ideológico ao pensamento médio vigente na academia”


Por Rafael Mendonça, Jornalista e empreendedor

05/01/2023 às 07h00

Com assombro, acompanhei a aplicação do Pism, avaliação pela qual tenho carinho e que realizei no triênio 2011-2013 para entrar na UFJF. À época, o Pism era marcado por questões conteudistas, técnicas, em contraste com um Enem mais interpretativo. Hoje, infelizmente, a prova demonstra ter sido capturada por uma agenda política e servir aos seus interesses.

Lembro-me de que, no meu Pism I, uma questão de Geografia causou revolta por exigir que o candidato soubesse de cor o nome da Estrada de Ferro Vitória a Minas, algo não trabalhado nas salas de aula.

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Quem me dera se os jovens de hoje pudessem se revoltar com algo assim. Lamentavelmente, numa aberração educacional, o Pism I deste ano optou por produzir questões com base em vieses ideológicos, apesar da ampla gama de temas abrangidos pelo conteúdo programático do exame.

Vemos isso na questão 2 da prova discursiva de Geografia, que se inicia com um excerto de uma notícia de um portal de péssima qualidade, cuja linha editorial se resume em repetir narrativas da esquerda.

A notícia trata da gestão da Funai sob o Governo Bolsonaro – e aqui faz-se necessário um adendo: a horrível gestão ambiental de Bolsonaro, com aumento assustador de queimadas, conflitos em terras indígenas e denúncias de contrabando de madeira ilegal contra o ex-ministro Ricardo Salles, não torna a questão do Pism aceitável, e vice-versa.

Após ler o texto e uma charge, uma pergunta pede que o aluno cite “consequências imediatas decorrentes do desmonte da Funai”. E, conforme o próprio gabarito, sugere que opor-se à ação da Funai leva à “obliteração de minorias”, numa demonstração do autoritarismo que impera na educação aparelhada pela esquerda: “Ou concorda comigo, ou você é genocida”.

Assim, o Pism usa adolescentes, cidadãos em formação, como massa de manobra, manipulando-os a pensar que não há saída para questões ambientais fora de um Estado inchado e intervencionista e descartando soluções privadas para a preservação ambiental e a concessão de títulos de propriedade aos indivíduos que vivem em terras indígenas.

Esse é o retrato de uma agenda que trata indígenas como seres desprovidos de discernimento, incapazes de agir e gerenciar suas vidas e suas terras e dependentes sempre do bondoso e protetor Governo.

Não bastasse, a prova de História, aproveitando-se da presença da Idade Média na ementa do exame, usou uma tirinha de tosca profundida intelectual com um cavaleiro para abordar “minorias” no Brasil contemporâneo, tema não previsto no edital.

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Com questões assim, a UFJF literalmente estipula como critério de entrada na universidade o alinhamento ideológico ao pensamento médio vigente na academia. Mas, se deseja tanto o debate sobre minorias, deveria entender que a menor minoria é o indivíduo e que coletivistas jamais serão reais defensores da vida humana.

Infelizmente, o pensamento crítico não cabe na prisão ideológica que domina a educação brasileira e, agora, até mesmo o Pism.

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