Polícias atuam para reprimir onda recente de homicídios

PM quer manter redução de crimes violentos verificada desde 2017; Polícia Civil não descarta retorno de delegacias especializadas


Por Sandra Zanella

01/01/2023 às 07h00

As polícias Civil e Militar terminam 2022 e começam o novo ano com foco no combate aos assassinatos, que despontaram nos últimos dois meses em Juiz de Fora, assustando a população. Enquanto a PM trabalha para manter a redução de crimes violentos verificada desde 2017, a Polícia Civil não descarta o retorno das delegacias especializadas de Homicídios, Roubos e Narcotráfico, desativadas no fim de outubro. De acordo com as autoridades, a onda de violência recente teria começado após um integrante de facção criminosa ter se mudado do Ceará para o Bairro Santo Antônio, Zona Sudeste, querendo dominar territórios também em bairros adjacentes, como o Vila Ideal – onde dois adolescentes foram assassinados no fim de agosto -, e outros na Zona Sul e Cidade Alta. Desde então, várias operações conjuntas estão sendo desencadeadas no município para frear a criminalidade. As investigações extrapolaram os limites de Minas e contaram com apoio de setores de inteligência do estado nordestino.

“Os homicídios no segundo semestre ficaram muito concentrados nessas regiões. O fator que motivou foi a disputa por pontos de drogas por facções rivais, aquelas brigas de gangues que víamos antigamente”, avalia o assessor de comunicação da 4ª Região da PM, major Jean Michel Amaral. Segundo ele, o homem do Ceará, que teria vindo se esconder no Bairro Santo Antônio para não ser morto no Nordeste, teria acirrado esses conflitos para conseguir comandar o tráfico na área e também nas regiões já citadas. “Ele tinha se colocado como líder de um dos grupos em Juiz de Fora e estava querendo ampliar seus braços.” Conforme o major, o resultado foi que os homicídios saíram da curva descendente. “Mas ele acabou preso no Paraguai. Pelo que consta, tinha ido comprar armas de fogo para abastecer a gangue aqui.” O major acredita que a prisão quebrou o poderio do grupo que estava se instalando no Santo Antônio, ao cortar pela raiz. “Outros alvos também foram pegos, inclusive em ações da Polícia Civil. Isso dá uma arrefecida no crime, com um lado menos ativo na disputa”, acredita o oficial, com melhores perspectivas para 2023.

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Operação das polícias Civil e Militar, no Bairro Santo Antônio, após registro de conflitos entre grupos criminosos e o homicídio de dois adolescentes (Foto: PCMG/Divulgação)

Depois da explosão de assassinatos, como mostrado em reportagem divulgada pela Tribuna no mês passado, com média de um caso a cada dois dias em novembro, o delegado regional, Márcio Savino, revela pensar no retorno das especializadas para este ano em novo formato. “É uma coisa que vai acontecer. Estamos formatando os grupos. Hoje temos nove equipes investigando, e a resposta vai ser dada na hora certa”, garante, sobre a escalada de crimes contra a vida. “Vale ter uma equipe exclusiva, não descartamos.” Enquanto isso, ele assegura que as delegacias das sete regiões da cidade estão integradas, com apoio do Grupo de Resposta Rápida (GRR), atento aos homicídios. Ele cita ainda ações conjuntas com a PM, Guarda Municipal e polícias rodoviárias Estadual e Federal. “As áreas de inteligência estão todas atentas (à questão), inclusive do Ceará. Estamos bem interligados.”

Savino pontua que as facções criminosas ligadas ao tráfico são uma realidade. “O braço comercial sempre vai existir enquanto houver consumidor, mas é combatível. Geralmente os homicídios estão ligados ao tráfico, os dois andam praticamente juntos.” Segundo o delegado, com o crime mais organizado, é necessário também investigações qualificadas. “Uma das metas desde que cheguei (em novembro) é aprimorar a qualificação da investigação policial. O objetivo principal é trabalhar para a condenação, para tirar de uma vez os suspeitos do crime. Queremos pegar os mandantes, não apenas os executores, para chegar a toda cadeia criminosa. Demanda tempo e necessidade de integração com as forças de segurança. Já nos reunimos com a Guarda Municipal e a PM sobre os principais problemas. Estamos trabalhando 24 horas para isso.”

Ele ressalta o reforço na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, com três delegadas, e o projeto Frida, de apoio virtual às vítimas de violência doméstica. Outra questão na mira, este ano, são os furtos a comerciantes na cidade, muitos deles mediante arrombamentos, e a propriedades na Zona Rural. “Nossa preocupação em 2023 é fazer melhor, com mais operações integradas entre as forças de segurança ”

66 homicídios em 2022

Série histórica de crimes violentos em Juiz de Fora nos últimos 10 anos, divulgada pela PM, contabiliza 66 homicídios em 2022 (até 27 de dezembro), contra 52 em 2019, antes da pandemia, um aumento de quase 27%. O número leva em conta apenas os óbitos ocorridos na hora, e não os falecimentos posteriores em hospitais. Em 2020 e 2021, considerados atípicos por causa da Covid, houve 54 e 40 mortes violentas, respectivamente. Já as tentativas de assassinatos tiveram queda de 15,6%, saindo de 96, em 2019, para 81 casos, no ano passado. Em 2020 e 2021, houve 79 e 68 ocorrências, nessa sequência.

Os crimes violentos no geral – que incluem também roubos, estupros, sequestros e cárceres privados – tiveram redução ainda maior, de 31,7%, caindo de 1.275 casos, em 2019, para 870, em 2022. Durante a pandemia houve 1.021 (2020) e 785 (2021) registros.

PM segue com bases móveis, após fechamento de postos

Apesar da repercussão em torno dos fechamentos dos postos policiais na cidade – como o de Benfica, em 2021, e o de São Mateus, em 2022 -, a PM vai continuar atuando com as oito bases de segurança comunitária. Atualmente, os equipamentos estão nos bairros Alto dos Passos e Ipiranga, na Zona Sul; Santa Cruz e Francisco Bernardino (em manutenção), na região Norte; Mariano Procópio, na área Nordeste; Manoel Honório e Avenida Sete de Setembro, na Zona Leste, além da unidade instalada na Rua Halfeld, no Centro.

“Os postos sempre foram referência para a comunidade, mas agora são as bases de segurança”, pondera o assessor de comunicação da 4ª Região da PM, major Jean Amaral. Segundo ele, a possibilidade de migração dessas estruturas de acordo com o comportamento criminal, aliada ao policiamento por motos, promove boa cobertura policial das regiões. “As bases atuam em pontos estratégicos, centros comerciais, grandes corredores e onde há muitas pessoas circulando a pé.”

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A PJF confirmou que o segundo andar do posto de São Mateus será ocupado pela Central de Monitoramento e Operações da Guarda Municipal, e no térreo funcionará um posto de atendimento avançado do Procon (Foto: Leonardo Costa)

Na última semana, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) confirmou que o segundo andar do posto de São Mateus será ocupado pela Central de Monitoramento e Operações da Guarda Municipal. Já no térreo, funcionará um posto de atendimento avançado do Procon. A inauguração está prevista para a segunda quinzena de janeiro.

Major Jean acrescenta que viaturas entregues pelo Estado no meio e no fim do ano, frutos de emendas parlamentares, incrementam a logística. Já os problemas de efetivo devem ser apaziguados com os novos soldados que foram designados para a região e com a expectativa de três mil novos policiais no estado em 2022.

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