JF pretende driblar desaceleração econômica e expandir setores em 2023

Tribuna conversou com representantes de comércio, indústria, turismo, bares e restaurantes sobre projeções para o ano que se inicia


Por Mariana Floriano, sob supervisão da editora Fabíola Costa

01/01/2023 às 07h00

A prefeita Margarida Salomão e o alto executivo da Ardagh, Henrik Bonne, na assinatura do documento para instalação de duas fábrica em Juiz de Fora (Foto: Divulgação/PJF)

Um cenário econômico desafiador aguarda o Brasil em 2023. Para este ano, as projeções indicam menor crescimento do Produto Interno Brasileiro (PIB), juros altos, perda de ritmo na economia mundial e endividamento das famílias brasileiras. O início de um novo Governo, com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de volta ao poder, deixa o mercado indefinido, mas, para Juiz de Fora, a expectativa dos setores é driblar a desaceleração econômica e crescer em 2023.

Em âmbito municipal, a articulação com o Governo federal tende a melhorar, como explica Ignácio Delgado, secretário de Desenvolvimento Sustentável e Inclusivo, da Inovação e Competitividade (Sedic). Para ele, o Brasil volta a ter credibilidade política, o que favorece a confiança do setor privado e a atração de investimentos internacionais. “Vamos assistir uma retomada importante dos investimentos públicos e uma sustentação da renda das famílias mais pobres com a preservação e até ampliação do Bolsa Família.”

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Ignácio aponta que a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) deve seguir com as linhas de ação já propostas em 2022, fortalecendo os setores da indústria e da tecnologia, além da geração de empregos. “Seguiremos com a política de elevar a atratividade da cidade para vinda de investimentos externos”, diz, citando a vinda das fábricas da multinacional Ardagh Group e das redes Tubarão e Assaí. “No próximo ano, pretendemos reforçar essas políticas com o programa ‘Juiz de Fora é o que importa’, trazendo empresas de importação e exportação, que vão se valer da localização estratégica da cidade e da presença de um porto seco.”

Haverá também foco nos Arranjos Produtivos Locais (APL) e no fomento de novas tecnologias, afirma Ignácio. “Além dos APLs têxtil-confeccionista, do Queijo Minas Caminho Novo e do cervejeiro, estamos trabalhando para que muitos outros venham. (…) Vamos intensificar as atividades em tecnologia, fruto da colaboração com o Parque Tecnológico da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), principalmente na área de novas energias. Em breve serão divulgados projetos de produção fotovoltaica e de resíduo sólidos.”

Por fim, quando questionado sobre a empregabilidade em Juiz de Fora, Ignácio Delgado afirma que a cidade tende a ter maior contratação este ano, uma consequência da atração de novas empresas. “A Prefeitura segue fazendo uma ponte entre as empresas e os trabalhadores. Algumas empresas procuram trabalhadores com qualificações específicas e nós estamos trabalhando nessa intermediação.”

Ignácio Delgado, secretário municipal de Desenvolvimento Sustentável e Inclusivo, da Inovação e Competitividade (Foto: Carlos Mendonça/PJF)

Endividamento como um dos maiores desafios

A economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG), Gabriela Martins, afirma que pesquisas têm apontado uma desaceleração econômica também para o estado. O endividamento, somado à alta da inflação, tende a atingir principalmente as famílias de baixa renda, que sofrem com a elevação de preços de itens básicos, como mercado e combustíveis. “A inflação corrói a renda dessas famílias, fazendo com que boa parte do orçamento fique comprometido pela compra de bens essenciais. Isso faz com que as pessoas busquem crédito por não conseguir suprir as necessidades no mês. O que gera um impacto direto no comércio, com menos renda disponível para bens supérfluos.”

O cenário agrava tendo em vista o aumento da taxa de juros. Com isso, setores que dependem da utilização do crédito, ou que demandam altos níveis de investimento, devem perceber maior dificuldade durante 2023. “O setor de serviços, por sua vez, tem grande perspectiva de manutenção de seu crescimento, sendo responsável, em 2022, por grande parte da movimentação econômica do país. Ele segue absorvendo uma demanda reprimida que surgiu devido a pandemia da Covid-19 e, por isso, se destaca no processo de retomada.”

Gabriela Martins, economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Foto: Divulgação/Fecomercio)

Comércio em busca da plena retomada

O presidente do Sindicato do Comércio de Juiz de Fora (Sindicomércio), Emerson Beloti, vê 2023 como um ano de retomada total do setor. “Em 2020 ficamos parados, 2021 e 2022 observamos alguns segmentos reagindo com muita força, mas outros vão esperar 2023 para realmente se reerguer.” De acordo com ele, a tendência é que, neste ano, novos empreendimentos se instalem em Juiz de Fora, principalmente na área de utilidades do lar.

Sobre o maior endividamento das famílias, Beloti concorda que o cenário é fruto da alta taxa de desemprego observada nos últimos anos. A expectativa, comenta, é de reversão em 2023. “A taxa de desemprego está em queda e isso implica no aumento dos salários, para não perder funcionários.”

De fato, no terceiro trimestre de 2022, o desemprego no Brasil atingiu o menor nível desde 2014, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Até novembro, a desocupação no país foi de 8,3%. Essa taxa representa queda de 0,8 ponto percentual em relação ao trimestre anterior. Conforme explica a economista Gabriela Martins, isso mostra que o mercado de trabalho já se recuperou da grande crise sofrida durante a pandemia. “A expectativa é que o mercado de trabalho se mantenha aquecido, recuperando fôlego perdido, e a taxa de desemprego se mantenha estável ou até mesmo venha a reduzir.”

Parceria entre indústrias para fortalecer a região

Já o principal objetivo da indústria em 2023, segundo o presidente da Regional Zona da Mata da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Heveraldo Lima, é incentivar o diálogo entre pequenas, médias e grandes empresas do setor na região. “A Fiemg quer consolidar parcerias para fortalecer a Zona da Mata. O intuito é que as pequenas indústrias possam vender seus produtos para as grandes e médias empresas instaladas em Juiz de Fora.”

Segundo Heveraldo, a indústria seguiu em crescimento ao longo de 2022 e pretende repetir o cenário neste ano. “Esperamos um grande crescimento principalmente no setor de alimentos. Temos a expectativa que, no ano que vem, o consumo esteja melhor, e a tendência é as empresas faturarem mais.”

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Mercado de eventos ganha fôlego

O setor de eventos viu o segmento avançar em 2022, após dois anos de idas e vindas por conta da pandemia. Como explica Thaís Lima, presidente do Juiz de Fora e Região Convention & Visitors Bureau, no último ano ocorreu um “boom” no mercado, devido à demanda reprimida. “Foi um ano para pagar contas, empréstimos e se restabelecer. E não um ano para se ganhar dinheiro”, afirma. De acordo com ela, a estimativa para 2023 é que o mercado cresça e retome o que era antes.

Thaís afirma que iniciativas plantadas em 2022, como a abertura do Museu Mariano Procópio e o Natal de luzes na cidade, colocaram Juiz de Fora em evidência e podem trazer mais turistas neste ano. “São ações que, se bem divulgadas, tendem a aumentar o turismo local. (…) Ainda estamos preparando para 2023 o Portal Visite Juiz de Fora, que, através de aprovação no edital da Secretaria de Cultura e Turismo de Minas Gerais, poderemos desenvolver o maior guia turístico para a população e os visitantes de Juiz de Fora.”

Bares e restaurantes esperam faturar 20% a mais

O setor de bares e restaurantes de Juiz de Fora fechou 2022 em alta. A Copa do Mundo, somada às confraternizações de fim de ano, levaram a um “verão antecipado”, como afirma Francele Galil, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes Regional Zona da Mata (Abrasel/Zona da Mata). O bom momento para o setor tende a continuar neste ano, mas sem a expectativa de uma “retomada total” ao cenário anterior à pandemia da Covid-19. “Não dá para falar em recuperação total, pois o nível de empréstimos contraídos para manter os negócios abertos durante a pandemia não é sanado em apenas um ano. Tais empréstimos têm a base de cinco anos para serem quitados, dependendo do tamanho do empreendimento, até dez anos.”

No entanto, como o movimento é bom, o faturamento de 2023 pode aumentar em até 20%. Fatores externos como a inflação, que pode deixar o preço dos alimentos mais caros, tendem a modificar também a base de custos ao consumidor. “Ao longo de 2022 os estabelecimentos seguraram o máximo possível a inflação nos preços, mas em 2023 não podemos garantir que isso vá acontecer, podendo ter um reajuste nos valores.”

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