Estudante da UFJF ajuda na descoberta de nova espécie de réptil pré-histórico

Fóssil foi encontrado em Santa Maria (RS), onde acadêmico fazia estágio


Por Letícia Lapa, estagiária sob supervisão do editor Marcos Araújo

11/12/2022 às 07h00

Para o estudante André, sua participação na descoberta é como se fosse uma confirmação vocacional, uma vez que ele gostaria de seguir na área da paleontologia (Foto: Arquivo Pessoal)

O estudante da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), André de Oliveira Fonseca, que cursa Ciências Biológicas, ajudou na descoberta de uma nova espécie de réptil pré-histórico. Em abril, ele iniciou o estágio na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, após entrar em contato com o Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (CAPPA), um dos maiores centros de paleontologia do país, local onde sempre sonhou estagiar.

No estágio, além da parte teórica, muitas atividades práticas como ir a campo e a sítios fossilíferos para escavações eram realizadas. Em um 31 de maio, aparentemente comum, aconteceu o achado do fóssil. Segundo André, sua equipe tinha ido deixar um colega na cidade de Agudo (RS), para ministrar um curso de comunicação científica, quando tudo ocorreu. “Enquanto esperávamos, visitamos um sítio fossilífero próximo. Ao explorar o local, meu orientador acabou achando o osso da coxa saindo do barranco”, conta sobre a descoberta. A confirmação de que era uma nova espécie veio quando eles limpavam o material, sendo notada uma série de características que o diferenciava de todos os demais proterochampsídeos.

PUBLICIDADE

Assim, o Stenoscelida aurantiacus havia sido descoberto. O estudante ajudou a retirar o material do solo, limpar e levar para o laboratório. O nome Stenoscelida vem do grego e significa perna delgada. Já aurantiacus, do latim, significa laranja por causa da coloração alaranjada do solo de onde o fóssil foi escavado. Segundo a pesquisa, o réptil tinha focinho alongado como o de jacarés e crocodilos. Um artigo foi publicado no “Journal of Systematic Palaeontology”, tendo um alto impacto na comunidade científica.

O estudante André foi um dos autores e conta que está muito feliz de ter participado da descoberta, sendo uma forma de confirmação vocacional para ele, que gostaria de seguir na área da paleontologia. “A descoberta de uma nova espécie implica em um maior conhecimento da biodiversidade de um ambiente, seja ela viva ou extinta. O Stenoscelida, além disso, tem uma anatomia peculiar que levantou perguntas sobre a locomoção de outros grupos, como os dinossauros”, ressalta o estudante sobre a importância da busca por fósseis.

Como os jacarés

De acordo com os pesquisadores, é estimado que o réptil tivesse, aproximadamente, 1,40m de comprimento, era carnívoro e andava sobre quatro patas, como os jacarés. Eles ainda concluíram que essa linhagem de répteis foi extinta durante o início da Era Mesozóica, não deixando descendentes. Um ponto que chamou a atenção dos pesquisadores foi o fato dessa espécie ter algumas características que não estavam presentes em outros membros desse grupo, como a forma de inserção e fixação de alguns músculos no fêmur, indicando que esses animais poderiam ter uma postura um pouco mais avançada para o estado evolutivo deles. O estudante André retornou à Juiz de Fora para terminar a graduação, mas pretende voltar para Santa Maria para realizar a pós-graduação.

O conteúdo continua após o anúncio

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.