Número de óbitos em Juiz de Fora é 14,6% maior do que o registrado antes da pandemia
Embora a taxa tenha desacelerado em comparação a meses mais críticos de contaminação, mortes por doenças respiratórias e do coração aumentaram
O número de mortes em Juiz de Fora ao longo dos últimos dez meses de 2022 foi 14,6% maior do que o registrado no ano anterior à pandemia. De acordo com levantamento inédito dos Cartórios de Registro Civil de Minas Gerais, 4.207 pessoas vieram a óbito este ano no município contra 3.671 mortes no mesmo período de 2019. Embora a taxa de falecimento tenha desacelerado em comparação a 2021, ano mais crítico da pandemia, os números continuam altos. As mortes por doenças respiratórias e do coração aumentaram 42,6% este ano na comparação com 2019. Segundo especialista, índice pode ter relação com as sequelas deixadas pelo coronavírus.
Com o aumento da vacinação contra a Covid-19, o número de mortes pela doença registrou queda expressiva. Entre janeiro e outubro deste ano, 267 pessoas morreram em razão do coronavírus. O número é 84% menor que o verificado em 2021, quando a cidade teve 1.636 óbitos, também considerando os dez primeiros meses daquele ano. Entretanto, o levantamento apontou que outras doenças começaram a registrar crescimento diferenciado, inclusive algumas relacionadas a sequelas da Covid.
Esse foi o caso de doenças respiratórias e cardiovasculares. No total, Juiz de Fora registrou onze casos de Síndrome Respiratória Aguda (SRAG) que vieram a óbito em 2022, sendo que em 2019 os cartórios da cidade contabilizaram duas mortes em razão da doença. Já a respeito de mortes por causas cardiovasculares inespecíficas, neste ano foram 260 óbitos e, no ano anterior à pandemia, 188. Além disso, 300 morreram por AVC este ano e, em 2019, foram 290, sempre tendo por base o mesmo período.
Para o infectologista Marcos Moura, o número elevado de mortes em comparação com o ano anterior a Covid-19 tem relação com a sobrecarga do sistema de saúde durante a pandemia. O médico destaca que, com a urgência e a alta demanda dos atendimentos a casos de coronavírus, os pacientes que passam por tratamento de doenças crônicas tiveram uma assistência ruim ou enfrentaram, até mesmo, desassistência. “A própria logística da pandemia, o isolamento social e a falta de atendimento médico para outras áreas acarretaram nas complicações dessas doenças.”
Além desse fator, o especialista também ressalta que a Covid prolongada, ou seja, as sequelas da doença causam uma descompensação das doenças crônicas. “Isso explica um maior número de internações motivadas por outras doenças e, consequentemente, um crescimento da mortalidade. O paciente que teve Covid e tem comorbidade tende a ter um desfecho desfavorável”, analisa Marcos.
O médico reforça a importância da ampliação do sistema de saúde para que os pacientes com doenças mais graves sejam acompanhados, evitando a alta taxa de mortalidade. O infectologista também orienta a população a completar o calendário de vacinação, incluindo as doses de reforço contra a Covid, para diminuir a circulação e o impacto da doença.
“Nós temos um legado ruim da Covid. Existe um passivo do aumento de pacientes com comorbidade após a Covid e esse paciente sem acompanhamento tende a ter complicações. Entendemos que pessoas que já têm outras doenças crônicas ou a saúde mais vulnerável, como pessoas imunossuprimidas, pacientes oncológicos e idosos, vão ter um potencial risco de gravidade e, consequentemente, óbito”, afirma o infectologista.
Na comparação com os números dos anos em que a pandemia estava mais crítica, os óbitos apresentaram diminuição de 20,9% em relação a 2021, que totalizou 5.320 óbitos, e aumento de 10,2% em comparação a 2020, quando foram registradas 3.817 mortes, considerando também o período de janeiro a outubro de cada ano. O presidente do Sindicato dos Oficiais de Registro Civil das Pessoas Naturais do Estado de Minas Gerais (Recivil), Genilson Gomes, avalia que os números dos Cartórios de Registro Civil mostram a realidade vivenciada pelos cidadãos mineiros. “Ainda que os casos de Covid-19 tenham diminuído, há o aumento de outras doenças cardiorrespiratórias, que podem ser causadas por sequelas do vírus. Com os dados coletados pelos cartórios, é possível pensar em políticas públicas para prevenção a essas doenças.”
Doenças que apresentaram queda na taxa de mortalidade
Os índices do município seguem o cenário estadual a respeito de algumas doenças, porém outras motivações de óbitos estão com percentuais mais elevados em Minas do que em Juiz de Fora, como as mortes por infarto, que totalizam 147 em 2022 e 163 em 2019.
Em 2022, as mortes por pneumonia e insuficiência respiratória foram, respectivamente, 667 e 278. Em 2019, o total de mortes pelas mesmas doenças foi mais elevado, 716 óbitos por pneumonia e 353 por insuficiência respiratória.