Chave do cofre

Antecipar a escolha do ministro da Economia tornou-se uma necessidade para dizer ao mercado qual é o projeto do Governo que vai assumir em janeiro de 2023


Por Tribuna

11/11/2022 às 07h00

O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin anunciou, nesta quinta-feira, mais uma leva dos nomes que farão parte da comissão de transição por ele chefiada. O juiz-forano Martvs das Chagas, atual secretário municipal de Planejamento do Território e Participação Popular, estará no grupo que tratará da questão envolvendo a igualdade racial. Tem expertise, uma vez que exerceu a Secretaria Nacional nos governos do PT, e acumula uma vasta experiência desde os tempos de militância à frente do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Os novos nomes não serão, necessariamente, ministros da gestão a ser inaugurada em janeiro de 2023, embora alguns deles sejam pule de dez no primeiro escalão de Lula. Ademais, mesmo com a possibilidade de aumentar o número de ministérios, o teto deve ser em torno de 22 pastas. O grupo de transição, como o próprio nome indica, tem como meta fazer a passagem de uma gestão para a outra. Nada mais do que isso, o que já é muito, sobretudo quando a mudança é abissal.

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Embora não fale ainda em ministros, o presidente eleito precisa, pelo menos, dar pistas de quem será o responsável pela chave do cofre, pois a economia é a peça-chave de qualquer administração. E é o que espera o mercado e até mesmo os parceiros internacionais. Uma simples declaração de Lula – sem anunciar o ministro – pode ter implicações no mercado. Nesta quinta-feira, ao criticar “essa tal de estabilidade fiscal”, quando questionou a necessidade de cortar gastos que inviabilizam programas sociais, as bolsas despencaram, acumulando perdas, e o dólar experimentou uma forte alta.

Com dois mandatos acumulados, Lula sabe da importância das palavras e da sua repercussão, sobretudo na economia. Antecipar o nome do ministro torna-se quase uma necessidade, a fim de apontar, de imediato, qual será o rumo da economia sob seu mandato.

Ao convidar economistas que atuaram diretamente na formulação do Plano Real, ele deu pistas de não ter o propósito de fazer um governo fechado entre os seus, o que é um avanço, principalmente por encontrar um país totalmente diferente do início do século e ter um Congresso indócil, no qual a direita ganhou um expressivo espaço nas duas casas – Senado e Câmara Federal.

Em 1992, o economista e marqueteiro James Carville criou o slogan “É a economia, estúpido!”, que acabou garantindo a vitória de Bill Clinton contra a reeleição de George Bush (pai), com base na percepção – correta – de que os norte-americanos estavam mais preocupados com crise econômica, preços altos e dificuldade em comprar imóveis do que com o triunfo americano na Guerra do Golfo.

Quando a economia vai bem, a democracia segue os mesmos passos, daí a importância de o presidente eleito fazer sólidas escolhas para uma pasta que, certamente, será o suporte de sua gestão e até mesmo dos programas sociais com os quais se comprometeu no curso da campanha.

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