Em novo livro, Ralf Georg Reuth mergulha na irracionalidade do nazismo

Publicado pela Todavia, “Breve história da Segunda Guerra Mundial” mostra como fanatismo de Hitler o levou ao êxito que antecedeu a derrota


Por Júlio Black

06/11/2022 às 07h00

Escritor, jornalista e historiador alemão tem diversos livros dedicados à Segunda Guerra Mundial e seus protagonistas (Foto: Divulgação)

A Segunda Guerra Mundial já foi tema de milhares de livros desde o seu encerramento, em 1945. Escritores e historiadores como Antony Beevor e Martin Gilbert, já publicados no Brasil, contaram em mais de 900 páginas, cada, as minúcias desse conflito, com mapas, fotografias, depoimentos de personagens famosos ou anônimos, entre militares, políticos e civis, além de livros dedicados a momentos específicos da guerra, como a “Batalha das Ardenas” e o “Dia D”, entre outros. Recentemente, a Todavia lançou no país mais uma publicação dedicada à Segunda Guerra: “Breve história da Segunda Guerra Mundial”, de Ralf Georg Reuth, que traz um recorte único para contar como se deu a maior catástrofe do século XX.

O jornalista, historiador e escritor alemão tem dedicado boa parte de sua vida e carreira a pesquisar o conflito. Além de uma tese sobre a estratégia alemã no Mediterrâneo durante a Segunda Grande Guerra, ele já havia escrito biografias sobre três dos principais nomes do nazismo: os monstruosos Adolf Hitler, Joseph Goebbels e Erwin Rommel, além de outros livros, como o dedicado à queda do Muro de Berlim.
Lançado em 2018, “Breve história…” é mais conciso (400 páginas) que os livros de Gilbert e Beevor, pois Reuth dá protagonismo em seu trabalho à irracionalidade de Adolf Hitler, desde os seus primeiros anos de protagonismo até seu suicídio, em 30 de abril de 1945, quando a capitulação da Alemanha era questão de dias, passando por eventos como a anexação da Áustria e dos Sudetos, a invasão da França e Polônia, o ataque à União Soviética e o extermínio de judeus. (O livro, na verdade, tem fim com a derrota do Japão após os Estados Unidos lançarem duas bombas atômicas contra o país, porém o foco da publicação está na irracionalidade e perversidade do nazismo, além dos incontáveis erros estratégicos de Hitler. Personagens como Churchill, Roosevelt e Stálin têm destaque na história, mas como coadjuvantes.)

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É possível afirmar que Hitler pode ter sabido aproveitar as oportunidades que as potências ocidentais deram para que a Alemanha voltasse a se erguer após o humilhante armistício da Primeira Guerra Mundial. Enquanto ele ignorava os termos de Versalhes e montava um poderoso exército, o mundo apostava na diplomacia para controlar o ditador alemão – além do sentimento de culpa pelo que foi feito à Alemanha após 1918. A anexação da Áustria e dos Sudetos teve apenas tímidas reprovações, e somente após a invasão da Polônia é que começou a haver uma mobilização efetiva, com a Inglaterra declarando guerra contra os alemães.

O Führer estava em posição privilegiada após conquistar a Polônia e derrotar a França, mas Hitler começou a pôr tudo a perder devido à sua visão irracional de mundo. Seu ódio aos judeus e ao comunismo fez com que invadisse a União Soviética em junho de 1941, mesmo que a Alemanha não tivesse como manter dois fronts.

Mas os delírios do ditador falavam mais alto: ele acreditava que os judeus foram os causadores da Primeira Grande Guerra e a todo momento falava que o “judaísmo internacional” e os “banqueiros” judeus preparavam uma nova “guerra entre as raças” (e aí de nada adianta argumentar que judeu não é uma “raça”), e que, aliados ao bolchevismo (comunistas), preparavam um exército para conquistar a Europa e dominar o mundo. A isso pode-se somar a crença da superioridade da “raça ariana”, que deveria assumir seu posto diante das “raças inferiores”.

Se Hitler soube aproveitar, no início, o fato de que ele ignorava as regras do jogo diplomático para conquistar praticamente metade da Europa em poucos meses, os seus delírios de grandeza, a crença na “Providência” e erros crassos de estratégia fizeram com que a guerra estivesse perdida para a Alemanha já por volta de 1941. Ao invés de parar enquanto estava em vantagem, ele permaneceu em sua postura irracional de lutar até o último combatente, pois sua crença numa grande conspiração judaica, o ódio aos judeus e ao comunismo e na superioridade ariana eram mais fortes.

Além disso, Hitler acreditou até o fim num possível acordo com a Inglaterra, que poria fim ao conflito no lado oeste da Europa, podendo assim se concentrar apenas no confronto a leste com o Exército Vermelho. Como os ingleses nunca aceitaram qualquer negociação, o monstro alemão ainda teve que encarar outra figura que não se importava com a realpolitik: Joseph Stálin, que estava menos preocupado com a sobrevivência do comunismo que com o aumento de influência e poder dos soviéticos na esfera global.

Em “Breve história da Segunda Guerra Mundial”, Ralf Georg Reuth consegue sintetizar nas 400 páginas de seu livro toda a trajetória de ascensão e queda de Adolf Hitler, da Alemanha e do nazismo. Trata-se de um trabalho de vulto para entendermos a irracionalidade e estupidez de uma ideologia, além de servir de alerta para os tempos atuais, em que a extrema-direita perdeu a vergonha de mostrar sua verdadeira face.

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