Atenção redobrada

O período das chuvas cria condições para a proliferação de doenças, como a dengue; combater o mosquito transmissor é uma demanda que não pode ficar em segundo plano


Por Tribuna

27/10/2022 às 07h00

A pandemia do coronavírus, que virou o mundo de ponta-cabeça, especialmente em 2020 e 2021, e ainda com fortes repercussões em 2022, tirou de cena ações e discussões em torno de outras endemias que têm forte repercussão na população. Um levantamento divulgado pelo Ministério da Saúde aponta que o número de casos de dengue no Brasil subiu quase 185% entre janeiro e outubro deste ano na comparação com o mesmo intervalo de tempo do ano passado, alcançando a marca de 1,3 milhão de notificações.

Pelos mesmos dados, neste período, foram registradas 909 mortes. Os casos de Chikungunya também tiveram um aumento expressivo, de 89,9%, em relação a 2021, somando 168,9 mil notificações. Em relação à Zika, houve elevação de 92,6% em 2022. Essas doenças, que podem levar a óbito, são transmitidas pelo Aedes aegypti.

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Com a volta do ciclo das águas, começam a ser formadas as condições ideais para a proliferação do mosquito, que tem a água como sua principal base. É fato que no período agudo das chuvas ele não se reproduz em grande escala, mas o pós-chuva é preocupante, sobretudo pelo comportamento coletivo, que deixou tais doenças em segundo plano.

Embora as recomendações partam diretamente da Organização Mundial de Saúde, os organismos estaduais e municipais precisam retomar as campanhas de alerta, a fim de destacar que o país – a despeito das fases mais agudas – ainda não está infenso a ação do Aedes. Dengue, Chikungunya e Zika não têm antídotos, como o coronavírus, cuja incidência despencou pelo mundo afora graças à vacinação em massa da população.

Contra elas é possível estabelecer um enfrentamento mais intenso desde que a própria população se comprometa a tomar decisões simples, mas eficazes. A principal orientação é eliminar água parada em locais que podem se tornar criadouros. Os organismos sanitários alertam para outras ações que podem ser efetivas pelo menos uma vez por semana, mas suficientes para criar condições contra o mosquito.

Há um grande paradoxo no processo de combate à contaminação. Em tempos de informações em tempo real e de conectividade nas mais diversas instâncias sociais, tais medidas têm baixa relevância, embora se saiba das consequências. A dengue, especialmente, não é uma simples doença de febres e dores no corpo. Ela também mata, e é preciso deixar isso muito claro. Com simples medidas é possível reverter essa curva e afastar de vez mais um processo que compromete a saúde da população.

Quando da fase mais aguda da pandemia de Covid, a rede hospitalar entrou em colapso ante a excessiva demanda de pacientes, mas é vital lembrar que, anos antes, também houve problemas quando uma massa infindável de pacientes buscava os hospitais para se medicar contra a dengue. É possível evitar a repetição de tais cenas, quando os hospitais têm um expressivo elenco de atendimento, sobretudo na área eletiva, que fica em segundo plano em tempos de emergência.

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