Roça Nova lança nesta sexta-feira o single “Conversa pra boi dormir”

Com apenas dois anos de atividade, a banda Roça Nova tem feito bonito. Depois de lançar, no início do ano passado, o álbum “Tramoia” – que, segundo o grupo, já alcançou as 250 mil audições no Spotify -, foi a vez de ser escolhido, este ano, entre 600 bandas para tocar no palco principal do João Rock, festival que contou com nomes como Planet Hemp, Djonga e Criolo.

Agora, o sexteto formado por Pedro Tasca (voz e violão), João Manga (bateria e voz), Marco Maia (guitarra), Tiago Croce (viola e guitarra), Hector Eiterer (baixo) e Bernardo Leitão (percussão) se inspirou em nomes como Audioslave, Naná Vasconcellos, Chico Science & Nação Zumbi e Sepultura para indicar novos caminhos artísticos com o single “Conversa pra boi dormir”, que chega aos serviços de streaming musical na próxima sexta-feira (28), acompanhado por videoclipe que poderá ser assistido no canal da banda no YouTube.

Composta a dezesseis mãos por Rodrigo “Jaca” Flávio, Flávio Albano, Bernardo Leitão, Leonardo Leitão, Marcellus Emerick, João Luiz “Boca”, Izidoro Valadão e Ryner Felipe Lacerda, a música mantém as influências regionais da Roça Nova, porém com elementos extremos do rock mais evidentes, de acordo com a banda. Quanto às letras, os versos desconexos e surreais narram de forma implícita as distopias da manipulação em massa, satirizando o efeito manada que transforma os homens em bois.

“‘Conversa pra boi dormir’ foi criada em meados de 2002 pelos nossos amigos da banda Lona Preta, de Manhuaçu”, conta Bernardo Leitão. “É uma síntese de ideias entre o Rodrigo Flávio, que chegou com a base violão pronta, somada aos versos lúdicos e incandescentes escritos por mim – que faço parte das duas bandas -, João Luiz, Marcellus, Ryner e Leonardo. Anos depois, entre 2020 e 2021, quando a Roça Nova já estava fazendo suas apresentações e o contato e parceria com os membros do Lona Preta era mais efetivo, ocorreu essa epifania de que essa obra lúdica e atemporal refletia fortemente o contexto sociopolítico que estamos submersos, tornando a interpretação desta para os dias atuais.”

Hector Eiterer acrescenta que a Roça Nova já vinha trabalhando em uma versão concisa da canção, assim como “Espírito seco” e “Rural’, que foram lançadas no “Tramóia” e que também são composições dos seus “irmãos de Manhuaçu”. “‘Conversa pra boi dormir’ foi nos contagiando com sua característica única e visceral, uma vez que ela remete às demais distintas influências dos integrantes da Roça”, explica. “Em uma conversa, analisando todo o contexto que estávamos vivendo – o pós-pandemia e seus efeitos colaterais por uma gestão distorcida e toda dificuldade não só artística, mas universal que fomos incumbidos -, engatilhou a necessidade de produção e registro dessa canção como um ato de expressar, da nossa forma, toda insatisfação e apelo por mudanças emergentes e objetivas.”

“Analisando um panorama geral do país, é não só oportuno como necessário levantar bandeiras e expor alguns ideais de forma clara, ainda que lúdica”, pontua Tiago Croce sobre o fato de a música ser lançada às vésperas do segundo turno da eleição presidencial. “Vivemos, talvez, a maior turbulência sociopolítica do país desde o retorno da democracia, e muito disso se deve a um estado de transe coletivo induzido por uma máquina de mentiras, levando uma parcela do povo a se comportar, sob a nossa ótica, como uma boiada que segue feliz e contente para o abate. Sendo a arte indissociável da política, o momento (e a história) reflete perfeitamente a temática da faixa.”

“Uma obra mais ácida”

Para quem possa estranhar essa variação em termos de letra e melodia, Tiago reconhece que, no aspecto musical, o formato é um pouco diferente do que a banda já apresentou. “A começar por se tratar de uma faixa mais extensa, com momentos (ou atos) bem distintos entre si”, diz. “A acidez da letra acaba sugerindo os caminhos que o instrumental toma, construindo uma obra mais ácida e agressiva em relação aos trabalhos anteriores, saindo um pouco do nosso caipigroove e explorando novas vertentes. Outra questão é a instrumentação: para essa canção, o violão abre espaço e as harmonias e melodias ficam por conta de duas guitarras, dando ao som um corpo mais distorcido e totalmente conveniente à letra.”

“O single é o primeiro lançamento da Roça Nova após o disco ‘Tramóia’, que pode sim introduzir os próximos trabalhos de estúdio que estamos estruturando”, acrescenta Hector. “Temos a expectativa de que estaremos com a ideia do segundo disco consolidada ainda neste semestre. Até lá, a meta é expandir a mensagem da Roça com a nossa tão esperada turnê.”

Além do lançamento nas plataformas de streaming, “Conversa pra boi dormir” poderá ser conferida no formato audiovisual, por meio do canal da Roça Nova no YouTube. “O clipe foi gravado em setembro, enquanto ainda estávamos na produção da música em estúdio”, conta Marco Maia. “Ele foi dirigido por Pedro Quírion e produzido por mim e Vitória Vargas na cidade de Liberdade. A intenção provém da visceralidade existente em cada um de nós. Uma fuga da materialidade, que nos leva a nossa forma mais basal, animalesca. Ainda que o viés visual tangencie à obscuridade, nada mais apropriado para ambientar a humanidade em seu momento presente.”