Jogo de cintura

Futuro presidente da República – em decorrência do Congresso que emergiu das urnas do dia 2 de outubro – terá que negociar com 1/3 do Parlamento para conseguir maioria em plenário


Por Tribuna

09/10/2022 às 07h00

Como é próprio das campanhas eleitorais, os candidatos aos postos legislativos são vistos como coadjuvantes, deixando para os nomes que disputam a Presidência da República ou o governo dos estados o papel mais assertivo. Trata-se de uma contradição, pois, num presidencialismo de coalizão, o Congresso tem importância vital para o próprio Governo, sobretudo quando não tem maioria suficiente para alavancar seus projetos.

Na última sexta-feira, o portal G1 apontou que, seja Lula seja Bolsonaro, o próximo presidente da República vai assumir o cargo sem maioria no Congresso, tendo como base a formatação resultante das urnas do dia 2 de outubro. Partidos que apoiam o candidato do PT no segundo turno têm, até hoje, 28% das cadeiras da Câmara Federal e 20% das do Senado. O presidente atual tem uma proporção melhor – 37,6% na Câmara e 31% no Senado -, mas também insuficiente para implementar sua pauta. Qualquer um dos dois terá que negociar com 1/3 do Parlamento.

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E é aí que entra a questão. Polarizada desde o início, a campanha deve produzir uma legislatura também polarizada, a partir de 2023, pois os dois grupos têm agendas totalmente distintas, o que sinaliza para impasses permanentes. Se a economia estiver em crise, a situação tende a se agravar mais ainda.

O Centrão, que conhece os meandros da política, de novo, deve ser o ponto de equilíbrio nas votações, pois, além de ter uma expressiva bancada, não é preso a agendas ideológicas, a despeito de estar, hoje, no campo mais conservador da política. Seus dirigentes são pragmáticos, bastando acompanhar a própria trajetória do grupo, que já fez parte de todos os governos após o retorno das eleições diretas.

Os presidentes Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro, em algum momento de sua gestão, tiveram que acolher o grupo. A diferença ficou no modo como foi estabelecida a relação, mas o Centrão estava lá, e, quando percebeu mudança nos ventos, desembarcou, como ocorreu, sobretudo, na presidência de Dilma Rousseff culminando com a cassação de seu mandato.

Quem for eleito no dia 30 de outubro vai precisar de jogo de cintura para garantir a aprovação de matérias e a própria governabilidade, pois ninguém é ingênuo para considerar que, diplomados os eleitos e dada a posse aos vencedores, o país vai zerar suas relações. Os grupos de poder que surgiram das urnas vieram para ficar, o que implica tensões permanentes dentro e fora do Congresso, com menor extensão nas assembleias legislativas e nas câmaras municipais. Nestas, porém, a tendência é de subida da temperatura, pois, daqui a dois anos, prefeitos e prefeitas, vereadores e vereadoras serão a bola da vez.

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