Fracasso anunciado

Discurso pelo voto útil é a comprovação do fracasso dos partidos que fizeram poucos esforços para viabilizar a terceira via


Por Tribuna

23/09/2022 às 07h00

Os candidatos Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) têm queimado energias para conter o discurso do voto útil que tomou contas das redes sociais e foi até aferido pelo Datafolha, dessa quinta-feira. O instituto indagou se o eleitor trocaria seu candidato para apoiar um dos dois ponteiros na pesquisa eleitoral, no caso Lula e Bolsonaro, pela ordem. O ex-governador e a senadora garantem que vão até o fim, mas acusam o golpe ao criticar aliados que viraram dissidentes e, no caso de Tebet, até seu próprio partido, uma vez que vários emedebistas já desceram do seu palanque.

Esse processo não é novo na política. O eleitor é convidado a votar em candidatos com chances de vitória. Trata-se de um grande apelo que geralmente só não afeta aqueles engajados e ideologicamente identificados com determinadas candidaturas. Os demais, certamente, vão avaliar a reta final da campanha para definir o voto.

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Ao fim e ao cabo, o voto útil ora em discussão é a prova material da ineficiência dos próprios partidos em não viabilizar uma terceira via a despeito da rejeição dos candidatos à frente das pesquisas. Por erro de estratégia ou até mesmo ego, pois ninguém abriu mão de suas candidaturas, o caminho do meio não foi ocupado.

Na sua quarta tentativa, Ciro Gomes cometeu os mesmos equívocos de outros pleitos ao fazer um discurso voltado para a desconstrução dos oponentes em vez de se apresentar como a opção ideal para o país. Ele tem boas ideias, mas as explicita de forma incompreensível para a maioria dos eleitores e ainda se perde pela língua afiada.

A senadora entrou tarde na disputa e não teve o respaldo pleno do MDB. O partido, que já ocupou postos importantes na República, tornou-se um arremedo dos tempos do bipartidarismo e caiu na trincheira comum das legendas que atuam mais voltadas para interesses dos próprios grupos do que para um projeto de poder. Simone não está sozinha. O MDB de Minas também não tem palanque e tirou de pauta um projeto de disputar o Governo do estado. Simone, certamente, pode ser um player em 2026.

A discussão em torno da terceira via chegou a ser ensaiada pelo PSDB, partido que ocupou o Planalto por dois mandatos, com Fernando Henrique Cardoso, e esteve próximo com o deputado Aécio Neves. O partido se perdeu em meio ao embate interno entre o representante mineiro e o ex-governador de São Paulo João Doria, que foi apeado pela própria legenda, embora tenha sido aprovado em uma prévia para disputar a Presidência. Os tucanos também saíram do protagonismo que tiveram na cena nacional.

Com dois ponteiros nas pesquisas e sem chances de um tertius, o eleitor, convidado ao voto útil, tem uma semana para decidir. A lição a ser tirada está no preço pago pelos partidos que não abriram mão de seus projetos em nome de uma candidatura única e agora penam, também nas suas bases regionais, pois só agora perceberam que a polarização nacional se espalhou pelos estados.

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