Museu Marino Procópio reabre as portas parcialmente para visitação

Galeria Maria Amália do Mapro reabre para visitação nesta quarta, com estreia de exposição comemorativa aos 200 anos da Independência


Por Júlio Black

07/09/2022 às 07h00- Atualizada 15/09/2022 às 14h30

“Rememorando o Brasil” é a exposição que marca a reabertura parcial do Mariano Procópio (Foto: Leonardo Costa)

Quase 30 meses se passaram desde que o Museu Mariano Procópio precisou fechar as portas da Galeria Maria Amália devido à pandemia de Covid-19. Nesse período, o museu recebeu apenas pesquisadores e grupos universitários, além de seguir com os serviços de preservação de seu acervo e de restauro da Villa Ferreira Lage. Agora, um dos mais queridos equipamentos culturais de Juiz de Fora reabre para visitação do público a partir desta quarta-feira (7), com a abertura da exposição “Rememorar o Brasil: a independência e a construção do Estado-Nação”, em celebração aos 200 anos da Independência do Brasil, comemorados no mesmo dia.
Para a reabertura, o Museu Mariano Procópio vai funcionar das 9h às 16h, sendo necessário retirar uma senha na entrada localizada na Rua Dom Pedro II, no Mariano Procópio. Segundo a assessoria da Fundação Museu Mariano Procópio (Mapro), o Corpo de Bombeiros estipulou que a Galeria Maria Amália pode receber até 150 pessoas ao mesmo tempo. Após a reabertura, o museu vai funcionar de terça a sexta-feira, das 9h às 16h, e sábados, domingos e feriados do meio-dia e meia às 16h. A entrada é gratuita.
Esta pode ser considerada a segunda reabertura da Galeria Maria Amália, localizada no prédio Mariano Procópio. A primeira aconteceu em 2016, quando o edifício foi reformado e o museu pôde ser reaberto parcialmente, pois a Villa Ferreira Lage ainda estava em meio às obras de restauro. Durante entrevista na manhã desta terça-feira (6) para a Rádio Transamérica, a prefeita Margarida Salomão falou sobre a reabertura, e antecipou uma notícia muito aguardada pelo público: a reabertura completa do museu até 2023. De acordo com ela, o segundo andar da Galeria Maria Amália deve ser entregue até dezembro, enquanto que a Villa Ferreira Lage estaria pronta para o início do próximo ano, com a expectativa de que isso aconteça em março.
“Recebemos o museu, infelizmente, com muitos problemas, e estamos nesse processo de retomada. Quero ressaltar a importância da diretora do Museu Mariano Procópio, Maria Lúcia Ludolf de Mello, que foi uma lutadora incansável para que isso acontecesse. (A reabertura) era um compromisso nosso de campanha, é um absurdo que um dos museus mais importantes do Brasil, com um acervo tão precioso, estivesse há tantos anos fechado”, critica.
“Houve alguns períodos nesses 15 anos em que se abriu para alguma coisa, para visitas muito restritas, mas não havia a exposição de todo o acervo. Estamos muito felizes em poder reabrir o museu, de poder tê-lo como um elemento do desenvolvimento turístico da cidade. Esperamos ter muitos visitantes estudando esse acervo, e não há forma mais bonita de se celebrar o bicentenário da Independência”, comentou Margarida sobre a reabertura parcial do Mariano Procópio.

Mais de um século de história

De acordo com a assessora de comunicação do Museu, Alice Costa Ferreira, entre as melhorias realizadas no período está a troca do filtro do lanternim, que deixa entrar menos luminosidade e diminui o desgaste das peças, em especial os quadros. Para a exposição comemorativa, ela destaca a apresentação de peças que não são vistas pelo público há pelo menos 15 anos. “A mostra será apresentada de forma cronológica, começando com o período da família real portuguesa no Brasil (quando a colônia foi elevada à condição de reino) e passando pelo Brasil Império _ com o Primeiro e Segundo reinados _ até chegar ao Brasil República”, explica.
Do período de Dom João VI no Brasil, estarão expostas a cadeira do beija-mão, um leque comemorativo da chegada da família real ao Brasil e documentos e medalhas. É neste espaço que também estará em exposição o quadro “Tiradentes esquartejado”, de Pedro Américo, para lembrar dos movimentos de independência anteriores ao 7 de setembro de 1822.
Entre as peças representativas do Primeiro Reinado estão um capacete da guarda de Dom Pedro; serviços de porcelana, entre eles comemorativos da Independência e também outros que pertenceram à imperatriz Leopoldina e à amante do imperador, a marquesa de Santos. “Outros itens são os móveis que pertenciam ao Palácio de São Cristóvão (atual Museu Nacional, que perdeu quase todo seu acervo com o incêndio de 2018) e foram adquiridos por Alfredo Ferreira Lage com o leilão realizado após a Proclamação da República, com o banimento da família imperial”, diz o supervisor de museologia do Mapro, Eduardo Machado. “Algumas dessas peças vieram com a família real portuguesa, no início do século XIX. Também temos desse período uma medalha que traz o texto da primeira Constituição do Brasil no seu interior, e algumas insígnias, como a Ordem de Dom Pedro I, que pertenceu ao Duque de Caxias, e as ordens do Cruzeiro do Sul e da Rosa.”

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As velhas roupas do imperador

Na parte dedicada ao Segundo Império, um dos destaques são dois fardões que pertenceram a Dom Pedro II e foram adquiridos por Alfredo Ferreira Lage em 1926. Um deles é o da sua cerimônia de maioridade, aos 14 anos, e a outra de sua cerimônia de casamento com a imperatriz Teresa Cristina, quando tinha 18 anos. Outras peças do período são os serviços de caça em porcelana e um elemento que ficava em cima do brasão imperial da galhota que trouxe Teresa Cristina para o casamento com o segundo e último imperador do Brasil.
A crise da monarquia e o movimento pela abolição da escravidão também são lembradas, com medalhas dos movimentos abolicionistas do Ceará e da Bahia e uma medalha maçônica com a efígie do Visconde do Rio Branco referente ao movimento do ventre livre, entre outras. “Outro item é uma medalha de 1894 comemorativa à Proclamação da República”, ressalta Eduardo.
Entre aquelas curiosidades que valem a visita está um quadro de Dom Pedro II que ficava no palácio do Governo do Pará, que foi oferecido pelo imperador por não poder participar de um evento na ocasião. “Quando houve a Proclamação da República, um dos participantes do movimento republicano deu um tiro no quadro, que foi pintado por Rocha Fragoso. Alfredo Ferreira Lage comprou a obra e quando ela foi restaurada, em 2006, mantiveram a marca do tiro.”
A exposição do Mariano Procópio também lembra as quatro visitas feitas por Pedro II a Juiz de Fora, com destaque para a primeira, em 1861, para a inauguração da estrada União-Indústria. Ele retornaria à cidade em 1869, 1878 e 1888. Um desses registros é a foto do imperador às margens do Rio Paraibuna. Por fim, é possível ver uma ampliação da última foto feita pela família em Petrópolis antes da queda do Império.

A jovem República

O final da exposição é dedicado às primeiras décadas do Brasil republicano, incluindo medalhas retratando os presidentes da Primeira República, que vai de 1889 a 1930. “Esse período também foi marcado pela busca da criação de mitos, entre eles Tiradentes, que era retratado como um herói e cuja imagem tentaram aproximar à de Jesus Cristo”, explica Eduardo, destacando a maquete em gesso feita por Modesto Kanto e a reprodução do quadro de Pedro Américo. “Foi também uma época em que tentaram se reaproximar do império.”
Também há uma parte dedicada à inauguração da Galeria de Belas-Artes, em 1922, que posteriormente foi rebatizada como Galeria Maria Amália. “O público poderá ver a planta baixa da construção e a chave feita para inauguração da galeria, além de plaquetas comemorativas à inauguração do Museu Mariano Procópio, em 1921, e uma medalha do museu em comemoração ao centenário de Dom Pedro II, de 1925.” Entre as fotografias da época estão duas referentes a uma visita da extinta família imperial a Juiz de Fora, incluindo o conde d’Eu, e do ex-presidente Getúlio Vargas ao Museu. “Este legado que o Alfredo Ferreira Lage deixou para o município pertence a todas as pessoas, que vão poder conhecer a história e pensar no país atualmente”, afirma Eduardo Machado.

 

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