Aviso aos partidos

Curva histórica de filiados continua baixa, sobretudo em Juiz de Fora, cidade com fortes tradições políticas nas últimas décadas


Por Tribuna

14/09/2022 às 07h00

O excessivo número de legendas tem reflexos imediatos no próprio interesse político, pois o eleitor, a despeito de ter mais opções, suspeita que nem todas as legendas são formadas pelo viés ideológico ou programático. Um expressivo número serve apenas para abrigar candidaturas e ganha mais espaço no período eleitoral. Depois disso, sai de cena à espera do próximo pleito. Por isso, quando apenas 8,3% dos eleitores registrados têm filiação partidária, não há surpresa. Há uma clara resistência ao atual modelo, bastando fazer comparações com outros períodos, mesmo sem a presença das redes sociais, que mudou o tom da política.

Além disso, legendas históricas passam por uma clara desidratação, embora continuem fortes no cenário nacional, como é o caso do MDB, cuja capilaridade pelos estados ainda o coloca à frente das demais legendas. Na edição de terça-feira, a Tribuna mostrou levantamento elaborado pelo repórter Renato Salles, no qual apenas 10%, em média, dos inscritos nos colégios eleitorais são filiados. Por isso, mesmo liderando as estatísticas, o MDB deixou de ser um dos principais players da política tanto na cidade quanto no estado. Lidera nos números, mas num quadro de adesões bem aquém de todas as expectativas.

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O mesmo raciocínio serve para outras legendas históricas, como o PSDB e o próprio PT, que em Juiz de Fora reduziu seus quadros. Os tucanos, como os emedebistas, estão apartados do comando do estado desde a gestão Antonio Anastasia. O ex-deputado Marcus Pestana tenta resgatar o prestígio da legenda, disputando o Governo de Minas, mas ele próprio já admitiu que talvez seja a hora de buscar novas parcerias e formatar um partido com os princípios da social democracia que levaram o partido ao comando do país nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso e no estado com Anastasia e Aécio Neves.

Dados são importantes não apenas para a tomada de decisão, mas também para a avaliação de cenários. A matéria dessa terça-feira foi emblemática ao mostrar para os próprios políticos o descontentamento das ruas, que preferem ir às urnas desgarradas de uma filiação, por entender, sobretudo, que os partidos já não cumprem mais os seus programas, atuando mais sob o viés do jogo de oportunidades.

As muitas discussões em torno da reforma política esbarraram no corporativismo dos partidos, que resistem a mudanças. Quando muito, aceitaram mudanças pontuais, como percentuais em torno do quociente eleitoral e fim das coligações como uma cláusula de barreira, mas a redução drástica do número de legendas ficou apenas no papel. O Congresso Nacional é pródigo nesse aspecto, mas os números são bem maiores quando começa o período eleitoral, pois outro tanto, sem representação no Parlamento e, por isso mesmo, sem espaço na propaganda eleitoral, aparece.

O grave desse enredo é que muitos desses partidos são de mera conveniência, ora para abrigar candidaturas que não tiveram espaço em outras siglas, ora para cumprir articulações de seus “donos”, que fazem deles um mero instrumento de negociação com a intenção de cargos nas instâncias de poder ou até mesmo vantagens, algumas delas distante do viés republicano.

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