Cleber Soares lança livro sobre Assis Horta

Evento acontece nesta quinta-feira no Forum da Cultura; publicação conta a trajetória de um dos nomes mais importantes da fotografia brasileira


Por Júlio Black

11/08/2022 às 07h00

Assis Horta foi um dos primeiros fotógrafos a registar a classe operária brasileira, em especial os trabalhadores negros, no mesmo ambiente da elite burguesa (Foto: Reprodução)

Referência na história da fotografia no Brasil, o mineiro Assis Alves Horta (1918-2018) tem sua trajetória contada no livro “Assis Horta – Um fotógrafo popular”, de Cleber Soares, que será lançado nesta quinta-feira (11), às 19h, no Forum da Cultura. Desdobramento da dissertação de mestrado de Cleber no programa de pós-graduação do Instituto de Artes e Design (IAD-UFJF), a publicação tem o apoio do Programa Cultural Murilo Mendes, da Funalfa.

Segundo Cleber, a dissertação de mestrado é fruto de três anos de pesquisas e foi defendida em 2019, cerca de um ano depois da morte de Assis Horta, que foi um dos primeiros fotógrafos a registrar, ainda na década de 1940, os primeiros retratos de trabalhadores brasileiros – em especial os negros – em fotografias dignas de estúdio, num espaço que era ocupado até então apenas pela sociedade burguesa. “Os registros fotográficos de Assis Horta são fundamentais para o estudo sociológico e cultural de Minas Gerais e do Brasil. Além dessa importância histórica, as fotografias são belos registros do nosso povo e da nossa região”, argumenta Cleber, formado em design gráfico na Escola de Belas Artes (EBA) da UFRJ.

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“Trabalhei muito tempo usando imagens, fotografias, e eu sempre fui interessado em fotografia, cinema, em entender o uso da luz, o ângulo. Era um interesse tanto artístico quanto profissional, de saber qual o recorte para uma cena”, diz, acrescentando que fez a graduação em design por volta dos 20 anos e que se mudou para a Juiz de Fora por causa do mestrado. “Eu me inscrevi em uma matéria isolada que discutia algumas relações entre a arte e o cotidiano, e nesse curso tive contato com alguns textos, um deles do historiador da arte Thierry de Duve, que discutia qual o valor da fotografia na história, no mercado da arte, se isso (fotografia) seria arte, um objeto de arte ou só um registro cotidiano.”

Vida e obra

Com o texto ainda na cabeça, ele acabou por ler uma matéria sobre uma exposição de Assis Horta em Brasília, e começou a se questionar se o trabalho do fotógrafo poderia ser visto como uma obra de arte. “Isso se desdobrou no mestrado e, depois, na ideia de fazer o livro, e a questão se isso seria arte ficou meio que perdida nesse apanhado de informações sobre a vida dele, a relação com a família, sua terra natal, o fato de não ter tido uma educação formal e ter sido um autodidata, o seu trabalho no Iphan – que, com suas fotos de Diamantina, sua terra natal, permitiu que a cidade fosse tombada pela Unesco -, o convívio com os intelectuais da época. Consegui fazer uma entrevista com ele quando tinha 97 anos, e o livro acaba por ser um apanhado dessa coisa toda.”

“Assis Hora – Um fotógrafo popular” é visto por Cleber Soares como uma atualização da pesquisa de mestrado, pois descobriu muitos fatos da vida de Assis Horta depois de encerrado o projeto acadêmico, além de outros pontos que poderiam se conectar ao trabalho do fotógrafo. “Por exemplo, descobri no Museu Mariano Procópio fotos de negros do século XIX que serviram de comparação com o trabalho do Assis Horta. O livro é um resumo da dissertação, em que busquei tirar o academicismo para facilitar o entendimento.”

“Valor inigualável”

Por fim, Cleber comenta a importância de Assis Horta para a fotografia brasileira e como ajudou a entender a essência da população brasileira. “Um ponto é a raridade desse tipo de imagem. Isso não quer dizer que foi o único que fez fotos de pessoas negras em estúdio, nos ambientes da elite, mas é tão raro que a obra dele passa a ter um valor inigualável. Não dá para entender esse período do Brasil sem analisar o trabalho do Assis Horta. Era uma necessidade daquele ser humano retratado de se autoafirmar perante a sociedade; há historiadores que falam do trauma da escravidão ter dispersado as famílias, ter que recomeçar por tudo, e os registros contam essa necessidade. Ao mesmo tempo, você tem a noção de que essas vidas foram silenciadas, porque essas fotos eram raras ou porque não interessava aos historiadores e museus preservar essas imagens, pois o Brasil vive tentando ignorar esse passado ou até mesmo cometendo a besteira de dizer que a escravidão teria sido boa para essas pessoas.”

“É preciso lembrar que esses operários estavam lutando para ter uma representatividade social”, prossegue. “Hoje falamos sobre ocupar espaços, e essas pessoas negras estavam fazendo isso nos anos 40, ocupando espaços onde não eram bem-vindas, e o Assis Horta foi um dos fotógrafos que permitiram isso de forma digna, carregou para o estúdio essas pessoas a fim de fazer fotos dignas.”

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