Preço do etanol diminui menos que o esperado em Juiz de Fora
Governo de Minas reduziu alíquotas de ICMS sobre o combustível, mas queda nos postos juiz-foranos ainda é discreta
A redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) do etanol em Minas Gerais, anunciada pelo governador Romeu Zema (Novo) na segunda-feira (18), já causou impacto no preço do combustível cobrado nos postos de Juiz de Fora. Entretanto, a queda, em média, ainda não chega aos R$ 0,35 projetados pelo Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo do Estado de Minas Gerais (Minaspetro) após o anúncio do Governo de Minas Gerais.
A Tribuna percorreu, na manhã desta quarta-feira (20), 24 postos de diferentes regiões da cidade para monitorar os valores cobrados pelo álcool. Em média, o custo do litro do etanol verificado foi R$ 4,44, uma redução de R$ 0,13 em relação ao valor médio encontrado em pesquisa da Agência Nacional do Petróleo (ANP) na última semana com os estabelecimentos juiz-foranos, que foi R$ 4,57.
Dessa forma, a queda, ao menos momentaneamente, acontece de maneira discreta frente às projeções de diferentes entidades mineiras. A Secretaria de Estado de Fazenda chegou a calcular redução de R$ 0,47 no preço do litro do etanol com impacto de R$ 900 milhões na arrecadação anual do Governo estadual. A Associação das Indústrias Sucroenergética de Minas Gerais (Siamig) projetou entre R$ 0,33 e R$ 0,35 de diminuição, encostando na estimativa feita pelo Minaspetro.
Na consulta feita pela reportagem, o menor valor cobrado pelo etanol foi R$ 4,29, encontrado num posto localizado no Bairro Industrial, na Zona Norte. Já um estabelecimento do Bairro Mariano Procópio, na região Nordeste, cobrava o preço mais alto pelo litro do combustível na manhã desta quarta: R$ 4,61. Na última semana, os valores encontrados pela ANP variaram entre R$ 4,50 e R$ 4,79.
Paridade não é favorável ao álcool
Nos postos percorridos pela Tribuna, o custo médio cobrado pelo litro da gasolina comum ficou em R$ 5,73, com valores que variaram entre R$ 5,62 e R$ 5,89. A proporção entre os preços do etanol e da gasolina, então, ficou em 77%, acima dos 70%, taxa considerada como limite para que valha a pena abastecer com o álcool.
O percentual é definido dessa forma porque, em geral, um veículo abastecido com etanol rende, em média, 30% a menos do que se estivesse rodando com gasolina comum. Portanto, para compensar no bolso do consumidor, o preço do álcool na bomba deve ser inferior a 70% do cobrado pelo litro da gasolina. Em nenhum dos postos de combustíveis pelos quais a Tribuna passou nesta quarta-feira a relação entre os valores ficou na faixa considerada favorável ao etanol.
Nas 28 pesquisas semanais realizadas este ano pela ANP em postos de combustíveis de Juiz de Fora, em 13 oportunidades a relação de preços entre o litro de gasolina e o litro de etanol ficou abaixo de 70%, deixando o álcool com um melhor custo-benefício na cidade.
Ainda assim, há motoristas que escolhem abastecer com etanol. É o caso de Durval Francisco Fernandes, que celebra a redução no valor do combustível e avalia que os preços são favoráveis ao álcool. “O valor agora está bem acessível, menor do que estava. O etanol ainda está valendo mais a pena do que a gasolina”, garante.
Já o motorista Humberto Cruz se mantém fiel à gasolina comum. Ele circula com o carro próprio, frequentemente, entre Coronel Pacheco e Juiz de Fora, e calcula que chegará a economizar até R$ 200 mensais com a diminuição no custo do combustível. “Nós precisamos utilizar o carro e vamos ter que abastecer de toda forma, não tem como escapar.”
Estabilização nos valores ainda não é projetada
O valor da gasolina comum, que passou por queda nas últimas semanas nos postos, sofreu nova alteração nas refinarias na terça-feira (19), o que deve resultar em diminuição no custo do litro do combustível em Juiz de Fora. Apesar do momento positivo, o professor de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Weslem Faria afirma que é difícil projetar como ficará o preço do barril de petróleo no mercado internacional, o que interfere no valor dos combustíveis no mercado interno.
“Existem muitas indefinições. Uma delas é com relação à guerra, porque ainda não existe expectativa de um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia”, afirma o professor, lembrando do conflito em território europeu. “Os países europeus têm tentado diminuir o consumo de petróleo da Rússia, mas é muito difícil porque os russos são importantes distribuidores na região. A cotação (do barril de petróleo) vai oscilando de acordo com as notícias de expectativa de se entrar num acordo (de paz) ou não.”
O professor considera que a pandemia também influencia no preço do barril de petróleo. “A gente vive uma instabilidade porque nem todo mundo vacinou e a média móvel de casos fica diminuindo e aumentando. Existe uma incerteza de quando a pandemia será, de fato, resolvida”, analisa. “Esse cenário de pandemia e guerra tem influenciado no preço. Ainda vai oscilar.”