Pátria de idiotas
Recente pesquisa feita pela Nielsen Media Research apontou que o Brasil possui cerca de 500 mil influenciadores digitais. Ultrapassamos as profissões de dentistas e engenheiros civis. Essa horda e seus séquitos compreendem a sociedade ocidental contemporânea – notadamente a brasileira -, onde a idiotice, a ausência de princípios e a obsessão por aparecer a qualquer custo ou escandalizar produziram a maior latrina on-line do planeta. Astuciosamente, moldam comportamentos, induzem reações, subvertem a ciência e seus postulados, produzem lucros e, em última análise, manipulam milhões de incautos. Nas tais redes sociais, imbecis viram celebridades; bandidos têm milhares de seguidores, e desprovidos de talento e mentecaptos completos se denominam artistas.
Como disse Jean-François Marmion, no seu livro A Psicologia da Estupidez, vivemos a era da burrice em massa. De acordo com o autor, “a produção da tolice que era endêmica na imprensa tornou-se pandêmica nas mídias, na internet e nas redes sociais, que a difundiram de maneira acentuada, tornando-a uma força política”.
Se antes existiram os falsos profetas, hoje temos os tais influenciadores digitais e a sua turba. No fundo, a imbecilidade humana continua a mesma. Mudaram-se, apenas, os meios de encurralar a manada. Enquanto nações civilizadas desenvolvem tecnologia, valorizam a educação e adestram exércitos com supersoldados, como vem fazendo a China, no Brasil, estamos assistindo a uma legião de desajustados de toda espécie povoando as tais redes sociais, onde sobrevive uma fauna apegada em estultices refutadas no mundo civilizado.
Para essa turma, até patologias e doenças têm agora o seu dia do orgulho. Essa récua de aloprados foi convenientemente manipulada para turbinar a primeira pandemia da era da internet, carreando bilhões de dólares para meia dúzia de corporações e destruindo milhões de postos de trabalho mundo afora.
Previsível, no contexto do secular desprezo com a educação, o Brasil ostenta o medíocre título do paraíso dos influenciadores digitais, ou seja, a pátria dos panacas on-line. Ainda a respeito das tais redes sociais, Jaron Lanier, engenheiro de computação, precursor da realidade virtual, e um dos principais desenvolvedores do Facebook, publicou o livro intitulado “Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais”. A publicação afirma: “Você tem a responsabilidade de inventar e colocar em prática maneiras de viver sem essa porcaria que está destruindo a nossa sociedade”.
O autor elenca os dez argumentos: 1 – Você está perdendo o seu livre-arbítrio; 2 – Largar as redes sociais é a maneira mais certeira de resistir à insanidade dos nossos tempos; 3 – As redes sociais estão tornando você um babaca; 4 – As redes sociais minam a verdade; 5 – As redes sociais transformam o que você diz em algo sem sentido; 6 – As redes sociais destroem a sua capacidade de empatia; 7 – As redes sociais deixam você infeliz; 8 – As redes sociais não querem que você tenha dignidade econômica; 9 – As redes sociais tornam a política impossível e 10 – As redes sociais odeiam a sua alma. Portanto resta dar os parabéns aos tupiniquins de smartphones por mais esse recorde deprimente.
E com ele cumpre-se o vaticínio do genial Roberto Campos: no Brasil, a estupidez tem um passado glorioso e um futuro promissor.