As dores do amor dividido em ‘Dias que não esqueci’
Livro do argentino Santiago H. Amigorena mostra o protagonista dilacerado pela descoberta da traição conjugal
A editora Todavia lança no Brasil mais um livro do escritor argentino Santiago H. Amigorena. Depois de “O gueto interior”, que chegou por aqui em 2020, desta vez temos “Dias que não me esqueci”, que trata de um tema doloroso: a dor da traição, que afeta de formas diferentes quem passa pelo drama.
Em uma obra que tem sido classificada como autoficção – em que o romance e a autobiografia se misturam -, Amigorena tem como protagonista um escritor e roteirista para cinema que descobre a traição da esposa, que tem um caso com um ator. A dor se torna ainda maior quando sua mulher diz que o amor não acabou, mas que ela está apaixonada pelos dois.
A descoberta do amor dividido coloca o personagem em desespero, a ponto de desejar o suicídio por não entender como a esposa pode arriscar um relacionamento estável, com dois filhos pequenos. Para o escritor, ter apenas metade do amor não é suficiente; se desiste, num primeiro momento, de tirar a própria vida, ele abandona a família na França (onde Amigorena vive há muitos anos) e viaja para a Itália, onde viveu na juventude e país da primeira viagem com a esposa. A jornada ao país vizinho é marcada pela tentativa do protagonista de entender o que aconteceu, qual caminho tomar, se aceita os argumentos da esposa (que não quer se divorciar), abandona a família de vez ou se tira a própria vida.
Com capítulos curtos e pungentes – contados ora pelas cartas que o marido escreve à esposa, ora em terceira pessoa, e também com trechos do livro “Cartas a Lou”, de Guillaume Apollinaire -, “Dias que não esqueci” mostra os ressentimentos de seu protagonista, revisita seu passado, seus ciúmes, a dúvida quanto ao futuro e uma sofrência que não transforma (pelo menos não muito) o personagem em vítima. O desfecho pode ser considerado previsível por muitos, mas acompanhar a dor de amor do escritor pelas palavras de Santiago H. Amigorena é uma experiência, no mínimo, triste e desconfortável, porém muito bem desenvolvida pelo autor.