No fogo cruzado
Presidente do Senado articula uma CPI que contemple as demandas da base do Governo e da oposição; conciliar os dois interesses, no entanto, é um grande desafio
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), indicou que vai autorizar a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Ministério da Educação (MEC), mas avalia ampliar o escopo da investigação para incluir as apurações sobre obras inacabadas nos governos do PT, como pediram aliados do Governo. Pacheco deverá ler o requerimento da CPI, no plenário, na próxima terça-feira (5), diz o jornal Estado de São Paulo, ao revelar as conversas em Brasília em torno das investigações. Mineiro por adoção e pelo respaldo das urnas para deputado e, posteriormente, para senador, ele tenta fugir da armadilha elaborada pelas bancadas governistas e de oposição. Enquanto os adversários do Governo querem jogar luzes nas denúncias de tráfico de influência no Ministério da Educação, a base governista quer buscar na gestão petista demandas que contraponham aos fatos atuais.
Faltando três meses para as eleições, as duas comissões, ou a comissão – caso haja a fusão de temas -, têm pouco a apresentar ao país senão um jogo para a arquibancada na busca de munição para os candidatos. O caso do MEC se sustenta na instância policial, já que há um inquérito em curso, enquanto as obras paradas podem ser avaliadas a qualquer momento, não havendo urgência para um problema que perpassa anos e já deveria ter sido resolvido. Quem anda pelo país afora encontra esqueletos de toda ordem. O juiz-forano, nos 180 quilômetros que o separa do Rio de Janeiro, lamenta o cenário de obras inacabadas na Serra de Petrópolis. Paga pedágio, mas não vê a conclusão do projeto.
Anos eleitorais são emblemáticos: quem está no poder acelera projetos e inaugurações – e isso ocorre indistintamente em todas as instâncias -, enquanto os adversários buscam mazelas para levar para os palanques. É do jogo, mas o país tem gastado muita energia em tais discussões quando há temas mais relevantes para serem tratados. Não se trata de jogar as mazelas para baixo do tapete, mas é fundamental, agora, enfrentar temas próprios, como a alta da inflação e os processos voltados para o futuro. Num cenário de impasses globais, os países que não se prepararem terão problemas nos próximos anos, sobretudo no campo da energia e no uso de suas commodities.
O tráfico de influência é abominável, mas não é novidade. Os corredores de Brasília são lotados de lobistas defendendo interesses. O problema é quando esses interesses saem do viés republicano. Nas últimas décadas, os muitos escândalos deram prejuízos imensuráveis ao país. As muitas legislações para coibir os danos esbarram ora na burocracia, ora no próprio no jogo de interesse que perpassa até mesmo o viés partidário. O dado crítico é a ausência de medidas capazes de coibir a prática. Houve avanços, é fato, mas ainda está longe o momento em que haverá, de fato, uma solução.