20 anos do penta: título da Copa de 2002 levou 50 mil juiz-foranos às ruas
Tribuna relembra histórias do último título mundial brasileiro com fotógrafos que fizeram a cobertura em Juiz de Fora e no Japão
Você se lembra do que fazia no dia 30 de junho de 2002 – um domingo -, há exatos 20 anos? Provavelmente, não estava dormindo ou trabalhando. Quem sabe era uma das 50 mil pessoas espalhadas pela Rua Dom Viçoso, no Bairro Altos dos Passos, para acompanhar a vitória do Brasil por 2 a 0 sobre a Alemanha, no Estádio Internacional de Yokohama, no Japão, que ficaria pra sempre marcada na história do futebol mundial. O triunfo, com dois gols de Ronaldo Fenômeno, deu o pentacampeonato mundial à seleção brasileira, ao mesmo tempo em que fez a alegria dos juiz-foranos espalhados pelas casas e bares da cidade. No Parque Halfeld, Bairro JK e na Avenida Barão do Rio Branco também era possível acompanhar pedestres e carros enfeitados de verde e amarelo, com “buzinaços” e chuvas da papel picado, comemorando a grandiosa conquista, de acordo com registro da Tribuna na época.
Em busca de rememorar essas histórias da cidade, a Tribuna entrevistou a fotojornalista Gleice Lisboa, que em 2002 cobriu o penta direto da boate Privillège. Como a competição aconteceu na Coreia do Sul e no Japão, os jogos passavam no Brasil na madrugada ou de manhã, devido ao fuso horário. “Foi um horário atípico, porque foi no Japão. Tudo completamente diferente. Cobri no Privilège, lá tinha shows antes e depois os jogos da Copa. Diferente também no que o nosso organismo que está acostumado. As pessoas estavam estimuladas para ver a Copa por ser de madrugada, e fomos lá cobrir porque tinha atrações e movimento de pessoas”, se recorda a fotojornalista.
“Aquela sensação de ser brasileiro”
Como a própria profissional destacou, a cobertura do penta demandou um grande esforço físico de Gleice, já que foi necessário mudar a vida diária por causa do futebol. Mas a emoção compensava as madrugadas viradas para acompanhar a torcida. “Tive muitas alegrias. Aquela sensação de ser brasileiro. No sentido do trabalho ali ser alegre. Você torcia para o Brasil, então era tudo positivo. Ver as emoções era muito bacana. O ponto auge para mim foi cobrir no Privilège, porque nas outras Copas eram na rua”, lembra.
O que ela também se recorda é a relação emotiva que tinha com a torcida e sua rotina de trabalho. “Sempre incentivei os grupos alegres, com uniformes, bebendo. Praticamente 100% das pessoas com roupa da seleção, isso foi marcante. Eu pedia para tirar fotos, buscava entrar no sentimento geral. Eram muitas, com as emoções dos lances do jogo. Naquela época não tinha a rapidez de colocar no ar de imediato. Depois do jogo, eu ia para casa, dormia, e só depois escolhia as fotos para sair no jornal”, rememora. A edição da Tribuna com os registros da comemoração pelo título, por exemplo, foi veiculada no dia 2 de julho, dois dias após Cafú erguer a cobiçada taça e apresentar ao mundo o bairro de sua origem, da Zona Sul de São Paulo, com os dizeres “100% Jardim Irene” na camisa.
O penta direto do Japão
Quem também fotografou o penta foi Wilson de Carvalho, direto do Japão. “Nós fomos de Juiz de Fora para Barcelona fazer um amistoso contra a Catalunha, e o Brasil venceu por 3 a 1. De lá, fomos para a Malásia e depois Coreia do Sul, até chegar ao Japão. O time parecia muito unido. Molecagem, gozação, samba nos horários de relaxamento dos jogadores”, conta. “O carinho do japonês conosco foi muito bacana. Sempre procurei agradar dando fotografias de jogadores para eles. Achavam uma maravilha, e me davam presentes. Um me levou para almoçar na casa dele, e isso não é comum lá”, detalha o fotógrafo.
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Os jogos que mais ficaram marcados na cabeça de Wilson, além da final contra a Alemanha, foram diante da Turquia – adversário da estreia e da semifinal – e da Inglaterra, nas quartas. “Me lembro de um jogo contra a Turquia, muito duro, difícil, mas ganhamos. Uma das partidas mais complicadas. Conversando com o Roberto Carlos, ele admitiu a dificuldade, falou que o time (turco) batia muito. Depois vencemos a China, Costa Rica, e outros diversos jogos. Contra a Inglaterra foi atípico, diferente. O Beckham estava muito bem na época. Quando tomamos o gol, foi um calafrio na espinha. Depois o Rivaldo meteu um gol e o Ronaldinho fez aquele de falta. A gente não sabe se foi de propósito ou não. Mas eles já tinham avisado que o goleiro gostava de se adiantar, isso eu já vi eles conversando. “Ronaldo, o goleiro está sempre adiantando”.
Sobre as histórias curiosa do penta, Wilson diz que nunca irá esquecer de uma em específico. “Um dia antes do jogo contra o Brasil, à noite, um repórter nosso perguntou o que o Beckham achava do nosso país, e ele respondeu “Brasil é Brasil”. Nesse mesmo dia, as esposas dos jogadores ingleses foram pra concentração e dormiram lá. Para nós, foi uma festa. Os repórteres ficaram todos animados com isso. Ah, que bom, que tenham uma noite maravilhosa”, ri.
A final foi o auge da Copa para o fotógrafo, como não podia ser diferente. “O jogo contra a Alemanha foi aquela sensação, uma maravilha. O Ronaldo estava com a estrela acesa. Eu já estava na quarta Copa do Mundo, mas chorei de emoção, foi muito maravilhoso. Inesquecível e demais”, vibra Wilson, que depois cobriu mais duas Copas, além de três Olimpíadas.