Como é fácil gostar de ‘Ghostbusters: Mais além’!

Por Júlio Black

22/06/2022 às 07h00 - Atualizada 21/06/2022 às 14h43

Oi, gente.

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“Ghostbusters: Mais além”, que acabou de chegar ao streaming via HBO Max, poderia ser mais uma produção a entrar na lista de remakes, reboots e remakes disfarçados de reboots que chegam toda semana aos cinemas, TV e streaming que, muitas vezes, fracassam na missão de conquistar um novo público e atrair antigos fãs pelo calorzinho gostoso da nostalgia. A própria franquia sentiu a dor do fracasso em 2016, com o reboot/remake com protagonistas femininas (apesar de ser mais uma questão de misoginia que outra coisa). Mas ainda bem que os caçadores de fantasmas ganharam uma nova chance, porque “Ghostbusters: Mais além” é muito, mas muito legal! Dos filmes a que assistimos este ano, o longa é um dos mais divertidos, bem feitos e fáceis de se gostar desde o ato da matrícula.

Um dos grandes problemas em se revisitar filmes clássicos é saber encontrar o tom ideal: se for um remake, não é raro mudarem elementos que descaracterizam a obra, e quando é um reboot (ou até mesmo continuação) a história parece berrar “PENSOU ERRADO, OTÁRIO, ISSO É UM REMAKE SAFADO!”. Daí que muitas produções fracassam, pois não conquistam pelo elemento nostálgico e muito menos despertam o interesse das novas gerações, e a ressurreição da franquia não sai da tumba. Pois o novo “Ghostbusters” acerta o alvo por saber dosar o novo com as referências aos dois filmes originais, além de acenos para o desenho animado que fez sucesso entre os anos 80 e 90.

A trama é simples a ponto de o espectador matar boa parte da charada logo nos primeiros 15 minutos: completamente falida, a mãe solteira/separada Callie (Carrie Coon) descobre que seu pai – com quem não falava há décadas e por quem guarda um poço de mágoas – morreu e deixou uma fazenda como herança. Prestes a ser despejada, ela se muda com os filhos Phoebe (Mckeena Grace) e Trevor (Finn Wolfhard, de “Stranger Things”) para a propriedade, localizada em algum lugar esquecido do estado de Oklahoma. O que parecia ser a salvação logo se mostra a maior roubada, pois o local está caindo aos pedaços e o pai – considerado completamente ruim das ideias pela população local – deixou um caminhão de dívidas.

E qual a ligação da trama com os “Caça-Fantasmas” dos anos 80? Em primeiro lugar, a sequência inicial do longa, com a morte do pai de Callie, mostra que ele não era um sujeito qualquer, e aí fica molezinha descobrir que ela tem uma ligação familiar com os caçadores de fantasmas. Ao mesmo tempo, Callie e seus filhos chegam à tal cidadezinha esquecida praticamente no mesmo instante em que eventos bizarros passam a acontecer com mais frequência; para completar, Phoebe e Trevor quase que tropeçam no legado da família, e aos poucos vão descobrindo que são “herdeiros” dos lendários e quase esquecidos Ghostbusters.

Além dos irmãos, embarcam na aventura um professor de verão (Paul Rudd) fã dos Ghostbusters; o crush (Celeste O’Connor) de Trevor; e o podcaster-mirim (Logan Kim) que chama a si próprio de… Podcast. É esse grupo, formado por adolescentes, pré-adolescentes e um adulto meio “tô nem aí”, que vai encarar a missão de salvar a humanidade de uma ameaça que tem ligação direta com o longa de 1984.

“Tá bom, mas qual a boa então?”, perguntaria a ah miga leitora e o ah migo leitor. Digamos que a melhor forma de responder seria por meio de uma live (toda terça, às 20h30, tem a “Live d’OMinotauro” no Instagram, só seguir o perfil @ominotauro ??), mas tentaremos resumir por aqui. Em primeiro lugar – mas não necessariamente o mais importante -, tem a questão roteiro, que é muito bem amarrado. Em tempos de “Obi-Wan Kenobi”, em que os roteiristas apresentam umas resoluções que chegam a ser ofensivas, “Ghostbusters: Mais além” tem uma história redondinha, que consegui ir de um ponto a outro de uma forma que faz sentido e que é esperta em ligar a nova história com os eventos dos dois primeiros filmes (sim, o reboot de 2016 é solenemente ignorado).

A nova trama faz todo sentido como continuação tardia dos primeiros longas, e nem o deus ex-machina do último arco estraga a experiência. E todas as referências aos antigos longas, seja pelo resgate de cenas mostradas pelo YouTube, a volta do ECTO-1, os equipamentos clássicos e o retorno pontual de alguns personagens, são perfeitas para conquistar o mais cético dos fãs de outrora, além de despertar, no mínimo, a curiosidade da turma mais nova.

Por falar nos adolescentes e jovens adultos, outro mérito do novo “Ghostbusters” está em aliar a nostalgia ao que conquista a garotada do século XXI – e sim, estamos falando de “Stranger Things”, a série da Netflix que tem altas influências de “Caça-Fantasmas” e que tem suas digitais encontradas na produção. Por isso mesmo, “Mais além” consegue resgatar o espírito das aventuras juvenis de quase quatro décadas atrás por meio de uma linguagem cinematográfica mais atual, num casamento que, como diriam os jovens, deu bom.

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Por fim, não podemos deixar de citar os ótimos efeitos especiais, que, aliados aos efeitos práticos, não deixam os fantasmas e monstros com cara de Playstation 2, além do elenco. Protagonista do filme, Mckenna Grace é um daqueles achados que esperamos que tenha uma longa carreira no cinema, mas todo o grupo de protagonistas se sai muito bem, mesmo que alguns não tenham o mesmo espaço. E o retorno dos personagens clássicos é de fazer o público mais velho ficar com aquele oportuno cisco no olho, principalmente quando o CGI, atualmente, permite trazer até mesmo os que estão ausentes.

Definitivamente, “Ghostbusters: Mais além” é o tipo de filme que deve ter deixado feliz Ivan Reitman, diretor dos dois primeiros longas – sucedido pelo filho Jason no cargo – e que morreu em fevereiro deste ano, poucos meses depois do lançamento do filme, e também Harold Ramis, que interpretava Egon Spengler e foi roteirista dos dois primeiros longas, mas que morreu em 2014. Eles podem ter certeza que a continuação – já confirmada pela Sony – está em ótimas mãos.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Júlio Black

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