A urgência de resistir para existir
“Precisamos criar o hábito de não tratar mais a orientação sexual e a identidade de gênero de alguém como um tabu”
Resistir e persistir em prol de continuar existindo é algo que a comunidade LGBTQIA+ vem fazendo há muito tempo. Lutar contra discursos de ódio e contra a violência diária nas ruas, ou até mesmo dentro de casa, virou rotina para nós que fazemos parte desse movimento. De acordo com a Rede Brasil Atual, o Brasil carrega, pelo quarto ano consecutivo, a triste marca de ser o país que mais mata LGBTQIA+ no mundo, mesmo já possuindo leis que incriminam qualquer tipo de preconceito. Será então que elas estão realmente surtindo efeito em nossa sociedade?
Nos meios de comunicação, a censura ainda se faz presente. Em 2021, uma famosa marca de cosméticos lançou uma propaganda no Dia dos Namorados que incluía casais homoafetivos demonstrando afeto após receberem o produto de seu(sua) parceiro(a). Foi o suficiente para causar revolta em milhares de brasileiros, que argumentavam que a fabricante de cosméticos estaria influenciando a orientação sexual de seus filhos.
Dois anos antes, outra marca conhecida nacionalmente já havia sido vítima da LGBTQIA+fobia. Após exibir um beijo gay em um comercial em rede nacional, foi feito um abaixo-assinado pedindo para que canais não aceitassem transmitir a propaganda. Chega a ser hipócrita estarmos vivenciando a famosa “Era da Tecnologia” e continuarmos lendo tanta desinformação e “opiniões” baseadas em achismos vindo de uma parte da população que já possui acesso à informação em suas casas.
É extremamente necessário que todos furem suas próprias bolhas, reconheçam seus privilégios e busquem entender mais sobre as causas que rondam nosso mundo. Estamos no século XXI e não deveríamos continuar indo às ruas pedir respeito e por direitos básicos ao Estado, visto que isso deveria ser fornecido obrigatoriamente a nós.
Conforme descobrimos nossa sexualidade, lidar com ela em uma sociedade tão conservadora é um desafio, pois não temos ninguém para nos orientar durante o caminho. Pelo contrário, descobrimos que até pessoas do nosso ciclo social reproduzem os mesmos discursos que escutamos nas ruas ou lemos nas redes sociais, o que, consequentemente, nos faz entrar em conflito com nós mesmos. Afinal, como podemos ser algo tão detestável para as pessoas que tanto amamos? Por essas e outras que se “esconder no armário” acaba se tornando uma zona de segurança para muitos, por não nos sentirmos seguros nem em nossa própria casa.
É de extrema importância que o diálogo dentro das escolas e dentro de nossas casas acerca do assunto exista. Precisamos criar o hábito de não tratar mais a orientação sexual e a identidade de gênero de alguém como um tabu. Temos outras diversas qualidades que merecem ganhar mais destaque do que nossa sexualidade. E que, de uma vez por todas, essas pessoas parem de nos matar, pois iremos continuar indo às ruas protestar por igualdade e, principalmente, por respeito, porque não aguentamos mais ter medo de, a qualquer momento, virar uma estatística em um país que prega tanto diversidade.