Preço dos alimentos dispara e pesa no orçamento em Juiz de Fora

Hortaliças e frutas têm aumento exponencial. Cenoura fica quatro vezes mais cara em um ano; saiba como a escalada afeta a população e o que os especialistas dizem a respeito


Por Elisabetta Mazocoli, estagiária sob supervisão da editora Fabíola Costa

01/05/2022 às 07h00

Alimentos básicos da dieta do brasileiro, como batata, cenoura, tomate e alface, apresentaram escalada de preço no mês passado em relação a abril do último ano. Para consumidores, que só encontram opções bem acima do valor esperado e que amargam perda do poder aquisitivo em função da pressão inflacionária, o impacto é perceptível, tanto na redução da quantidade de hortifrútis levada para casa quanto na necessidade de fazer substituições na alimentação, para não estrangular o orçamento doméstico.

De acordo com dados da Ceasa Minas – Juiz de Fora, a cenoura está quatro vezes mais cara ante abril de 2021. Um saco de 22 quilos do alimento custava R$ 30 e agora é vendido a R$ 130. A batata lisa, por sua vez, apresentou aumento de 140%. O saco de 50kg, encontrado a R$ 100, já é vendido a R$ 240. Já o tomate subiu 146,2%, saindo de R$ 65 para R$ 160, o equivalente a 22kg. A alface crespa e a alface lisa tiveram ambas alta de 108,3%. O pacote com 18 unidades custava R$ 12 e, agora, é adquirido por R$ 25.

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Nos 38 anos em que trabalha com hortifrutigranjeiro, Carlyle Barros, vendedor do box São Francisco no Mercado Municipal, nunca tinha presenciado escalada semelhante. “Os preços estão altos e está faltando muita mercadoria. Hoje é difícil achar produtos bem comuns, como vagem, batata baroa, abobrinha e pepino.” Ele nota que alimentos que eram muito procurados, como batata e cenoura, passaram a ficar mais escassos nas sacolas de compras, mediante a necessidade de optar por alimentos mais baratos. “Quem comprava 2kg de tomate, hoje compra 1kg. Quem comprava 1kg, agora compra meio”, exemplifica.

O vendedor do box Buriti, Hélio Filho, concorda que as vendas de hortifrútis foi impactada. “Hoje o cliente não busca só qualidade, mas sim o preço. A não ser que tenha obrigação, a escolha é sempre pelo mais barato, para não faltar na mesa.” É exatamente isso que narra a comerciante Jacqueline Monteiro. Com o aumento dos preços, ela conta que “não compra mais o supérfluo, apenas o mais necessário”. Jacqueline explica que deixou de comprar tomate e batata todos os dias.

Já a professora Cláudia Xavier explica que também tem optado por produtos mais baratos, além de reduzir as quantidades, para evitar desperdício. “A gente entende que alguns produtos têm alteração de preço por conta da estação, o que é normal. Mas todos estão afetados pela inflação e pela falta de política econômica que tome conta desse setor, para que as pessoas possam se alimentar de forma normal”, diz.

Valor da fruta quase dobra

De acordo com os dados da Ceasa, no mesmo período, a maçã fuji sofreu reajuste de 80%, passando de R$ 75 para R$ 135 o saco de 18kg. A banana nanica, por sua vez, apresentou aumento de 20% em relação ao ano passado, quando custava R$ 25 o saco de 18kg e hoje custa R$ 30. O mamão teve alta de 88,9%, indo de R$ 45 para R$ 85. Já a laranja pera teve aumento de 33,3%, indo de R$ 45 para R$ 60.

Mediante o encarecimento das hortaliças usadas no dia a dia, a aposentada Heloíse de Viveres resolveu comprar mudas e plantar em garrafas pet no seu quintal. Em relação às frutas, no entanto, ela simplesmente parou de comprar. “É revoltante entrar no mercado, com o dinheiro que fazia compra antes e não conseguir levar praticamente nada. Para quem ganha um salário mínimo, não dá pra sobreviver”, diz.

Efeito em cadeia

De acordo com o economista e professor da Faculdade de Economia da UFJF Wilson Rotatori, o que está acontecendo é um efeito em cadeia, no qual o último elo é justamente o consumidor final, que acaba pagando mais caro pelos produtos. Os motivos para isso são vários, mas o primeiro citado pelo especialista é o aumento dos combustíveis, já que “todo deslocamento da produção de alimentos é feito com diesel”. Além disso, Rotatori ressalta que houve um período de energia elétrica cara, e as propriedades produtoras usam máquinas que dependem dessa energia ou do diesel, o que acabou por pressionar ainda mais os custos para os produtores.

O economista e também professor da Faculdade de Economia da UFJF Lourival Batista esclarece que o crescimento inflacionário, de modo geral, já cria condições para o aumento existir e ser percebido, tão de perto, pelas famílias. Além dos fatores já citados, Lourival cita que o impacto é ainda maior por estarmos vindo de uma situação de pandemia, de uma guerra na Ucrânia e de um momento em que o dólar esteve altíssimo – o que prejudica o abastecimento. “O mais complicado é que, desde 2016, há uma mudança de ênfase em relação às políticas públicas nesse setor”, diz.

Cenoura fica quatro vezes mais cara no intervalo de um ano (Foto: Fernando Priamo)

População vulnerável é a mais afetada

“Os preços estão subindo, e não por demanda, mas por condições de choques de oferta, como o aumento de custo de produção. As pessoas não estão comendo mais. Elas estão perdendo a condição de compra”, explica Lourival. Ele também destaca que, com as altas taxas de desemprego e as pessoas empregadas em trabalhos precários, a população é ainda mais atingida pelo preço dos alimentos. “A quantidade de família que começou a cozinhar a lenha ou com fogões improvisados, por exemplo, é assustadora”, diz.

O economista esclarece que, quanto menos recursos a família dispor, mais pesa a alimentação no lar. Lourival exemplifica que, por mais sofisticada que a dieta de um indivíduo de classe alta seja, o valor gasto com alimentação vai pesar relativamente pouco em relação à sua renda total – o que acontece de forma contrária com a população mais pobre. Ele defende que, nessa situação, é imprescindível garantir “segurança alimentar para a população”. Isso significa ter boas condições de abastecimento de produtos internos, garantindo uma alimentação equilibrada para toda a população.

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Rotatori ressalta que, nesses casos, as famílias ainda têm outras contas a pagar, o que gera uma pressão enorme sobre a renda, em especial das pessoas em vulnerabilidade. “Precisamos de restaurantes populares e programas de renda mínima, para que essas pessoas não entrem numa rota de fome.” O economista enumera uma série de questões que precisam ser trabalhadas de forma emergencial para essa população, “pensando em auxílios que precisam ser acelerados e aumentados”.

Reduzir dependência é caminho

De acordo com Rotatori, é preciso criar soluções a longo prazo que modifiquem esse cenário. Para ele, é preciso repensar a utilização do transporte, com impacto direto nos custos. “Precisamos pensar em como não ficarmos tão dependentes, barateando um pouco o custo de produção no mercado. A Embrapa deve pensar, pesquisar e estudar outras possibilidades de insumos agrícolas para não precisarmos de produtos importados”, diz.

Lourival Batista também acrescenta que é preciso fazer pesquisas para não se ter uma “dependência energética” e ainda uma “dependência assustadora do diesel”. Ele ainda diz que, no Brasil, não há preocupação o suficiente em transformar as frotas de ônibus, caminhões e carros para eletricidade ou outros sistemas que diminuam a dependência dos derivados de carbono. “Se não temos a perspectiva de longo prazo, vão existir sempre os problemas estruturais”, afirma.

Lourival indica que é preciso repensar o peso que se tem em termos de custo de produção e produtividade dos alimentos, analisando estoques reguladores de itens básicos e oferecendo estímulo à produção local. “Em um município como Juiz de Fora, muitas vezes compramos hortaliças de Petrópolis. Temos que pensar no atendimento local, porque reduz custos de transporte para chegar à mesa do consumidor”, diz.

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