Conversa com os prefeitos
Os pré-candidatos à Presidência da República têm uma oportunidade singular para conversar com lideranças municipais, cuja capacidade de ampliar seus discursos é fundamental para o processo eleitoral
A legislação eleitoral é clara ao definir prazos para o início da campanha eleitoral – sempre depois das convenções partidárias -, mas tal dado é apenas uma formalidade, já que todos os pré-candidatos estão em campo há algum tempo, garimpando votos. A experiência mais marcante desta semana é a 23ª Marcha da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), em Brasília, com a participação do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), e de mais quatro pré-candidatos ao cargo, tornando o evento um palanque para as eleições. O encontro volta a ser realizado após dois anos sem edições, devido à pandemia da Covid-19. No primeiro dia, o deputado federal André Janones (Avante) e a senadora Simone Tebet (MDB) tiveram a oportunidade de revelar suas propostas para prefeitos, vice-prefeitos, funcionários de prefeituras e vereadores. Nesta quarta-feira, será a vez do ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) e de Ciro Gomes (PDT). O presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, destacou que os principais assuntos devem ser a reforma tributária, saneamento, cenário pós-pandemia e o piso do magistério. O encontro termina na quinta-feira.
Trata-se, é fato, de uma grande oportunidade para os políticos apresentarem suas propostas para um público qualificado e capaz de capilarizar seus discursos pelo país afora. Prefeitos e vereadores, que dessa vez estarão distante do escrutínio das urnas – salvo os que vão se submeter aos eleitores disputando outros postos -, são decisivos, sobretudo nos rincões nos quais a definição do voto é na base da conversa e da apresentação de propostas objetivas para uso imediato da população.
É fato que as redes sociais mudaram definitivamente o modus de se fazer política, mas a velha sola do sapato e encontros ainda têm peso importante, sobretudo na elaboração das estratégias iniciais. Os políticos precisam convencer seus adeptos a multiplicarem suas ações. Também é claro que as redes, de novo, podem fazer esse papel, mas a adesão é mais segura quando há o olho no olho, sobretudo num tempo em que o financiamento privado está fora de questão.
A Marcha da CNM tem um papel importante, também, para abrir espaços para as reais propostas dos candidatos. Até então, os pronunciamentos apontavam para a necessidade de reforma – o que qualquer leigo sabe -, mas sem aprofundar como elas serão desenvolvidas. Basta lembrar que há anos se fala em reforma tributária, reforma política e reforma administrativa, mas a única que saiu do papel foi a da Previdência, mesmo diante de uma clara necessidade de outras ações. A reforma política passou por vários ensaios, mas, nesse caso, o Parlamento também tem papel assertivo, pois ela foi bloqueada em sua totalidade por interesse dos próprios parlamentares, sobretudo os defensores do status quo.
Faltando cerca de cinco meses para as eleições de outubro, há muito ainda a ser feito, principalmente em torno das alianças, cuja formalização derradeira só vai ocorrer no dia 31 de maio, quando termina o prazo para a formatação das federações. Eventos de tal monta também servem para jogar luzes sobre os candidatos, muitos deles meros coadjuvantes no grande embate que está para ocorrer. Como o direito de votar ser votado é uma conquista da democracia, melhor ouvi-los, então.