De filho pra pai: dupla judoca se une e evolui em treinos e competições

Gleyson, 40 anos, é influenciado por Yure, 12, e passa a treinar junto do jovem: “não há dinheiro que pague”


Por Bruno Kaehler

03/04/2022 às 07h00

“Às vezes ele me ensina alguns golpes que vê no YouTube, e eu mostro as coisas que ele está errando quando estamos treinando.” O relato, surpreendentemente, é de Yure Costa de Lima Magalhães, 12 anos, ao se referir ao pai, Gleyson Carlos Magalhães, 40. Os dois praticam judô juntos há cerca de um ano e, ao contrário do que comumente ocorre não apenas na arte marcial, como em todos os outros esportes, a influência para a inserção na modalidade partiu do filho.

“Tem um ano que eu entrei no judô e já estou treinando e competindo. Entrei através do meu filho, que já tem sete anos de prática. Levava ele em competições, treinos e fui tomando gosto. Só não conseguia conciliar o horário pra treinar com o meu serviço. Aí no ano passado, com aquela situação da pandemia, falei que teria que conseguir. Era a hora. E estamos treinando desde então”, conta o segurança e agora judoca Gleyson.

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Desde então, os treinos no mesmo horário reforçam o laço familiar. “É uma experiência que não tem nem como descrever. O que a gente vê é sempre o pai conduzindo o filho, e no meu caso foi o contrário. Eu vim treinar com ele. Já disputamos campeonato juntos e não consigo resumir a emoção. É muito gratificante mesmo estar dentro do tatame competindo e ver ele lá fora torcendo. Não há dinheiro no mundo que pague”, conta Gleyson, orgulhoso. “É muito legal ver meu pai e poder estar com ele”, complementa o jovem Yure.

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Yure e Gleyson em reverência de saudação monitorada pelo sensei Raphael Venturini (Foto: Fernando Priamo)

Nesse sábado (2), a dupla foi até Matozinhos (MG) com a equipe da Associação Judô 360, onde treinam no Bairro Santa Terezinha, Zona Nordeste da cidade. A dupla disputou a primeira etapa do Campeonato Mineiro de Judô, organizado pela Liga Mineira da arte marcial, em suas respectivas categorias, com fim do evento após a edição desta matéria. Ao ser questionado sobre as emoções sentidas ao ver o filho no tatame ou na arquibancada, na torcida, Gleyson afirmou que “as sensações são complicadas das duas formas. Porque além da função de pai, em que já somos um espelho naturalmente, eu tenho que ficar atento à minha conduta, porque apesar de ele ter mais tempo de judô do que eu, sempre está me olhando, perguntando. Eu brinco que eu que tenho que perguntar a ele as coisas, e ele dá aquela desculpa clássica de que só está relembrando. Mas ele fica a todo tempo olhando, se espelhando e procurando ver minha postura pra seguir igual”, destaca.

Respeito, disciplina e evolução

Se a prática individual de um esporte, como o judô, já traz inúmeros benefícios à saúde física e mental dos atletas, o sensei Raphael Venturini, da Associação Judô 360, enfatiza que há uma facilidade maior também na absorção de conhecimento e variadas vantagens na realização das atividades em dupla, como no caso de seus alunos Yure e Gleyson. “Percebo essa diferença tanto nos aspectos físico e técnico, no desenvolvimento, pois eles estudam como se faz, até a questão disciplinar. Acaba que um cobra o outro. Outra abordagem que tem essa diferença é a do estudo da arte, do conhecimento. Eles ficam mais motivados, pai e filho”, avalia o professor.

A comunicação entre os dois também é otimizada com o treinamento em conjunto e a disputa de competições. “A gente sempre conversa. Um dá orientação para o outro. Em um dos últimos campeonatos, eu não estava treinando, ele entrou pra luta e teve a infelicidade de perder a primeira. Fui até ele e disse pra ter mais atenção, concentração porque ele era melhor que o outro atleta e conseguiria dar a volta por cima. Quando ele entrou pra segunda luta, venceu, também ganhou a terceira e acabou saindo com a medalha de ouro no campeonato”, recorda Gleyson.

Para o pai, “o judô é muito bom, trabalhamos o respeito, a disciplina, nos preocupamos muito com os colegas de treino, entre outras coisas. A pessoa pode achar que é só uma luta, mas vai muito além do que essa percepção.” Já Yure conta, encabulado, que a prática também ajuda a melhorar seu dia a dia e na escola, por exemplo. Outro relato do jovem, ao ser indagado sobre o que mais aprecia na luta, transparece a disciplina e o foco já inseridos em sua personalidade. “Gosto mais de ir para os campeonatos, dos desafios e de poder mostrar tudo o que eu tenho treinado”, destaca.

 

 

 

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