Na expectativa pelo 5G, JF ainda tem problemas no acesso às redes móveis

Quinta geração da internet promete revolucionar o uso da tecnologia, mas cidade tem dificuldades para resolver entraves de cobertura


Por Gabriel Silva

27/03/2022 às 07h00

A baixa cobertura das redes móveis é motivo de reclamação da população juiz-forana há pelo menos uma década (Foto: Fernando Priamo)

A chegada do 5G, programada para acontecer em Juiz de Fora até 2025, promete revolucionar a maneira como o consumidor utiliza a internet no Brasil. A quinta geração tem o potencial de aumentar exponencialmente a velocidade das conexões, possibilitando modos de utilização da web que até então não existiam. Entretanto, fora do cenário idealizado da nova tecnologia, os usuários juiz-foranos ainda enfrentam as chamadas áreas de sombra, localidades com pouco ou nenhum sinal de rede móvel, motivo de reclamações desde as gerações anteriores da internet.

Os problemas no sinal de telefonia – e consequentemente nas redes móveis de internet -, são evidentes sobretudo nos distritos juiz-foranos. Os moradores de Monte Verde, por exemplo, têm a rotina impactada pelo baixo alcance do sinal. “Com relação a telefonia e internet, a gente está abandonado”, resume Jeferson Gomes de Almeida, morador e comerciante do distrito. “Nós, que temos estabelecimentos comerciais aqui, precisamos da máquina de cartão e, vira e mexe, não conseguimos acessar. Eu sou cliente de duas operadoras, mas tem dia que nenhuma das duas funciona”, conta.

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Em 2020, Monte Verde foi contemplado pelo programa Alô, Minas!, que pretende ampliar o acesso à internet em locais com problemas de conexão. A Claro é a empresa responsável por fornecer a rede móvel para a localidade. Segundo moradores, a operadora necessita de uma área para instalação de antenas, mas não teria entrado em acordo com a comunidade sobre o local para a estrutura. Em nota, a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag-MG) informou que a operadora tem prazo até fevereiro de 2024 para efetivar a conexão e que o local de instalação da torre de telefonia “será escolhido com base em aspectos técnicos definidos pela operadora”. Contatada pela reportagem, a Claro reafirmou as informações repassadas pela Seplag.

Por outro lado, a adesão ao Alô, Minas! ainda dá esperança de resolução das áreas de sombra no Distrito de Humaitá. No local, a Claro também foi a vencedora da licitação e promete instalar a estrutura necessária para oferecer as redes móveis ainda no primeiro semestre. “O pessoal da Claro já fez algumas reuniões com a gente, viram o local para ser instalada (a antena) e pediram até junho para finalizar a instalação”, diz Paulo Lopes, morador do distrito. “(Atualmente), nós não temos nenhum sinal de telefonia, de nenhuma operadora.”

A baixa cobertura das redes móveis é motivo de reclamação da população juiz-forana há pelo menos uma década. Matéria da Tribuna publicada em julho de 2012, na véspera da chegada do 4G, relatou os persistentes percalços na conexão do 3G. No ano seguinte, a Câmara Municipal passou a estudar a criação de uma nova lei para o licenciamento de antenas, atendendo a pedido das operadoras. O estudo resultou na lei 13.236/2015, publicada dois anos depois, que dava esperança de agilizar os processos para melhoria da oferta das redes móveis, solucionando problemas de cobertura que eram “frequentes na região central e bairros das regiões Norte, Nordeste e Sul, e nas comunidades da Zona Rural”, conforme matéria da Tribuna publicada na época.

Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) admitiu preocupação com o acesso às redes móveis nas escolas e informou que “estuda um projeto técnico para expandir a conectividade nas escolas e em outras áreas públicas, seja através do 5G ou de outras tecnologias” (Foto: Fernando Priamo)

Ensino remoto escancara deficiências

Moradores do Bairro Ipiranga, os irmãos Peterson, de 11 anos, Petrik, de 10, e Nauane Vitória, de 5, enfrentaram dificuldades logo no início da vida estudantil. Entre 2020 e 2021, quando a Escola Municipal Bela Aurora entrou no modelo de ensino remoto em função da pandemia, os pequenos estudantes não puderam receber o mesmo conteúdo que os colegas por um problema: eles não têm acesso à internet móvel.

Com a impossibilidade de conseguir os exercícios pela web, a mãe das crianças, Iolanda Silva, conseguiu algumas atividades impressas junto à direção da escola. “Foi muito difícil (o período sem aulas). A gente fica triste. Como mãe, a gente quer ver os nossos filhos bem, estudando, e oferecer as melhores coisas para eles”, lembra. As crianças puderam voltar ao ensino regular no final do ano passado, quando as aulas presenciais foram retomadas, e os pequenos passaram a frequentar a escola.

A situação das crianças juiz-foranas não é incomum no Brasil, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) coletados em 2019 apontaram que cerca de 12% dos estudantes brasileiros não têm acesso à internet. A pesquisa ainda apontou diferença alarmante entre estudantes das redes privada e pública do país. Nas escolas particulares, apenas 1,6% dos alunos não têm nenhuma conexão; enquanto, nas escolas públicas, o índice sobe para 16,3%.

Já o levantamento do Comitê Gestor da Internet no Brasil, gerido pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR, ainda mostrou que apenas 45% das escolas brasileiras oferecem acesso à internet sem fio aos alunos. Por outro lado, a pesquisa, realizada em 2021, aponta que 94% das instituições estudantis têm algum modo de conexão à rede.

O leilão do 5G levou em conta a necessidade de conectar as escolas à nova tecnologia, mas terminou com números preocupantes. Se a expectativa da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) era garantir R$ 7,6 bilhões para investimento nas redes escolares, menos da metade do valor foi, de fato, arrecadado após o arremate das frequências, que somaram R$ 3,1 bilhões. A diferença se deu porque nem todos os lotes de 26 gigahertz (GHz), os voltados para as escolas, foram arrematados.

Em contato, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) admitiu preocupação com o acesso às redes móveis nas escolas e informou que “estuda um projeto técnico para expandir a conectividade nas escolas e em outras áreas públicas, seja através do 5G ou de outras tecnologias”.

O vereador Marlon Siqueira (PP), presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia, Inovação e Comunicação da Câmara Municipal, por sua vez, avalia que a pandemia adiantou um processo de digitalização do ensino que, inevitavelmente, ocorreria. “É muito importante que o Poder Público se prepare no sentido de que se possa fazer as aulas on-line, dando condições de que os alunos, de dentro de casa, recebam os materiais. Nós precisamos dar os equipamentos e ter o sinal de internet para que possa haver ensino à distância”, diz.

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5G abre incontáveis possibilidades, diz especialista

Se a atual realidade é marcada por problemas antigos, a chegada do 5G gera a possibilidade de que o mundo digital passe por uma revolução. Em um primeiro momento, a mudança será sentida pelos usuários na maior velocidade da internet, com rapidez para baixar ou enviar arquivos. Isso irá acontecer porque a expectativa é que o 5G seja até cem vezes mais rápido que as conexões 4G, diminuindo a latência, que é o tempo de resposta entre o comando para uma ação e a execução (por exemplo, o “delay” nas chamadas de voz pela internet).

“Veremos, de início, a oferta de um 4G turbinado, melhorado, com altas taxas de velocidade e maior qualidade de serviço. Porém, o 5G também promoverá suporte a um maior número de conexões na mesma área, possibilitando o desenvolvimento da ‘internet das coisas’ de forma massiva”, projeta o engenheiro de Telecomunicações e pesquisador João Lima. A “internet das coisas”, mencionada pelo especialista, são os objetos de uso cotidiano que passam a ser incorporados a tecnologias que permitem a conexão às redes, como vestimentas ou eletrodomésticos. “Provavelmente, se tornará mais comum possuirmos e vestirmos mais itens conectados, não só o celular, mas também sensores em relógios, roupas e acessórios, bem como itens de nossa casa”, diz Lima.

O agronegócio deve ser outro setor a sentir o impacto da nova geração da internet. A expectativa é que o 5G possibilite a manutenção de máquinas utilizadas no campo de forma completamente remota, além da utilização de sensores nos terrenos para avaliação das áreas. “Modificará o agronegócio, com tecnologia e sensoriamento cada vez mais embarcado, bem como a saúde, com mais sensores, mais dados e mais possibilidades de integração com inteligências artificiais”, enumera o engenheiro.

A diminuição da latência, por sua vez, vai possibilitar o controle remoto de ferramentas complexas, como carros autônomos, drones e, até mesmo, cirurgias. “E um mundo novo de entretenimento, novos serviços e novas experiências, com tecnologias de realidade aumentada, virtual e estendida”, completa o especialista.

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