Momentos decisivos

Fim da janela partidária e ciclo de desincompatibilizações levam a campanha eleitoral para outro patamar; políticos fazem contas e ampliam conversações


Por Tribuna

23/03/2022 às 07h00

O presidente Jair Bolsonaro já sinalizou que o general Braga Neto, atual ministro da Defesa, deixa o cargo no início do mês para ser indicado candidato a vice-presidente na sua chapa de reeleição. O militar é mineiro, natural de Belo Horizonte, o que faz parte do discurso de ter um representante do segundo maior colégio eleitoral do país. A dúvida, agora, é como reagirá o Centrão, já que suas lideranças queriam indicar um político – algo que já está praticamente afastado.

Quem optou por um político foi o ex-presidente Lula, que terá como companheiro de chapa o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, contra quem disputou, e venceu, em 2006, no seu projeto de segundo mandato. Desta vez, segundo articuladores, a estratégia é ter no ex-tucano um nome capaz de neutralizar ações dos segmentos conservadores, por ser ele um político de centro e de forte aproximação com setores religiosos.

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O jogo, no entanto, só está começando; se por um lado as chapas começam a ser definidas, os acordos regionais, que passam necessariamente por candidaturas a governador, ainda estão em curso. O Nordeste tem sido a bola da vez dos dois líderes da campanha por ser um fator de forte influência no processo eleitoral. A região, no entanto, tem peculiaridades próprias. Seus representantes têm um forte viés pragmático e olham as pesquisas antes mesmo de saber o programa dos candidatos.

Por isso, não há surpresa quando dirigentes nacionais próximos ou adversários do Governo tenham caminhos distintos em suas bases. Na Bahia, o PP de Arthur Lira, um dos cardeais do Centrão, pode apoiar Lula. No Ceará, o candidato Ciro Gomes, a despeito de ser natural do estado e tê-lo governado, não lidera nas intenções de voto.

A grande inflexão, porém, está no Sudeste. Em Minas, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, deve deixar a prefeitura nesta sexta-feira e espera contar com o apoio do ex-presidente Lula, mas tem questões a resolver. O representante de seu partido no Senado, Alexandre Silveira, não abre mão da reeleição, enquanto o PT, o eventual parceiro, já definiu o deputado Reginaldo Lopes como candidato à mesma vaga. Policial de carreira, Silveira não dá indícios de ceder. Tendo prazo para mudar de partido, Kalil pode até pular fora do PSD.

Tentando o segundo mandato, o governador Romeu Zema enquadrou setores de seu partido, o Novo, que resistiam à ideia de buscar aliados, preferindo repetir o projeto vitorioso de 2018, quando o então empresário ganhou de fortes lideranças políticas. Na visita a Juiz de Fora, na semana passada, o governador disse que o Novo fará alianças, embora não tenha definido se no modelo de federação ou simplesmente parcerias. Ele não falou da sucessão presidencial, embora o presidente Jair Bolsonaro veja nele um aliado.

A próxima semana será reveladora com o fechamento da janela partidária e o início das desincompatibilizações. O quadro político começa a se definir, embora ainda persistam dúvidas, sobretudo no caminho do meio.

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