A ira dos deuses

“O que mais precisaremos testemunhar? Quão mais profunda terá que ser a ferida?”


Por Ana Lúcia Gomes Bastos, psicóloga e professora de inglês

22/03/2022 às 07h00

A rapidez e a agilidade com que os suprimentos são arrecadados só não impressionam mais do que o que os motivou: uma tragédia! As cenas de terror, dor e incredulidade provocadas pelas chuvas nos remetem à fúria dos deuses.

Os deuses, furiosos, têm nos mostrado, repetidamente, o quanto se esforçam para nos ensinar… mas nós, aprendizes rebeldes, insistimos em não aprender.

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O que mais precisaremos testemunhar? Quão mais profunda terá que ser a ferida?

Onde ficam aqueles que, quando movidos pela solidariedade, nada os detêm, agindo de forma impressionantemente rápida e eficaz? Por que esses mesmos, tirando proveito de tamanha habilidade, não agem, igualmente, na prevenção?

Os deuses sabem da existência dessa força para a prevenção e aí, cegos de raiva, despejam sua ira, varrendo tudo, atropelando todos e destruindo: sonhos, conquistas, vidas recém-chegadas ou não, ou ainda por chegar…

Por que não queremos ouvir, acreditar, aprender e realizar? Por quê?

Os movimentos dessas pessoas de boa vontade são de causar perplexidade, tamanha solicitude e generosidade. Insisto em acreditar na eficiência dos mesmos movimentos direcionados a minimizar esses sofrimentos pré-anunciados.

Ajudar depois da tragédia é solidarizar, é louvável, merece aplausos e faz muito mais bem a quem presta ajuda; sabe-se disso, e é por isso mesmo que não se faz suficiente para os deuses.

Os deuses não se deixam engambelar por atitudes que satisfazem os nossos egos em detrimento dos corações afogados e perdidos nas fendas criadas pelas enxurradas e pelos lamaçais.

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Ajudar antes da tragédia é solidarizar, é louvável, merece aplausos e faz bem igual, a quem presta e a quem recebe ajuda. E os deuses, então satisfeitos, entenderão que a lição foi aprendida. E a bonança é, enfim, aguardada…

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