Não é só business


Por Renato Salles

11/03/2022 às 07h00

Depois da onda de técnicos portugueses e estrangeiros em geral, a nova onda do futebol brasileiro são as SAF, as sociedades anônimas do futebol. Cruzeiro, Botafogo e Vasco já foram por esse atalho. Foi até um caminho natural e racional ante à histórica falta de recursos e dificuldades em campo enfrentadas pelos três tradicionais clubes em um passado mais ou menos recente. Tudo normal. Mais uma moda importada de Paris.

A ferro e fogo, a SAF é um recomeço. Finda-se um CNPJ, cria-se outro e o repassa para um investidor. Mais ou menos isso. Quase que uma bancarrota. Vende-se as dívidas pelo valor de face, mas aliena-se também toda a história, quase sempre centenárias, destas equipes. Na verdade, é a consumação pública e anunciada do fracasso e da incompetência das gestões recentes – ou não – desses clubes, que passam, agora, a ter um dono.

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Nesse recorte, eu só estranho uma coisa: a forma como os torcedores comemoram a venda da história de seu clube. Na verdade, o torcedor é vendido junto. Ainda assim, comemora. Honestamente, isso, eu não entendo. Ao menos, não de imediato. Tudo bem que deve ser esperançoso o aceno de um grande aporte financeiro e de uma gestão profissional, mas deve ser meio assustador pensar que um magnata gringo da vida pode fazer o que bem quiser daquele time para o qual a gente doa boa parte de nossas emoções. Sei lá, deve ser meu pé atrás de sempre.

Nesta quinta-feira (10), vi uma notícia que, a princípio, pareceu-me mais interessante. Ao menos, em um primeiro momento. Na esteira das SAFs, o Figueirense lançou um crowdfunding, uma vaquinha gourmet, que vai permitir que torcedores sejam “donos” de uma parte do clube. O Figueirense também ruma para uma venda, mas vai permitir que os torcedores comprem 5% das ações pela bagatela de R$ 5 milhões.

Não sei dizer se a iniciativa, para mim uma novidade, vai dar certo. Sei lá, deve ser meu pé atrás de sempre. Mas acho por demais interessante garantir, mesmo que em um pequeno quinhão, voz aos torcedores. Mais até que os associados dos clubes, são os torcedores quem sustentam, de fato, o esporte. Pode ser business, mas, muito mais que um negócio, futebol é também paixão e só por ela pode ser movido.

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