Socorrista voluntário detalha procura por ciclista desaparecido em Olaria
Buscas tiveram apoio da PM, dos Bombeiros, de voluntários nativos da região e amigos do desaparecido
A Tribuna conservou, na tarde desta quarta-feira (2), com o guia de turismo e proprietário de agência de turismo, Gabriel Fortes. Ele foi um dos voluntários que, juntamente com o Corpo de Bombeiros, localizou Marcus Cezar Reis, o ciclista de 65 anos que estava desaparecido no alto da Serra do Cruz, entre os municípios de Olaria e Bom Jardim de Minas. Segundo Gabriel, que atualmente também é presidente da Associação dos Municípios do Circuito Serras do Ibitipoca, o local onde o desaparecido foi encontrado é um cânion de mata fechada, de difícil acesso e pouca visibilidade.
Ele contou que, junto com o guia turístico Márcio Lucinda, foi acionado pela Prefeitura de Olaria, depois que a notícia do desaparecimento do ciclista chegou à cidade. “Eu trabalho na região há 26 anos como guia de montanha. Tenho cursos de resgate, socorrista e brigadista. Quando chegou a notícia do desaparecimento, eu e Márcio Lucinda, que também é guia, fomos acionados pela Prefeitura, pelo conhecimento que temos da região, para guiar o Corpo de Bombeiros no local”, relatou, ressaltando que as buscas contaram com a participação, além dos bombeiros, de cerca de 20 voluntários, nativos da região e amigos do próprio desaparecido.
“Foram dois dias de busca. Tínhamos conhecimento desse trajeto que seria realizado pelo ciclista, pois, como estamos vinculados ao Município, ele já tinha apresentado essa possível travessia no alto da Serra do Cruz, que divide as cidades de Bom Jardim, Lima Duarte e Olaria, mas, principalmente, Bom Jardim e Olaria, que era um trecho que ele queria fazer um levantamento de trilha. O Márcio Lucinda chegou a se comunicar com ele, advertindo que era um local difícil, de mata fechada e com um cânion profundo à esquerda”, afirmou Gabriel.
De acordo com o guia, o ciclista e o amigo partiram para o local cientes das dificuldades do trajeto. “Porém, eles chegaram muito tarde nesse ponto mais crítico, por volta das 15h. Eles tentaram atravessar a mata de bicicleta, mas foi ficando cada vez mais difícil, tanto que o companheiro dele achou melhor retornar. Mas como o ciclista era mais destemido, insistiu em continuar o trajeto. O companheiro dele parou e começou a gritar por aproximadamente dez, 15 minutos, mas o ciclista já não respondia mais. Com isso, a noite caiu, e o parceiro dele retornou para uma área descampada, arrumou um abrigo e passou a noite. Na manhã do dia seguinte, ele tentou entrar na mata gritando pelo amigo, mas não teve resposta. Assim, retornou todo o trajeto já feito e chegou na comunidade Quintilianos, em Olaria. Nós fomos contactados, mas já era tarde de segunda-feira. Começamos a busca na terça e continuamos nesta quarta. Por volta de meio-dia e meia, com os bombeiros e a aeronave, que foi fundamental para deslocar as equipes para pontos estratégicos, tivemos sucesso na localização”, contou, acrescentando que houve a mobilização das prefeituras de Olaria e Bom Jardim, que acionaram voluntários, disponibilizaram veículos e lanche para os envolvidos na busca.
Cânion profundo e mata fechada
Conforme Gabriel Fortes, o desaparecido foi encontrado dentro cânion.”Ele estava num local muito difícil dele ser localizado, porque têm partes que não se consegue avistar do céu. O cânion é muito profundo e com uma cobertura vegetal muito grande, impedindo a entrada da luz, deixando muitos lugares escuros. Com isso, ele perdeu toda a referência, sem falar que é um local de trajeto difícil, que exige muito esforço físico.”
Essas dificuldades, como relatou o guia, fizeram o ciclista decidir por ficar em um ponto perto da água. “Ele passou três dias nesse local até ser encontrado. Ele nos contou que não teve muita fome, mas mais sede. Por isso ficou perto da água. Ele ficou perdido e desorientado para poder voltar”, relatou Gabriel, ressaltando que o ciclista foi encontrado com leves escoriações e consciente. “Imaginávamos encontrá-lo em outro cenário, porque estava com pouca comida, havia a possibilidade de um acidente dentro de um buraco, de estar inconsciente depois de bater a cabeça em uma pedra ou até mesmo morto. Mas ele estava bem diante de tudo que ele passou.”
Para Gabriel, foi uma satisfação poder contribuir com as buscas e com a vida de outra pessoa. “Como montanhista que sou, eu podia ser a vítima. Então, nesta hora, a gente tem que ter a empatia de se colocar no lugar do outro. Como tinha o conhecimento geográfico da região, experiência de estar dentro de uma mata, eu podia contribuir. Poder ajudar o outro, acabando em um final feliz, é muito satisfatório”, concluiu.
A Tribuna tentou fazer contato com familiares da vítima, mas as ligações não foram atendidas. A última atualização do Corpo de Bombeiros, feita logo após o resgate, era de que o homem foi resgatado com escoriações e debilitado.