O tempo que passa aos nossos olhos e sentidos é quase imperceptível, só nos causa espanto quando o contamos. O tempo passado nos assusta quando sua contagem se torna maior pelas lembranças que pelos planos, o tempo passado superando os dias futuros prenuncia o ocaso, mas não o final dos tempos.
Aristóteles, intelectualmente atraído por essa questão, diz que o tempo está diretamente relacionado com o movimento, o ato de se realizar algo, e que toda realização se dá em certo tempo. Portanto, tal como o movimento jamais cessa, o tempo igualmente é infindo, ou seja, eterno, e, sendo a vida uma eterna movimentação, ela, a vida, é eterna, e nessa visão perde sua limitação de tempo contado para tempo infinito. Essa longevidade do antes nos trouxe ao presente, e com esse traçamos o futuro.
O que dificulta nossa aceitação da eternidade é o apego às coisas do momento ou tempo presente. Nossos amores, familiares e as alegorias da vida, os bens materiais que embelezam a caminhada caminham ao aparente término, e o futuro se dissolve em desesperança. E isso não é do hoje. Nos tempos do Cristo, o povo ia e vinha daqui para lá sofrendo pressões e exigências da vida material, acreditando não possuírem tempo suficiente para realizar o necessário. Correria, agitação e pressa são características daqueles menos avisados, de todos os tempos.
As estradas da vida estão cheias de pessoas que se deslocam de um ponto a outro na busca atormentada por interesses imediatistas, sem encontrarem tempo para as emoções de longa duração. Vivendo a vida como aqueles antigos calendários em que se destacava a pequena folha do dia vivido, jogada ao cesto de lixo, para viver outras 24 horas.
Lançando nossos olhos para a eternidade, Jesus disse: “Vinde vós mesmos para um lugar ermo, em particular, e descansai um pouco!”. Pois eram muitos os que vinham e saíam e nem para comer encontravam tempo.
Como acontecia nos tempos do Cristo no planeta, a humanidade permanece entre a procura passageira e o encontro do temporário, na mocidade festiva e na velhice melancólica.
É muito provável que não seja encontrado o jardim externo da felicidade ou a natureza perfeita ao repouso material, mas com certeza o Cristo nos ensina o “lugar ermo em particular”, o santuário de nosso coração, do ser interior, onde no altar das emoções dignificantes espargidas por Jesus encontraremos noções de paz e justiça, de amor e felicidade, possíveis no plano de nossa vida presente.
Ir ao encontro do Mestre de Nazaré é o destino daquele que, utilizando seu livre arbítrio, deixa na beira da estrada as inutilidades passageiras, levando consigo as benesses das emoções eternas que se originam nas palavras e nos exemplos do Mestre Maior. Necessário se faz não perder mais tempo, ouvir e atender ao Seu chamado: “Vinde vós mesmos para um lugar ermo”. E sempre entender a eternidade da vida, movimentando-nos no tempo como um dom que nos é dado para conquistar a verdadeira felicidade.
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