Três gerações ‘Em carne viva’, de Jacqueline Woodson

Segundo romance da escritora norte-americana é lançado no Brasil e retrata o preço das escolhas de famílias afro-americanas


Por Júlio Black

23/02/2022 às 07h00- Atualizada 24/02/2022 às 11h23

 

Lançado em 2019 nos Estados Unidos, livro chegou ao Brasil em janeiro pela Editora Todavia(Foto: Reprodução)

Nós somos nossas escolhas: o axioma poderia muito bem resumir “Em carne viva” (Editora Todavia), o mais recente livro de Jacqueline Woodson a sair no Brasil. A escritora norte-americana, que iniciou sua carreira na literatura infanto-juvenil, já era conhecida do público brasileiro graças a seu primeiro romance adulto, “Um outro Brooklyn”, lançado em 2020 também pela Todavia, baseado em suas memórias da juventude.

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No caso de “Em carne viva”, a romancista desenvolve uma trama a respeito do preço das escolhas, expectativas, racismo, crescimento, sexualidade, livre-arbítrio, tradições, destino e ancestralidade. A história começa em 2001, em Nova York, na festa de maioridade de Melody, que acaba de completar 16 anos. Para a ocasião, ela usa o vestido costurado há 16 anos para a festa de sua mãe, Iris, que acabou não acontecendo após ela ficar grávida de Aubrey. O momento é marcado pelo contraste entre a tradição familiar da celebração da maioridade e a modernidade, pois a adolescente desce as escadas ao som de Prince, tocado pela banda que se espreme na sala da casa dos avós com a família e amigos da jovem.

“Em carne viva” é o segundo romance da norte-americana Jacqueline Woodson (Foto: Carlos Diz/Divulgação)

A partir de então, o livro passa a contar uma história fragmentada, em que passado, presente e futuro se misturam, a partir do ponto de vista e memórias de cinco personagens. No caso de Melody, existe a relação difícil com Iris, mãe ausente durante a maior parte de sua vida: logo que a filha nasceu, ela a deixou sob os cuidados do então namorado, Aubrey, e de seus pais, para fazer faculdade no estado de Ohio, em busca da realização de seus sonhos e da liberdade que não teria em casa com o namorado e a filha, e também para se descobrir como pessoa.

Quanto ao esforçado Aubrey, as lembranças remontam à pobreza da infância com a mãe solteira, os sonhos não realizados com Iris e o amor incondicional pela esposa e filha. A matriarca, Sebe, relembra principalmente como a mãe sobreviveu ao Massacre de Tulsa, em 1921, quando a população branca local destruiu a comunidade negra da cidade. O pai de Iris, Po’Boy, se recorda como conheceu Sebe e se admira com a neta, ainda mais por saber que terá pouco tempo com ela.

Jacqueline Woodson precisa de pouco menos de 140 páginas para contar uma história que ultrapassa gerações e em que as decisões – ainda mais em um momento tão difícil como a adolescência -, as tradições, a trajetória familiar e suas tragédias se misturam para ditar quais caminhos os personagens irão tomar, mostrando que a vida pode oferecer inúmeras alegrias, mas, ao mesmo tempo, quase a mesma medida de provações. Graças ao talento da escritora ao entremear essas histórias, será difícil para o leitor não terminar o livro o mais rápido possível, assim como se identificar com as gerações retratadas no ótimo “Em carne viva”.

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