Francisco nos convoca à ação política
Desde as primeiras comunidades cristãs até hoje, quem se dispõe a seguir Jesus deve amar ao próximo. Embora muitas vezes esse mandamento seja desobedecido, ninguém pode negar que a caridade é o melhor sinal da autenticidade de uma comunidade cristã. O problema é saber até onde deve-se estender o amor ao próximo, como perguntou o mestre da lei a Jesus e teve por resposta a parábola do samaritano (Lucas 10, 25-37). O Papa Francisco retoma aquela parábola na encíclica Fratelli Tutti, para explicar o que é o amor – ou amizade – social. Esse conceito representa uma inovação no ensino social da Igreja ao incluir explicitamente a política. Esse tema ganha especial relevo neste ano eleitoral.
Ensina Francisco: “É caridade acompanhar uma pessoa que sofre, mas é caridade também tudo o que se realiza – mesmo sem ter contato direto com essa pessoa – para modificar as condições sociais que provocam o seu sofrimento” [182]. Ele mesmo dá o exemplo: ajudar alguém a atravessar um rio é obra de caridade; mas melhor é construir uma ponte para que ninguém deixe de atravessar o rio por faltar quem ajude. Na primeira forma de amor ao próximo, seu destinatário é individualizado; na segunda, o amor beneficia toda pessoa que precise atravessar o rio. Esse amor que não se prende a um indivíduo, mas beneficia a muitos, conhecidos ou desconhecidos, é a forma que Francisco chama amor “imperado: traduz os atos de caridade que nos impelem a criar instituições mais sadias, regulamentos mais justos, estruturas mais solidárias”.
O sinal de êxito desse “empenho com o objetivo de organizar e estruturar a sociedade” é que “o próximo não se venha a encontrar na miséria” [86]. Este é o papel primordial do Estado: assegurar o exercício dos direitos humanos – aqueles que todos temos pelo fato de fazermos parte da humanidade – e os direitos de cidadania – definidos pela Constituição para assegurar vida digna a todos os seus cidadãos e cidadãs.
Participar da política é atuar para que as instituições do Estado funcionem de modo tal que o próximo não venha a sofrer de fome, falta de trabalho ou ficar na miséria. Francisco une claramente caridade e política: ao promover políticas sociais – pelo menos no campo de educação, saúde, transporte, habitação e previdência -, o Estado torna-se instrumento de amor ao próximo. Nesse ponto Francisco não faz mais do que retomar o que já diziam os santos Paulo VI e João Paulo II, ao afirmar que a política – praticada com ética e justiça, em favor do bem comum – é “uma forma sublime de caridade”.
Neste ano, somos convocados a participar do processo eleitoral que vai definir as prioridades das políticas nos âmbitos federal e estadual. Precisamos escolher criteriosamente o partido e os candidatos ou as candidatas que, em nosso nome e com o respaldo de nossos votos, vão implementar as políticas sociais.
Não podemos ficar alheios a esse chamado da Igreja!
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