Mallones e Makoomba celebram o rap e o funk no ‘Baile do Futuro’

Evento acontece neste domingo no Mirante da Vila; uma das atrações, RT Mallone participa em abril do festival “Cena 2K22”


Por Júlio Black

19/02/2022 às 12h00

RT MALLONE (de vermelho) se reencontra com os Mallones para mostrar suas rimas a sua própria comunidade (Foto: Fernando Priamo)

Criados na Zona Leste de Juiz de Fora, alguns dos rappers que fazem a cena local se movimentar enfim levam ao público de suas comunidades o som que vêm fazendo há alguns anos no “Baile do Futuro”, que acontece neste domingo, a partir das 11h, no Mirante da Vila, no Bairro Vila Alpina. Por módicos R$ 10, os fãs do rap e do funk poderão assistir a shows dos “Mallones” (Jullyo Mallone, U’FB Mallone, BRK Mallone, Jhonny Mallone e RT Mallone), sets dos DJs e produtores do coletivo Makoomba (Crraudio, Acósmica, Ocrioulo) e do DJ JK da Vila, além de pocket show de LCoficiial. Para marcar presença, é preciso respeitar as medidas de prevenção contra a Covid e mostrar cartão de vacinação com pelo menos duas doses.

Um dos idealizadores do evento, RT Mallone conta que a realização de um “Baile dos Mallones” era um sonho antigo, de mais de dez anos, desde quando os artistas se reuniram sob o mesmo nome. Porém, como juntaram forças com o pessoal do Makoomba – que comemora seis anos de atividades -, o evento ganhou o nome de “Baile do Futuro”.

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Mallone explica, ainda, que o baile tem entre seus objetivos descentralizar os meios de entretenimento e voltar os olhares para a própria comunidade. “Queríamos fazer o baile para trazer a cultura do rap para os bairros, que é onde deveria estar, mesclando com o funk. Estamos todos muito animados e felizes porque o público comprou a ideia, já vendemos muitos ingressos antecipados”, comemora.

Quanto à demora para tornar o sonho realidade, Mallone diz que a parte financeira foi o menor dos problemas; mais difícil foi encontrar um local na região com estrutura para realizar o baile. “Geralmente, os eventos de rap acontecem longe das comunidades, com ingressos caros; e agora, com esse novo local, em que o dono é amigo nosso, tudo acabou se encaixando. As pessoas estavam acostumadas a nos ver apenas na internet, redes sociais ou na TV, de encontrar com a gente no bairro, mas não nos apresentando perto delas, e havia essa demanda. Agora poderão ver de perto a nossa arte, nossa proposta de fazer o rap andar junto com o funk. Poder associar nossa pessoa física à pessoa artística nos lugares em que fomos criados é muito importante.”

Festival em Sampa

Além de reunir os Mallones no “Baile do Futuro”, RT Mallone também pode comemorar sua escalação no festival “Cena 2K22”, que acontece entre 9 e 10 de abril em São Paulo e vai reunir 70 nomes de destaque do rap nacional e internacional. “É meu primeiro festival fora da minha cidade, o maior de rap e trap do Brasil, e será muito importante poder representar Juiz de Fora ao lado de todos os Mallones, que estarão no palco comigo. Eu sou abençoado por poder contar com eles, que me ensinaram o rap, me ajudaram sempre quando precisei, inclusive financeiramente. Quando decidi seguir carreira eles estavam comigo, e é importante ter todos eles a meu lado no momento em que estou amadurecendo. São minha família.”, afirma. RT Mallone vai se apresentar no mesmo dia em que o Racionais MC’s (10 de abril). “Será enorme pra gente, pois eles foram uma de nossas inspirações.”

Fim de um ciclo

O bom momento do rapper de 27 anos não se resume apenas aos shows. Ele lançou, em dezembro, seu terceiro álbum de estúdio, “Kipembe”, que Mallone diz encerrar um ciclo em sua carreira. “Esse álbum fecha uma trilogia que criei, com histórias de personagens do arado, de pessoas com quem convivi no bairro. Nesse álbum, apresentei um personagem que quis ser grande para além das barreiras que foram impostas a ele, encarando o mundo de peito aberto, com a vontade de melhorar financeiramente, como os traumas mexeram com ele e como tudo levou até esse ponto de amadurecimento que sinto agora”, filosofa.

Foto: Fernando Priamo

“O mote principal do álbum é ‘o tempo e o dinheiro’, qual era mais importante pra mim, o quanto são próximos e ao mesmo tempo distantes”, prossegue. “Nós da periferia costumamos pensar que tempo é dinheiro, mas a arte te possibilita enxergar o tempo de outra forma, que ele é mais importante que o dinheiro. O jogo da arte é você conseguir passar o que tem que passar e não necessariamente se prender ao dinheiro.”

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Nesse processo de amadurecimento está incluído o ano que ele passou em São Paulo, uma nova realidade que teve de encarar. “Fiquei mais de um ano fora do meu bairro, da minha cidade, em um lugar em que não sabia nada. Tive que aprender coisas novas, que espero usar para ajudar minha família, meu bairro e minha cidade. Quero que Juiz de Fora seja grande artisticamente, e quero descobrir como ajudar.”

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