Faltam os programas
As articulações para formação de chapas não impedem a apresentação dos planos dos candidatos para a próxima legislatura
Os pré-candidatos João Doria, Ciro Gomes e Sérgio Moro, tidos como alternativa ao presidente Jair Bolsonaro e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula, que lideram as pesquisas, terão que remar muito para desconstruírem a polarização que continua sendo uma realidade na cena política. O candidato do PDT lançou na última sexta-feira o seu plano de governo, com propostas econômicas que soaram aos ouvidos de diversos setores e que, de uma certa forma, foi um início do que se espera dos demais: suas propostas para o mandato.
O governador de São Paulo tem data de validade estabelecida pelos próprios pares, especialmente os mineiros capitaneados pelo adversário Aécio Neves. Entendem que o vencedor da prévia precisa sair da casa de um dígito até o fim do março sob o risco de perder seu apoio. Nesse grupo estaria até o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que ficou em segundo lutar na disputa interna do PSDB. Obstinado ao limite, Doria disse que vai subir, embora não garanta prazo firmado pelos tucanos de Minas.
O ex-juiz vive, inicialmente, o dilema da filiação: está num partido, mas pensa em outro, enquanto tem pela frente desafios jurídicos do próprio meio. Diversas associações querem conhecer o seu saldo bancário após consultoria nos Estados Unidos. Trata-se, é fato, de um exercício de oposição, mas ele tem que ir à frente para consolidar o seu projeto em vez de adotar o discurso do confronto com Bolsonaro e Lula, dupla que tem mais experiência de embate.
O primeiro mês do ano está indo embora, e o jogo continua indefinido, mas os postulantes ao caminho do meio precisam estar atentos aos bastidores. O representante do PT acalmou os radicais do seu partido e tenta dialogar com o centro e até com a centro-direita, bastando acompanhar seus recentes pronunciamentos. Bateu o pé com Geraldo Alckmin e neutraliza um importante setor do centro, como fez em 2002, quando trouxe como vice o empresário José Alencar, que acalmou o chamado mercado. Hoje, com a mesma perspectiva, há os que preferem Josué Alencar, presidente da poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e filho de José Alencar, em detrimento de Alckmin.
O presidente Bolsonaro, por sua vez, conserva a sua base, mas sabe que sem aliados ao Centro terá pouco espaço com os eleitores, especialmente do Nordeste. A questão é saber até que ponto pretende atender às demandas do insaciável centrão e como vai atuar para domar a inflação.
A economia tem peso substancial na opinião pública, exigindo dos candidatos a apresentação de suas propostas. Não se trata de um discurso apenas para os empresários. Quando a economia vai bem, todos ganham, inclusive a democracia.