Os tombamentos carijós


Por Bruno Kaehler

26/01/2022 às 07h00- Atualizada 26/01/2022 às 21h14

Há quase dez anos, eu pisava pela primeira vez como jornalista no gramado já castigado do Estádio Salles Oliveira. Importante um rápido parênteses – o torcedor homenageado pelo clube, também professor, advogado, jornalista e político, foi o Dr. Francisco DE Salles Oliveira. O correto, no entanto, ao se referir ao palco esportivo que completa 90 anos em junho, é Salles Oliveira. Mas, voltando, há cerca de uma década eu comemorava a felicidade de cobrir um treinamento do Tupi, a referência no futebol profissional da cidade.

Antes disso já tinha ido ao Salles até pra tentar estágio como assessor do Galo. Por motivos financeiros, algo que eu entenderia melhor nos anos seguintes, não fiquei. Mas pude conhecer e conversar com o gigante Aílton Alves, um verdadeiro alvinegro, admirador da rica história, hoje centenária.

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Lembrando do ex-assessor do Galo, aliás, antes de prosseguir, tenho que dizer que entendo como humanamente impossível não amar o clube após meses, anos de cobertura com entrevistas com pessoas como Geraldo Magela, Toledinho, o zagueiro Murilo, Evaldo, Ricardo Estrade, Walker Campos, Luís Augusto, Adeil… perdoem os nomes não citados, são muitos, e o espaço é limitado.

Mas vim falar dos tombamentos. Porque aos românticos e amantes da história do Tupi, que naturalmente se confunde com a do esporte de Juiz de Fora, acredito que, no fundo do coração de cada um, não é a negativa do reconhecimento como patrimônio municipal, oficializada na última segunda-feira, que dói mais.

São os tombamentos no outro sentido da palavra que consomem os carijós. A escuridão administrativa de quase uma década que gerou dívidas milionárias. O quase inexistente reconhecimento dos ídolos do clube. Resultados e times pífios, com algumas exceções, claro, como em 2014, 2015 e 2018. Basta ver o estado do Salles Oliveira. Retrata a importância que o clube deu aos seus maiores patrimônios – ídolos e torcedores que construíram a história alvinegra.

Fosse um clube transparente e organizado, e o pensamento seria o mesmo? E não sou eu que diz isso. Em todo canto de Juiz de Fora comentam quando digo que cubro o Carijó. A Polícia Civil segue com investigação profunda sobre a administração do clube. Em todos os comentários das matérias divulgadas pela Tribuna há uma lamentação sobre “o que fizeram com o Tupi” ou o questionamento “pra onde o dinheiro vai?”

A tristeza do verdadeiro carijó, e não aqueles que querem aparecer em meio à polêmica como se fossem torcedores ou se importassem com o clube, está, principalmente, em ver um Tupi, ano a ano, em coma. E entendendo como necessária a provável demolição do histórico Salles Oliveira ou não, o Tupi precisa acordar. Pra ontem.

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