Material escolar tem reajuste médio de até 30% em Juiz de Fora
Maior aumento recai sobre produtos importados; cotação do dólar e commodities impactaram a oferta de plástico e papel
Após um ano marcado por oscilações no mercado internacional, a alta do dólar e a desvalorização da moeda brasileira ainda impactam o cenário econômico de 2022. A perspectiva de estagnação da moeda americana nos últimos meses, não conseguiu diminuir os reflexos causados por sucessivas altas, resultando em uma série de reajustes ao consumidor. Um dos setores que constatou o impacto, já no início do ano, foi o das papelarias, que iniciaram as vendas de material escolar em janeiro. Empresários do setor apuram que, em Juiz de Fora, o reajuste médio variou de 10% a 30%, podendo chegar a 20% para os itens importados, que variam de acordo com a economia mundial. Pesquisa do Procon realizada esta semana aponta que alguns itens chegaram a subir até 300%, como tinta para pintura, giz de cera e lápis de cor.
Proprietário de uma papelaria no Centro de Juiz de Fora, Gustavo Barra, confirma que os produtos nacionais vão chegar ao consumidor 10% mais caros em média este ano. Os itens que são importados registram aumento mais acentuado, chegando à média de 20%. “Tudo que envolve plástico na fabricação como apontador, borracha, caneta, canetinha, teve esse aumento maior. Os produtos nacionais como giz de cera e lápis de cor, tiveram reajuste menor. Praticamente toda nova compra que a gente faz chega com um preço diferente. Tentamos repassar o mínimo para o consumidor, mas um pouco desse valor acaba que temos que passar adiante.”
Para as vendas deste ano, a expectativa é que o faturamento aumente um pouco, visto que, em 2021, as aulas ainda estavam sendo ministradas de forma on-line. “Ano passado não teve volta às aulas, por isso, a gente espera que, pelo menos, cheguemos ao patamar de 2020. Não projetamos nenhum crescimento, queremos pelo menos igualar o faturamento, uma vez que, em 2020, já tinha um medo na população em relação à pandemia, e as vendas já não foram tão boas como em 2019. Percebemos que a procura já aumentou bastante comparado ao período normal. Nós tivemos que contratar mais quatro funcionários para dar esse suporte aos clientes, a expectativa é que, na segunda quinzena, o movimento quase triplique.”
‘Caderno que era R$ 12,95 hoje está saindo por R$ 15,95’
Em um outro estabelecimento na cidade, os produtos adquiridos este ano tiveram aumento médio entre 12% e 15%, segundo o gerente Michel Adriano. Os únicos itens que continuaram com os mesmos preços foram os que já estavam no estoque da loja desde o ano passado. “Caderno foi o produto que mais subiu, mas no geral todos tiveram aumento. Nós tínhamos um caderno que era R$ 12,95 e hoje está a R$ 15,95. Esse reajuste já veio direto do fabricante e nós tivemos que repassar. Apenas alguns materiais nós conseguimos manter o preço, porque como no ano passado não teve volta às aulas, nós tínhamos algum estoque. Estes itens tiveram reajuste de 3%, mais ou menos. Já os que tivemos que comprar, no geral, veio com reajuste de 12%, como é o caso do lápis, da caneta e outros itens básicos.”
Segundo ele, apesar do aumento, entre os itens mais procurados estão os cadernos, canetas, borrachas e lápis de cor. “Mochila os pais também estão procurando bastante, porque tem quase dois anos que as crianças não usam, já que não estavam indo para a escola. Então a procura está sendo bem grande.”
Incerteza ainda impacta comportamento do cliente
Proprietário de papelaria, Rafael Henrique Faza afirma que, além do impacto do reajuste, a incerteza em relação à Covid-19 e ao retorno das aulas também é vista como um fator de grande influência no comportamento do consumidor. “Os pais costumam procurar os materiais mais básicos por causa dessa incerteza. Muitos ainda têm dúvida se as crianças vão estudar. Nesses casos, eles compram o necessário só pra criança começar as aulas e depois, se o cenário permanecer igual, voltam para fazer uma compra mais completa.”
Em relação ao movimento na loja, Faza avalia que ainda está menor do que nos anos anteriores à pandemia. “Não está igual um volta às aulas tradicionais. Até a chuva que esteve presente nesses últimos dias atrapalhou um pouco. A incerteza ainda é muito grande, mas o movimento está melhor que ano passado. Esperamos aumento na procura em relação a 2020, mas acredito que ainda não vamos recuperar o que tínhamos antes da pandemia.”
Reajuste mais acentuado
Outro estabelecimento no município registrou aumento ainda mais acentuado no valor dos produtos, podendo chegar a 40%, em comparação com o ano passado, explica o proprietário Tiago Ferreira Costa. “Em média, tivemos 30% de reajuste entre todos os itens. Os que tiveram mais aumento foram as pastas e os cadernos. Estes, por exemplo, tiveram um reajuste de 40% do ano passado para cá. Um caderno comum mais barato está sendo vendido por R$ 4,90, sendo que, no ano passado, estava a R$ 3,50. Os de dez matérias estão custando uns R$ 15, e, no ano passado, custavam em torno de R$ 10. As mochilas também sofreram com isso, porque a maioria é importada da China, então tem a alteração por causa do dólar.”
Levantamento Procon-JF
Na quinta-feira (19), a Agência de Proteção e Defesa do Consumidor de Juiz de Fora (Procon/JF) divulgou uma pesquisa de preços, realizada nas primeiras duas semanas de janeiro, com 11 papelarias do município, e constatou o reajuste no valor dos produtos. Os itens das áreas de arte, desenho e cultura, como tinta para pintura, giz de cera e lápis de cor, tiveram uma média de 300% de aumento. Nos materiais de escrita, como lápis e canetas, o aumento foi, em média, de 12,29%. Já os produtos diversos como cadernos e papel A4 tiveram aumento de 4,11%.
Mercado externo afetou preço dos produtos importados
O economista do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Matheus Peçanha, explica que a crise no mercado de de matérias-primas, vivida em 2021, ajudou a levar o preço dos materiais a um novo patamar. “Na indústria química e de celulose, tivemos um impacto muito grande no valor e na distribuição do plástico e do papel por causa do preço das commodities. Na indústria química, o plástico vem do petróleo, que é vendido em commodities, e o papel é feito com a celulose, que utiliza diretamente a madeira, que também é uma commodity.”
Ele ainda explica que a taxa de câmbio estacionou nos últimos meses, entretanto, a disparada do dólar, no início do ano passado, impacta diretamente no valor dos produtos comercializados em janeiro deste ano. “O dólar está em uma lateralidade há um bom tempo, em um patamar de R$ 5,50 ou R$ 5,60. Mas no começo do ano passado, ele estava abaixo de R$ 5. Então esses R$ 0,50 ou R$ 0,60 a mais, de um ano para o outro, fazem uma boa diferença nos produtos importados.”
Além disso, o retorno do ensino obrigatório presencial faz com que o setor repasse os reajustes que ficaram represados durante o ano passado. “O setor de papelaria costuma acumular o reajuste todo sofrido durante o ano para esse período de janeiro e fevereiro. Como no ano passado não teve aula presencial, a gente viu uma perda de importância desses materiais físicos utilizados no ensino presencial, como por exemplo, caderno, lápis, caneta. Como agora tem uma demanda maior pelo ensino presencial, o setor vê isso como uma chance de tentar reaver as perdas dos anos anteriores com a presença do ensino a distância que reduziu bastante a demanda desse setor.”
Horário especial para o comércio
Na sexta-feira, dia 14, o comércio de Juiz de Fora deu início ao horário especial para a venda de materiais escolares. Até o dia 15 de fevereiro, lojistas do setor podem abrir os estabelecimentos das 8h30 às 20h, de segunda a sexta, e, nos sábados, das 8h30 às 16h.
De acordo com o presidente do Sindicomércio, Emerson Beloti, o período de volta às aulas é o mais importante para o ramo de papelarias. “O início do ano escolar é praticamente o natal para esse setor. As papelarias e lojas de uniformes conseguem um faturamento para os próximos três, quatro meses. Além disso, também é uma época muito importante porque com a pandemia, muitas empresas ficaram fechadas, principalmente as escolas.”