Diretora Bruna Schelb tem dois curtas exibidos na mostra ‘Cinema e (re)invenções’, em BH

Gravados durante a pandemia, “Temos muito tempo para envelhecer” e “Boa sorte e até breve” fazem parte da “Trilogia do papelão”, inspirada na pandemia


Por Júlio Black

14/01/2022 às 07h00

Em “Temos muito tempo para envelhecer”, a protagonista recria em casa a rua que não pode mais frequentar (Foto: Reprodução)

Em 2020, a diretora, roteirista e atriz Bruna Schelb começou a criar uma série de filmes que retratasse os tempos pandêmicos que vivemos há quase dois anos. Foi daí que surgiu a “Trilogia do papelão”, que já teve exibido em festivais o curta “Olho além do ouvido”. Agora, chegou a vez das outras duas produções: “Temos muito tempo para envelhecer” e “Boa sorte e até breve” serão exibidos na mostra “Cinema e (re)invenções”, que tem início nesta sexta-feira (14) e prossegue até o próximo dia 20 no Cine Humberto Mauro, em Belo Horizonte, no formato híbrido. Os filmes foram contemplados na sexta e sétima edições do Prêmio BDMG Cultural/FCS, respectivamente, ambos na categoria de curta-metragem de baixo orçamento.

No caso de “Temos muito tempo para envelhecer”, a produção será exibida sábado (15), às 17h; “Boa sorte e até breve” terá exibição na segunda-feira, às 20h. Os filmes também podem ser assistidos durante todos os dias da mostra pela plataforma cinehumbertomauromais.com. Bruna também teve “Olho além do ouvido” selecionado para a Mostra de Cinema de Tiradentes, outro evento que investe no formato híbrido. A exibição está programada para o próximo dia 23, às 16h.

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Apesar de poder ser assistida de forma avulsa, a “Trilogia do papelão” tem uma “ordem cronológica” que pode ser observada se assistida na sequência em que os curtas foram produzidos, entre 2020 e 2021. “Temos muito tempo para envelhecer” é sobre uma mulher que, confinada em casa e sem poder sair, decide recriar a rua em que vive dentro de casa; “Olho além do ouvido” (codirigido com Luis Bocchino) é uma fábula em que uma jovem tenta abrir os olhos de uma população que se fechou para a busca de conhecimento e informação; e “Boa sorte e até breve” mostra uma mulher que retorna do futuro próximo para reencontrar a si mesma, que não poderia imaginar as provações pelas quais todos nós passaríamos – e ainda estamos enfrentando. Todas as personagens são interpretadas pela cineasta.

Segundo Bruna, cada história reflete seus sentimentos em determinados momentos da pandemia, o que justifica a sugestão de sequência para assisti-los. “No início da pandemia veio a reflexão dessa clausura que vivemos, de ter que ficar consigo mesmo, distante do que estava de fora, e que está em ‘Temos muito tempo para envelhecer’. ‘Olho além do ouvido’ veio do que me incomodava na época, que era o negacionismo, e ‘Boa sorte e até breve’ representa o que estou sentindo agora, que é um pouco de cansaço de tudo isso, do pouco de resistência que temos quando falam para seguirmos resistindo. Falar dessa mulher é tentar falar do futuro, quando as coisas melhoraram, ou pelo menos mudaram”, explica.

Curta “Boa sorte e até breve” mostra personagem que volta do futuro e reencontro sua visão do passado – e que não imagina o que estava por vir (Foto: Reprodução)

Estéticas variadas

Quem assistir aos três curtas poderá observar que eles são diferentes entre si em termos estéticos, de narrativa e linguagem, aproveitando unicamente o apartamento de Bruna como locação. Entre os recursos utilizados estão a técnica de pixilation, em que a ideia de ação se dá por meio de fotografias em sequência; o “rebobinar” das imagens em que a diretora/atriz gravou se movimentando de trás para frente; e o uso do recurso do teatro de sombras. “Acima de tudo, queríamos ter três filmes diferentes e explorar o que poderíamos fazer com os limites que a gente tinha – no caso, o apartamento ou só um cômodo dele -, e o Luis queria experimentar diversas técnicas. Mas também queríamos que a narrativa tivesse a ver com o formato estético.” Dentro dessa proposta, o uso do papelão foi fundamental para a criação de cenários e objetos – e um recurso mais que acessível durante a pandemia, com as inúmeras caixas feitas do material que chegava graças às compras pela internet.

Perspectivas variáveis

Os curtas da trilogia imaginada por Bruna Schelb representam momentos distintos na vida da artista durante a pandemia, e servem para o público refletir sobre o que ele mesmo sentiu num passado não tão distante – ainda que a sequência de tragédias e absurdos diários faça com que a semana passada pareça ter acontecido séculos atrás.

Por isso mesmo, fica a questão: como a cineasta acredita que as histórias dos curtas servirão, no futuro, como um retrato dos nossos dias?

“Acho que a gente, enquanto sociedade, tem muita facilidade de esquecer as coisas, o que de ruim que aconteceu com o coletivo. Fazemos de tudo para esquecermos, como é o caso agora, que tentam nos convencer que a pandemia acabou. Acredito que todos esses filmes que têm sido feitos serão formas de contar essas histórias; e, quanto mais plurais elas forem, mais material teremos como coletivo para interpretar o que aconteceu no mundo. A incerteza que vivemos agora faz com que essas histórias tenham perspectivas diferentes dependendo do momento, e por isso acredito que esses filmes vão ‘envelhecer’ de acordo com a forma que as coisas acontecerem”, analisa Bruna, que deve estrear em fevereiro, no Mamm (Museu de Arte Murilo Mendes), seu mais recente projeto: o curta “Klaxon e o espírito moderno”, realizado por meio do edital Pau-Brasil do Programa Cultural Murilo Mendes.

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