Falta de chips para produção de veículos pode se estender até 2023

Capacidade produtiva das fabricantes está na casa dos 6%, enquanto a demanda registra alta de 17%


Por Cleide Silva (Agência Estado)

31/12/2021 às 08h02

A escassez global de semicondutores, que paralisou indústrias de diferentes setores no mundo todo, incluindo o Brasil, vai continuar no próximo ano e pode entrar em 2023 também, por conta do descasamento entre oferta e demanda. De 2020 a 2022, a ampliação da capacidade produtiva das fabricantes está na casa dos 6%, enquanto a demanda registra alta de 17%. Mas o problema não é só esse.

Os microchips são usados em carros, computadores, celulares e vários outros produtos, mas o setor mais afetado foi o automotivo. A maior parte dos veículos usa semicondutores mais antigos, e as fabricantes priorizam o atendimento de clientes que usam as novas gerações. Um dos motivos é porque garantem melhor retorno financeiro, segundo conclusão do mais recente estudo global da consultoria Roland Berger.

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Atualmente, veículos a combustão usam apenas 5% de semicondutores mais avançados, e os elétricos, 50%. O foco maior dos novos investimentos é a ampliação da produção dos chips mais avançados, o que não vai aliviar a situação das montadoras.

Só as empresas de capital de risco devem colocar mais de US$ 6 bilhões em fabricantes de chips no próximo ano, calcula a consultoria Deloitte. Há novas fábricas sendo erguidas, mas levam em média dois a três anos para ficarem prontas.

A escala de consumo também pesa contra as montadoras. “Só a linha de iPhone da Apple é mais importante para o produtor do que toda a indústria automotiva, o que tira poder de barganha das empresas do setor, assim como prioridade no atendimento”, diz Marcus Ayres, sócio-diretor responsável pela prática Industrial da Roland Berger na América Latina.

Neste ano, a indústria mundial deve perder entre 10 milhões a 12 milhões de carros, que deixaram de ser produzidos por causa da falta de microchips, segundo projeções da consultoria BCG. No Brasil, são 300 mil unidades a menos. Para 2022, o número global baixa para 5 milhões, e o brasileiro para cerca de 150 mil.

A Deloitte prevê que a escassez de semicondutores dure até o início de 2023, e que, ao final do próximo ano, a espera por chips será de 10 a 20 semanas. Mas o prolongamento da crise não é consenso. O JPMorgan avalia que a situação deve melhorar no segundo semestre do próximo ano.

Peso

Os problemas não serão de maneira uniforme. Pelo menos uma das grandes montadoras instaladas no país, a Volkswagen, tem previsão de manter 1,5 mil trabalhadores da fábrica do ABC paulista afastados até abril por causa da falta dos componentes.

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Na planta de Taubaté, todos os funcionários da produção terão férias coletivas por 30 dias a partir de 4 de janeiro, emendando com o recesso de duas semanas do fim do ano. No mês seguinte, 1,2 mil trabalhadores ficarão em lay-off por dois a cinco meses.

Por outro lado, a General Motors antecipou para janeiro o retorno de 700 funcionários que estavam com contratos de trabalho suspensos e a volta prevista para abril. Neste mês, a Fiat já havia antecipado o retorno de 900 operários de Betim que deveriam voltar ao trabalho em janeiro, junto com outros 900 também dispensados em outubro.

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