Setores esperam crescimento econômico em JF, apesar dos desafios impostos pela macroeconomia

Tribuna conversou com oito representantes da economia no município, que relataram suas expectativas para o novo ano que se inicia


Por Ester Vallim, estagiária sob supervisão da editora Fabíola Costa

02/01/2022 às 07h00- Atualizada 03/01/2022 às 19h02

Após dois anos de descompasso na economia mundial causado, principalmente, pela pandemia de Covid-19, a recessão que sobreveio ao país ainda deve ecoar em 2022. O impacto da inflação alta, a elevação da taxa de juros e a desvalorização da moeda brasileira no mercado internacional diminuíram as projeções de crescimento a longo prazo no país. Para este ano, especialistas apostam em uma possível estagnação econômica, e a perspectiva é de que o consumidor só sinta alívio no bolso no início do segundo semestre.

Em contrapartida, em Juiz de Fora, a maioria dos segmentos que movimentam a economia da cidade aposta em um crescimento para 2022, que iguale os parâmetros do município aos que eram registrados antes da pandemia, embora exista o receio comum sobre os impactos das novas variantes do coronavírus em toda a cadeia produtiva, em Juiz de Fora, no país e no mundo.

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“Na melhor das hipóteses, a perspectiva é que tenhamos estagnação econômica”

Wilson Rotatori

As eleições, marcadas para o mês de outubro, devem ser responsáveis por potencializar o cenário de indefinição no Brasil. De acordo com o professor de Macroeconomia da UFJF, Wilson Rotatori, períodos eleitorais com disputas acirradas criam incertezas que repercutem no cenário econômico. “Com as informações que a gente tem hoje, podemos vislumbrar um 2022 muito difícil. Na melhor das hipóteses, a perspectiva é que tenhamos uma estagnação econômica, ou seja, um crescimento muito baixo, próximo de zero. Se isso ocorrer, já estaríamos em uma situação considerada positiva, porque, na realidade, a gente corre o risco de entrar em uma nova rota de recessão econômica, a depender de como vai ser o cenário político no país.”

Além de o Banco Central ter diminuído a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2022, a perspectiva, segundo o economista, é que a inflação continue seguindo tendência de alta, mas sem ultrapassar o índice acumulado no ano anterior. “A gente espera que ela fique em torno de 5%, o que não é uma taxa baixa, mas já é a metade do que vimos em 2021. A depender também da variante Ômicron da Covid-19 e as implicações que isso tem na economia do mundo.”

“No meio do ano, não devemos ter elevações significativas de preços e vamos ter um novo equilíbrio”

Weslem Costa

O preço dos itens básicos, que afeta diretamente o consumidor, deve seguir tendência de alta pressionada pela inflação durante os primeiros meses do ano. A sinalização de uma esperada estabilidade deve acontecer somente no segundo semestre, como explica o economista Weslem Costa, professor de Métodos Quantitativos da UFJF. “Os alimentos e os combustíveis, eu acredito que vão continuar aumentando, mas a taxas menores. Já no meio do ano, a gente não deve ter elevações significativas de preços e vamos ter um novo equilíbrio. Não acredito em grandes quedas, mas vai aliviar um pouco. A produção de petróleo, por exemplo, deve caminhar para uma retomada dos níveis anteriores à pandemia e isso vai repercutir em toda a cadeia produtiva.”

Entretanto, mesmo com essa perspectiva, a possibilidade do surgimento de novas variantes da Covid-19 podem mudar o comportamento do mercado. “Petróleo, soja, milho, café e minério de ferro são exemplos de commodities primárias, que têm o seu valor cotado internacionalmente, nas bolsas internacionais. Então, se na economia existe um cenário de incerteza, pela possibilidade do surgimento de novas variantes, isso impacta positivamente o valor dessas commodities. Acredito que esse impacto não vai ser tão grande como em 2020 e 2021, deve ser bem menor, por isso, acredito que a gente vai avançar para um ponto de convergência de preços.”

“Estamos em contato com países que podem ser parceiros na atração de investimentos e abertura de mercados”

Ignácio Delgado

As perspectivas para a economia do país recaem sobre os municípios que têm seus desempenhos impactados pela incerteza do mercado e pelos indicadores macroeconômicos preocupantes, conforme afirma o secretário de Desenvolvimento Sustentável e Inclusivo, da Inovação e Competitividade (Sedic) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), Ignácio Delgado. “Todavia, estamos trabalhando no sentido de criar condições para o desenvolvimento sustentável e inclusivo em Juiz de Fora, na melhoria do ambiente de negócios e no desenvolvimento de tecnologia para mudar a estrutura produtiva da cidade e elevar seu PIB, além da atração de investimentos e projeção da cidade no plano internacional.”

O secretário ainda ressalta que estão sendo desenvolvidos trabalhos para consolidar o município como um polo em energias renováveis, nas áreas de combustíveis alternativos, energia fotovoltaica e mobilidade. “Estamos trazendo para a cidade a Braspell, que tem o foco na produção de fontes alternativas de energia. Há uma parceria firmada com a Greenfuels e a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) para testar e, no futuro, produzir biocombustível na cidade. Estamos em contato com representações diplomáticas e câmaras de comércio envolvendo países que podem ser parceiros na atração de investimentos e abertura de mercados, além da colaboração nas áreas acadêmica e cultural, que têm, também, efeitos econômicos. Brevemente esperamos poder anunciar novos empreendimentos.”

“O desafio é que as pessoas consigam ter de volta a sua renda”

Emerson Beloti

No comércio, a esperança é de que o setor consiga retomar os níveis de crescimento registrados antes da pandemia. Entretanto, segundo o presidente do Sindicato do Comércio de Juiz de Fora (Sindicomércio), Emerson Beloti, a perspectiva esbarra no desafio da recuperação de renda de grande parte da população. “O desafio é justamente esse, que as pessoas consigam ter de volta a sua renda. Os juros estão muito elevados e a inflação ainda continua alta. Esses fatores precisam ser dominados pelo Governo federal. Inclusive, um dos pontos principais para que isso aconteça é o próprio aumento da empregabilidade, nós estamos hoje perto de 12,5 milhões de desempregados no Brasil.”

Diante da quantidade de estabelecimentos fechados nos últimos dois anos em Juiz de Fora, o setor, em 2022, aposta em uma mudança, com a retomada das locações e a abertura de novos empreendimentos. “Como em todo país, ainda existem muitas lojas fechadas na nossa cidade. Em 2021, eu acho que já conseguimos recuperar alguma coisa, com muito sacrifício. Mas, para este ano, outros setores ainda precisam voltar a crescer. Eu vejo que a própria evolução do comportamento do comércio vai fazer com que essas lojas, que estão fechadas, sejam alugadas.” Conforme Emerson, os setores que poderão se destacar em 2022 são aqueles que incorporaram diferenciais ao negócio, seja no atendimento, no preço ou no produto, mas, principalmente, no bom uso do mercado virtual.

“Esperamos voltar aos velhos tempos”

Heveraldo Lima

A indústria de Juiz de Fora espera aumentar o faturamento no início do ano mediante a necessidade de as lojas renovarem os estoques. “Quando o comércio tem boas vendas no fim de ano, em janeiro eles precisam repor os produtos e isso faz com que voltem a comprar da indústria”, explica o presidente da Regional Zona da Mata da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Heveraldo Lima.

Para 2022, o projeto é que a indústria de Juiz de Fora aumente a participação no faturamento do município, na criação de empregos e na integração do setor. “Queremos toda a indústria da Zona da Mata junta para produzir em grandes quantidades, vender para outros destinos do Brasil e até mesmo exportar. A indústria não para, ela tem que sempre se desenvolver para gerar emprego e riqueza na região.”

Conforme Heveraldo, a Fiemg espera uma recuperação diante dos anos anteriores em que, de forma geral, houve estagnação. “Esperamos voltar aos velhos tempos. A nossa expectativa é que possamos crescer em torno de 8% a 10%, o que já é um avanço. Cada ano é muito atípico, muito diferenciado, mas acreditamos que o crescimento vai seguir essa estimativa.”

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“A quitação de todo o prejuízo deixado pela pandemia deve acontecer em, no mínimo, três anos”

Francele Galil

Os passivos acumulados pelos empresários do setor de bares e restaurantes no município não devem ser recuperados em 2022, de acordo com a presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Juiz de Fora (Abrasel), Francele Galil. “Neste ano, nós esperamos que haja um crescimento do setor, mas não uma quitação plena de todo o prejuízo deixado pela pandemia. Isso é algo que a gente deve recuperar em, no mínimo, três anos. Lembrando que essa previsão é baseada em um parâmetro de que a economia vai estar caminhando normalmente, sem nenhuma intercorrência em um nível de pandemia como a gente teve.”

A expectativa é que a chegada de novos empresários no ramo e o aumento de profissionais regularizados podem potencializar a expansão do segmento de alimentação fora do lar. “Em 2022, nós acreditamos que vamos ter ainda mais empresários, pessoas que queiram investir dentro do setor. Então, nós vislumbramos um crescimento. Já tivemos muitos CNPJs abertos durante a pandemia e depois com a flexibilização também, porque muitas pessoas que ficaram desempregadas passaram a trabalhar em casa e se formalizaram como microempreendedores individuais. Neste ano não será diferente, a perspectiva é que continue crescendo.”

“Juiz de Fora deve se posicionar como destino de turismo de negócios e eventos seguros”

Thais Lima

O setor do turismo, que passou grande parte dos últimos dois anos sem poder realizar eventos e atividades presenciais, aposta que, em 2022, o avanço da imunização e a garantia de saúde e biossegurança serão peças chaves para o crescimento. “Juiz de Fora deve se posicionar como um destino de turismo de negócios e eventos seguros, que possui estabelecimentos e prestadores de serviços aptos a atuar num cenário de pandemia. Temos que explorar isso, através da captação e criação de eventos, bem como o incentivo aos eventos existentes. Entretanto, o turista de negócios também busca por lazer e entretenimento. Por isso, temos que valorizar e destacar nossa gastronomia, cultura e atrativos turísticos”, afirma Thais Lima, vice-presidente executiva do Juiz de Fora Convention & Visitors Bureau.

A recuperação socioeconômica do segmento ainda deve enfrentar os desafios que perpassam um período de recessão e que dificultam o reposicionamento no mercado. “Temos, ainda, um aumento dos preços dos produtos e as limitações financeiras dos consumidores. Além disso, um cenário de muitas incertezas com relação a pandemia e seus desdobramentos. Consumidores receosos em participar de eventos, de investir em viagens. Empresas e instituições que ainda não incentivam essas atividades. O que precisamos em 2022 é de união, trabalho colaborativo e cooperativo. A ajuda mútua será a chave para que o setor de turismo e eventos da cidade consiga se recuperar.”

“É necessário que os investidores considerem a volatilidade que as eleições trazem para o mercado”

Rodrigo Miguel

Para aqueles que vão aproveitar 2022 para investir, o economista e assessor de investimentos da Futureinvest, Rodrigo Miguel, alerta que a tendência é que as taxas de juros tenham altas mais aceleradas no início do ano, podendo chegar a 11,75%. Além disso, é necessário que os investidores considerem a volatilidade que as eleições trazem para o mercado e tenham seletividade nos ativos para o cenário de inflação e taxa Selic mais altos e um PIB mais fraco. “Com o Ibovespa no atual patamar e com o múltiplo de preço/lucro das empresas negociando perto do pior cenário da Covid em 2020, fica tentador aumentar posição em ações. Em termos de alocação, é importante aproveitar os títulos de renda fixa com boas taxas por um ano e a possibilidade de comprar BDRs (Brazilian Depositary Receipts) para aproveitar a recuperação acionária no mercado norte-americano e fugir do efeito das eleições no Brasil.”

Com a Selic acima de 8,5%, o rendimento da poupança volta para 0,5% +TR. Mesmo assim, o economista afirma que é possível encontrar títulos de renda fixa com rendimento muito superior no mercado.

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