Prefeitura anuncia cancelamento do carnaval 2022

Anúncio foi divulgado pelas redes sociais da prefeita Margarida Salomão (PT) na manhã desta terça-feira


Por Júlio Black

07/12/2021 às 11h13- Atualizada 07/12/2021 às 15h40

A Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) comunicou, na manhã desta terça-feira (7), o cancelamento do carnaval de 2022 em Juiz de Fora. O anúncio foi publicado, inicialmente, no Instagram da prefeita Margarida Salomão (PT), com pronunciamento do secretário de Comunicação, Márcio Guerra. A Administração municipal credita a medida ao surgimento da variante Ômicron da Covid-19, que já tem casos confirmados no Brasil. O grupo de trabalho que discute as festividades carnavalescas, por outro lado, seguirá funcionando.
Este será o segundo ano consecutivo em que o carnaval da cidade não acontecerá, em função da pandemia de coronavírus. As festividades deste ano foram inicialmente adiadas em dezembro de 2020. Na ocasião, a Funalfa informou que a decisão sobre uma nova data em 2021 ficaria a cargo da nova administração do município, que tomou posse em janeiro e, diante dos dados epidemiológicos de então, confirmou o cancelamento.
Em entrevista no início da tarde desta terça à Rádio Transamérica, o secretário Márcio Guerra declarou que o Governo municipal aguardou até o limite em que seria possível organizar o carnaval. “A prefeita (Margarida Salomão) fez uma reunião com o secretariado e avaliou que, em função das incertezas que a nova variante (Ômicron) tem gerado e com as recomendações das autoridades, que era melhor a gente cancelar o carnaval, mas manter o grupo de trabalho que a Funalfa instituiu com as agremiações carnavalescas e sociedade civil, para que possamos dar continuidade às discussões e preparativos. Já estávamos avançados em relação ao local dos desfiles, à questão dos blocos, mas em função desse novo cenário decidimos seguir o que muitas cidades brasileiras estão fazendo e cancelar o carnaval.”
Ele acrescentou, ainda, que não houve repasses de recursos para as escolas de samba e que, quando a festa voltar a ocorrer, será no período oficial do carnaval, diferente do que aconteceu nos últimos anos. Márcio também acrescentou que um dos objetivos da manutenção do grupo de trabalho é seguir com as discussões sobre a organização da festa, porém agora com olhos para 2023. Perguntado sobre o Réveillon, o secretário confirmou que não haverá a festa de virada do ano, incluindo a queima de fogos, e que será feita apenas a tradicional festa de chuva de papel picado no Centro da cidade.

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Cancelamento aguardado entre os blocos

A notícia do cancelamento do carnaval não chegou a ser surpresa para os envolvidos na organização dos blocos e das escolas de samba. O presidente da Associação das Entidades Carnavalescas de Juiz de Fora e Região (Aesbloc), Marcelo Guedes Barra, declarou que pelos menos seis blocos já haviam desistido de desfilar em 2022, entre eles o Bloco do Batom, Domésticas de Luxo e Pagodão dos Clubes. Outros blocos, como o Pintinho de Ouro, do Beco, Concentra Mas Não Sai e a Banda Daki, ainda planejavam sair às ruas caso a Prefeitura mantivesse o calendário.
“A decisão era esperada, tanto que muitos blocos já haviam desistido. E era um movimento que vinha acontecendo em outras cidades, estão acreditava que Juiz de Fora iria acompanhar”, disse Marcelo, que é o responsável pelo Pagodão dos Clubes. “Sou apaixonado por carnaval desde os 13 anos, e foi muito difícil cancelar o Pagodão. Pesquisei com várias pessoas que ajudam a organizar e todos disseram que não iriam participar. Minha família cobrou também (o cancelamento), pois fiquei 40 dias internado no início do ano com Covid, 15 deles intubado. Não seria justo arriscar a vida de centenas de pessoas. Nossas vidas são muito mais importantes.”
Agora, Marcelo afirma que o objetivo é pensar no carnaval de 2023, e por isso mesmo considera importante que os grupos de trabalho criados para pensar as festividades continuem em atividade. Quanto à Associação de Blocos, é certo que não ficará de braços cruzados e usará 2022 para trabalhar a organização dos futuros desfiles.
Apesar de compreender as razões para o cancelamento do carnaval por dois anos seguintes, o presidente da Aesbloc acredita que a ficha, para ele, vai realmente cair no próximo ano. “Acredito que em 2022 a gente sinta mais, pois este ano a situação da pandemia estava mais difícil, então já era mais esperado (o cancelamento). Este ano eu não senti porque estava internado, mas em 2022 vou para uma fazenda com a família, então vou ver como vou me sentir. Mas a vida tem que estar em primeiro lugar”, diz Marcelo, que também é presidente do conselho deliberativo da Banda Daki.

Escolas de samba

A presidente da Liga Independente das Escolas de Samba de Juiz de Fora (Liesjuf), Sônia Beatriz Alves de Oliveira, disse à Tribuna que as agremiações estavam com a esperança de que pudesse haver o carnaval em 2022, e por isso estavam trabalhando na organização dos desfiles. Porém, a notícia desta terça-feira não surpreendeu, pois o surgimento da nova variante da Covid-19 já havia criado a expectativa pelo anúncio do cancelamento.
Mesmo que os desfiles acontecessem, ela ressalta que seria num formato mais simples. “Estávamos conversando com a Funalfa, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, para discutir questões como local dos desfiles, esquema de segurança. Mas não seria nos moldes tradicionais, pois não haveria tempo para preparar tudo, porém todos os envolvidos das escolas de samba estavam unidos e trabalhando com o mesmo objetivo. Ficamos tristes, mas sabemos que a saúde deve estar em primeiro lugar.”
Quanto aos desfiles mais modestos, ela comenta que as escolas iriam desfilar devidamente fantasiadas, mas a partir de enredos de anos anteriores, e o número de integrantes dependeria dos protocolos estabelecidos pela Prefeitura. O mais preocupante, porém, é saber que este será o quarto ano consecutivo sem desfiles, e o quinto nos últimos seis anos sem as escolas de samba na rua. “É uma situação muito triste. Em alguns anos não tivemos desfiles por falta de verbas e apoio do Poder Público, nos últimos dois por causa da pandemia. Mas quem frequenta as quadras continua sonhando com a volta dos desfiles, e vamos ter todo o ano de 2022 para trabalhar, fazer eventos, chamar as comunidades. Espero que em 2023 a pandemia tenha acabado, seja apenas um pesadelo que ficou no passado, e que possamos fazer o melhor carnaval possível.”

Banda Daki

Quando foi eleito, em julho, presidente da Associação Recreativa General da Banda – responsável por organizar os desfiles da tradicional Banda Daki -, Nelson Jr. declarou à Tribuna o desejo de celebrar, em 2022, o cinquentenário do bloco e também homenagear um de seus idealizadores, Zé Kodak, morto em fevereiro. Até mesmo um desfile simbólico na área do Largo do Riachuelo entrou na lista de desejos.
Todavia, ele declarou à Tribuna que nenhuma medida efetiva foi tomada, desde então, por não ter visto nenhum aceno por parte da Prefeitura de que o carnaval 2022 realmente iria acontecer. “Todas as reuniões realizadas desde então foram na condicional, e até hoje de manhã não havíamos recebido nenhum aceno de que poderia haver o carnaval”, diz. “Nunca recebemos um sinal verde de que poderíamos começar a trabalhar; e não só pela questão de saúde, mas também financeira, e por isso não contratamos banda, trio elétrico, não demos nenhum passo. Dessa forma, o anúncio não nos pegou de surpresa.”
Nelson Jr. disse, ainda, que o momento é de respeitar e não questionar a decisão do Governo municipal, e pensar como será em 2023, principalmente porque é preciso pensar como realizar – mesmo com atraso – as comemorações dos 50 anos da Banda Daki e a merecida homenagem que Zé Kodak deve receber, caso a situação pandêmica permita.

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