Trabalho de muitos
As ações públicas só avançam quando o objetivo comum fica acima das idiossincrasias que marcam a cena política
A inauguração do Viaduto Hélio Fádel, cuja placa alusiva também possui o nome do ex-prefeito Antônio Almas, é uma mudança de postura nas demandas municipais, nas quais é raro o costume de um dirigente contemplar as realizações do antecessor mesmo quando este tem substancial participação no projeto. A prefeita Margarida Salomão (PT) não só colocou o nome do antecessor ao lado do seu como também o convidou para o evento.
Em tempos de dificuldades econômicas permanentes, dificilmente um administrador – salvo em caso de dois mandatos – tem condições de executar projetos de grande porte numa só gestão. Para ficar em alguns exemplos, o Calçadão da Rua Halfeld começou na segunda gestão de Itamar Franco, mas foi inaugurado, em 1975, pelo seu vice, Saulo Pinto Moreira, em decorrência de o titular ter sido eleito senador da República um ano antes. Itamar participou da solenidade e foi lembrado por Saulo.
O Terminal Rodoviário, na Avenida Brasil, no Bairro São Dimas, teve suas obras iniciadas na gestão Mello Reis, mas só foi inaugurado no primeiro mandato de Tarcísio Delgado. Boa parte do processo viário começou no mandato do então prefeito Custódio Mattos, mas vários viadutos, fruto de tais ações, foram inaugurados pelo prefeito Bruno Siqueira. Este, por sua vez, ao entregar o Teatro Paschoal Carlos Magno, colocou o nome de Mello Reis (seu idealizador) na placa de inauguração.
Não há como ser diferente, pois os gestores passam e a cidade fica, mas é necessário destacar que o jogo político nem sempre dá margem a citações. Pura bobagem ou descaso ético. Nesse mesmo processo, quando se trata de mazelas, é próprio do novo gestor jogar a responsabilidade para o antecessor, sobretudo no debate econômico. De prefeito a presidente, passando por governadores, são recorrentes os discursos de ter encontrado a administração com uma série de problemas. Também é do jogo.
As cidades, nas quais a vida se realiza, precisam articular o trabalho coletivo. A obra do viaduto saiu do papel por ação de órgãos executivos, mas teve participação efetiva de parlamentares com encaminhamento de suas emendas coletivas ou individuais. E não há outro caminho. No caso de Juiz de Fora, ainda há um longo caminho para a plena mudança da sua mobilidade. O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, a prefeita Margarida Salomão e o presidente da MRS, Guilherme Mello, em momentos distintos, foram pródigos nos anúncios, mas a causa é coletiva, devendo envolver outros segmentos.
O trabalho de muitos deve ser uma rotina também na região. A Zona da Mata, ao curso dos anos, tem sido uma das menos contempladas com ações dos governos do Estado e da União, em decorrência, também, da ausência de interlocutores aptos a percorrer os seus gabinetes em busca de recursos. As ações têm sido pontuais e de forma estanque, sendo raros os momentos em que as lideranças, em ato conjunto, tenham atuado na defesa de alguma demanda.