Novo modelo
As muitas tentativas de alterar a mobilidade na cidade esbarraram ora na falta de vontade política, ora na ausência de bons projetos para facilitar a obtenção de recursos
A retomada das discussões em torno do sistema troncalizado de transporte em Juiz de Fora é um indicativo positivo na intenção de modernizar um modelo que há anos carece de inovação. As cidades passam por alterações constantes, e a dinâmica deve ser adotada também na mobilidade. Quando da primeira tentativa, o projeto foi implantado de forma incipiente, pois carecia de ampliação das estações de traslado. Sem elas, não funcionou. Pior, em vez de se avaliar a possibilidade de sua atualização, simplesmente foi abortado na troca de gestão.
O projeto inaugural entrou em funcionamento com apenas uma estação, no Bairro Santa Lúcia, onde hoje é a sede do 27º Batalhão de Polícia Militar. Ela acolhia a demanda da Zona Norte e, a partir daí, com os ônibus duplos, fazia o transporte até o Centro da cidade. Os críticos consideraram um erro instalar uma estação tão próxima de Benfica, de onde parte a maior demanda de usuários. O ponto ideal seria no início da Avenida Brasil, na altura do viaduto Ramiro Gonzalez, perto da BD.
Uma outra unidade, para atender a Zona Sul, ficaria na Rua Dom Silvério, esquina com a Rua Barão de Aquino. Com isso, o número de ônibus na Avenida Rio Branco cairia substancialmente. No entanto, como tantos outros projetos, o tempo cuidou de comprometer uma nova versão, por conta do adensamento. O modelo terá que ser repensado, embora seja, ainda, uma medida ousada e necessária para o município.
Com a construção do Viaduto Hélio Fadel, ligando a Rua Francisco Bernardino à Avenida Brasil, e um outro na Rua Benjamin Constant, sobre a linha férrea, a conformação da região terá uma mudança abissal e cria a oportunidade que a Prefeitura ora avalia de mudar plenamente a mobilidade no Centro da cidade. A retirada do comércio ambulante da Avenida Getúlio Vargas e a redução de ônibus, certamente, contribuirão para mudar toda a dinâmica do Centro.
As grandes metrópoles, já há algum tempo, repensam o uso de suas áreas centrais, dando ênfase ao transporte coletivo controlado e facilitando o uso de outros meios, como bicicletas. Juiz de Fora tem problemas nas duas pontas. O sistema tem que ser atualizado – como pensa a administração da prefeita Margarida Salomão -, e a construção de ciclovias deve ser uma prioridade. Hoje, o mais perto disso são sinalizações na Avenida Rio Branco, que nem motoristas nem ciclistas respeitam.
No processo de renovação da concessão de uso da malha ferroviária pela MRS, há uma série de medidas sob a chancela de contrapartidas que podem ajudar na mobilidade. Há previsão de novos viadutos, mas também de uma ciclovia, sobretudo ligando a Zona Norte, a partir de Benfica, ao Centro da cidade. Ao contrário de outras regiões, não há o comprometimento pela topografia. Sua implantação daria segurança a um expressivo número de pessoas que diariamente convive perigosamente com o trânsito da Avenida JK.
Recursos são possíveis com bons projetos, e isso só é possível com a participação coletiva, não bastando decisões fechadas de gabinete, pois estas correm o risco de terem as melhores intenções, mas apartadas das reais ncessidades do usuário.