A nova infâmia de Seth MacFarlane


Por JÚLIO BLACK

18/09/2014 às 06h00- Atualizada 18/09/2014 às 12h18

Charlize Theron é a donzela cobiçada pelo covarde fazendeiro vivido por Seth MacFarlane

Charlize Theron é a donzela cobiçada pelo covarde fazendeiro vivido por Seth MacFarlane

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Seth MacFarlane não tem medo de fazer piadas politicamente incorretas, colocar o dedo na ferida, chocar as pessoas, enfurecer os conservadores e, ainda assim, fazer o populacho rir. Conhecido por ser o criador de “Family Guy” e “American dad”, o ator, comediante, roteirista, animador, dublador e – ufa! – cantor ampliou ainda mais seu público em 2012, quando escreveu, produziu e dirigiu a mais que irreverente comédia “Ted”, em que dublou o urso de pelúcia boca suja, preguiçoso, misógino e viciado que acompanha Mark Wahlberg da infância até a fase adulta. O sucesso garantiu ao norte-americano a oportunidade de produzir, roteirizar e assumir a direção de mais um longa, “Um milhão de maneiras de pegar na pistola”, uma das estreias desta quinta-feira nos cinemas brasileiros.

Ao contrário da sua produção anterior, desta vez MacFarlane também vai para a frente das câmeras interpretando Albert, um fazendeiro covarde que é abandonado pela namorada após fugir de um duelo. Apesar da sua pouca disposição com o perigo, ele cai nas graças da misteriosa forasteira Anna (Charlize Theron), recém-chegada à cidade. Para seu azar, ela é mulher de um perigoso pistoleiro foragido da Justiça, Clinch (Liam Neeson, que manda ver no sotaque irlandês mesmo no Velho Oeste), que o desafia para um duelo de pistolas. Mas ele não tem o menor traquejo com os ferros. É Anna quem tenta ensiná-lo a manejar as armas para poder ver mais uma nova alvorada no Arizona de 1882, uma terra – como diz o personagem principal – em que “tudo que não for você quer matar você: bêbados furiosos, animais famintos, bandidos, o médico”.

É nessa terra inóspita que MacFarlane volta a disparar suas piadas sobre racismo, sexismo, caipiras, por meio de tiradas ácidas e sarcásticas, enquanto desfila todos aqueles clichês tão caros aos westerns, como os saloons repletos de pistoleiros bêbados, duelos na rua principal da cidade, perseguições com cavalos, donzelas em perigo. Há espaço ainda para as piadas físicas e escatológicas bem ao gosto do artista, como o pobre coitado que tem a cabeça esmigalhada por um gigantesco bloco de gelo vindo de Boston (!). Para a empreitada, esse faz-tudo de Hollywood procurou reunir um elenco que segurasse as pontas ao longo de toda a projeção, como Giovanni Ribisi, Amanda Seyfried, a comediante ainda mais boca suja Sarah Silverman e Neil Patrick Harris, além de Charlize Theron e Liam Neeson. Se as desventuras do fazendeiro covarde terão continuidade em outros filmes não se sabe, mas “Ted 2” já está na agenda de Seth MacFarlane.

Sucesso, polêmicas e o 11 de setembro

MacFarlane, nascido em 1973, é quase um sujeito com mil e uma utilidades. Após se formar na Escola de Design de Rhode Island, ele foi trabalhar como roteirista e animador na Hanna-Barbera, trabalhando nas animações “Johnny Bravo”, “A vaca e o frango”, “O laboratório de Dexter” e “Eu sou máximo” até ser contratado pela Fox, emissora que aprovou em 1999 a série animada “Family guy”. Apesar de cancelada duas vezes, as situações bizarras vividas pela família Griffin retornaram à televisão graças à insistência dos fãs.

Atualmente, “Family guy” é um dos principais programas da Fox, a despeito das contínuas campanhas de organizações como o Parents Television Council para que o programa fosse cancelado por ser considerado “indecente”. Mesmo que meio passo atrás de “South Park”, a mais iconoclasta das séries, “Family guy” não poupa nas críticas ao american way of life e nas piadas politicamente incorretas, envolvendo negros, gays, judeus, estrangeiros, muçulmanos, mulheres, Jeová, Jesus, celebridades, políticos, sexismo e a própria Fox. O sucesso da família de Quahog ainda permitiu que o artista desenvolvesse uma série derivada, “The Cleveland Show”, e fosse o co-criador de “American dad”.

“Family guy” permitiu ainda que Seth MacFarlane mostrasse outro talento: o de dublador. Na série, ele faz as vozes de Peter Griffin, Stewie, do cão Brian, o jornalista Tom Tucker, o predador sexual Glenn Quagmire e o que mais aparecer, além de contar com as participações de Mila Kunis como a feiosa Meg e Adam West, o eterno Batman, dublando o insano Prefeito West. Em “American dad”, ele fica responsável pelas vozes de Stan Smith e do alienígena Roger, e tem no elenco de dubladores ninguém menos que Patrick Stewart, o eterno Capitão Picard de “Star Trek – a nova geração” e o Professor Xavier dos primeiros filmes dos X-Men.

A ligação de MacFarlane com a ficção científica resultou em vários episódios de “Family guy” inspirados nos filmes de “Star wars” e a citação em vários episódios de “Star trek”, inclusive com os atores sendo sequestrados por Stewie após uma convenção nerd. O artista ainda participou como coadjuvante de alguns episódios de “Star Trek: Enterprise”. Incansável, ele também é pianista e cantor, tendo gravado em 2011 um álbum de standards de jazz, “Music is better than words”.

Toda essa agitação, porém, pode ser considerada obra do destino. MacFarlane deveria estar em um dos aviões que se chocaram contra as torres do World Trade Center, em Nova York, em 11 de setembro de 2011. Ele tinha passagem comprada para retornar a Los Angeles no voo 11 da American Airlines que saiu de Boston, mas a ressaca de uma festa na noite anterior e o horário errado no bilhete da passagem fizeram com que ele chegasse dez minutos depois de os portões para o embarque terem sido fechados. O que não impediu que ele colocasse, por exemplo, Peter Griffin envolvido em um ataque terrorista islâmico ou Stewie e Brian servindo o Exército Americano no Iraque em episódios de “Family guy”.

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UM MILHÃO DE MANEIRAS DE PEGAR NA PISTOLA

UCI 2: 22h. UCI 3: 20h

Classificação: 14 anos

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