Cara de bicho e receita de insucesso


Por Renato Salles

22/10/2021 às 07h00

A situação do Grêmio no Campeonato Brasileiro é uma lástima. Campeão intercontinental, bicampeão da Libertadores, bicampeão brasileiro e tetracampeão da Copa do Brasil, o Imortal Tricolor gaúcho é hoje o vice-lanterna do principal torneio nacional. Com isso, flerta de forma séria com um possível rebaixamento, assim como já aconteceu nas temporadas de 1991 e 2004.

Com a ameaça de queda rondando o clube, a diretoria gremista tem apostado em velhos clichês do futebol brasileiro. Via de regra, os mesmos seguidos historicamente nas situações em que grandes clubes do país – como o próprio Grêmio – acabaram caindo.

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A solução clássica e mais fácil de se colocar em prática já foi utilizada duas vezes: a troca de técnico. Tiago Nunes foi dispensado após a sétima rodada. Na ocasião, o time fazia uma pífia campanha, com dois pontos ganhos em 21 disputados. Logo, a cabeça do treinador foi dada a prêmio para os torcedores, de forma a esconder os erros de planejamento.

Acontece que o Grêmio, de uma vez só, lançou mão logo de duas das cartas. Não só trocou o comandante como trouxe um experiente, com história no clube, para livrar a equipe da situação difícil. Felipão foi o escolhido.

O veterano não mudou muito os destinos dos gaúchos na competição. Foram 21 jogos, nove vitórias, três empates e nove derrotas, deixando o Tricolor na 19ª colocação. Com a corda ainda no pescoço, o Grêmio trocou novamente. Com histórico de luta contra o rebaixamento no currículo, Vagner Mancini foi o escolhido para a missão árdua.

Como não poderia deixar de ser, o clube lançou mais uma carta do guia rápido do descenso nacional: prometeu premiação extra para caso os jogadores reajam e evitem o desastre de um terceiro rebaixamento. Grana queimada para esconder os erros. Tem cara, cheiro, cor e anda como tal, mas os dirigentes garantem que não se trata do famoso “bicho”.

Apesar das escusas, a prática é que os atletas serão incentivados financeiramente para executar bem aquilo que já são pagos mensalmente. No caso das grandes equipes brasileiras, muitíssimo bem pagos, diga-se passagem. Um universo inalcançável pela maioria absoluta da população. Uma excrescência.

Enfim, acho até que o Grêmio tem condições e tem time para escapar da degola. Mas, para completar a receita de um insucesso do guia prático do rebaixamento brasileiro, só falta aquela reportagem fatídica dos torcedores em prantos no jornal da hora do almoço.

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