18ª edição do Feijão de Ogun começa nesta quinta-feira

Evento terá apresentações culturais presenciais, lives on-line, debates e feira de etnodesenvolvimento e economia solidária


Por Júlio Black

14/10/2021 às 07h00

Depois de não acontecer em 2020 devido à pandemia de Covid-19, o Feijão de Ogun realiza sua 18ª edição a partir desta quinta-feira, contando ainda com uma série de atividades que misturam o formato presencial com o on-line. Entre eles estão lives, debates , rodas de capoeira, apresentações culturais e a primeira edição da Feira de Etnodesenvolvimento e Economia solidária. O evento é organizado pelo Movimento Negro Unificado (MNU) de Juiz de Fora, com apoio da Prefeitura, Comitê Técnico de Saúde da População Negra, Programa Previne Brasil e Instituto Feijão de Ogun.

Maracatu Estrela na Mata é atração musical na sexta-feria, na Praça da Estação. (Foto: Divulgação)

A abertura, na quinta-feira, acontece às 10h, na Praça da Estação, com a cerimônia de abertura e intervenção artística com Fátima Ramos, Silvânia Santos e Marcus Amaral. No mesmo horário, tem início a Feira de Etnodesenvolvimento e Economia Solidária, que, de sexta a domingo, começará mais cedo, às 8h. Segundo o coordenador do MNU/Zona da Mata, Paulo Azarias, o público encontrará na feira várias produções artesanais de artesãos negros e negras, como bonecas negras, além de vários outros produtos, além da venda de acarajé e plantas para banho e chás, entre outros. Também estarão presentes parceiros do Movimento, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), a Frente Brasil Popular e representantes do quilombo de Santos Dumont.

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Na parte cultural, a quinta-feira terá apresentação do Grupo Ingoma, às 17h, e ao longo do dia a discotecagem ficará a cargo do DJ Alex Paz, que se repetirá durante toda a programação. Na sexta-feira, o grupo Maracatu Estrela na Mata se apresenta às 17h, mesmo horário em que o Grupo Muvuka se apresenta no sábado; no domingo, a Grande Roda de Capoeira está agendada para as 10h30.

Debates todos os dias

A programação do 18º Feijão de Ogun também será marcada por debates em lives transmitidas pela internet. A primeira delas, na quinta-feira, será transmitida a partir das 19h pelo canal da Prefeitura de Juiz de fora no YouTube. Com o tema “Políticas transversais”, ela terá mediação de Paulo Azarias e participação de Giane Elisa (diretora-geral da Funalfa), Fabiola Paulino (secretária de Agricultura, Pecuária e Abastecimento da PJF), Martvs das Chagas (secretário de Planejamento Territorial e Participação Popular da PJF) e Ieda Leal (coordenadora Nacional do MNU). Na ocasião, segundo Paulo, o grupo vai discutir como construir uma política antirracista na cidade.

Na sexta-feira, Silvânia Santos é a mediadora da mesa “Políticas públicas para o etnodesenvolvimento e educação”. Com transmissão a partir das 19h na página do Instituto Feijão de Ogun no Facebook, o debate contará com as presenças de Jorge Nascimento (mestre em Memória Social e Bens Culturais), Ronaldo Lopes (psicólogo), Almira Maciel (pedagoga e especialista em história da África), Pai Wellington de Ogun (Fórum das Comunidades Tradicionais de Terreiro do Brasil). “Essa é outra questão central, pois precisamos reconstruir a memória social do povo negro em Juiz de Fora. É necessária uma educação antirracista e mecanismos que garantam a geração de renda para o nosso povo”, afirma Azarias.

No sábado, o tema em debate será “Saúde da população negra _ Os saberes medicinais dos povos de terreiro”, com transmissão às 19h também pelo Facebook do Instituto. Hunbono Camilo de Oyá será o mediador, e participam Fernando Eliotério (coordenador do Comitê de Saúde da População Negra), Damiana Pereira de Miranda (médica psiquiatra da Bahia), Babalorixá Leonardo Amorim (Bahia) e Egbomy Roseli de Oliveira (socióloga e especialista em Saúde Pública para o SUS-SP).

“A saúde da população negra e a promoção da saúde nas comunidades de povos tradicionais de matriz africana são dois dos temas que vamos trabalhar este ano, e a mesa terá pessoas ligadas às religiões de matriz africana e que são profissionais na área de saúde ou assistência social que desempenham papel muito importante no conhecimento das suas práticas profissionais nas respectivas áreas de atuação, e que também acumulam essa experiência nas práticas dos saberes ancestrais”, destaca Azarias.

O tema também será debatido no domingo, às 18h30, pelo Facebook, com o tema “Promoção da saúde _ Diversidade e juventude”. Lucas Nascimento (MNU-RJ), as vereadoras Tallia Sobral e Laiz Perrut, a socióloga Dandara Felícia e Phelipe Brito, da Ubes (União Brasileira de Estudantes Secundaristas) participam do debate mediado por João Pedro Azarias.

“Todos os índices, pesquisas, apontam para uma grande desigualdade com relação ao negro em todos os setores, e isso é relativo ao racismo estrutural que perdura no pais”, afirma Paulo. “Neste ano, pela questão da Covid e a saúde ter ficado em evidência, queremos fazer esse debate e visibilidade ao Comitê de Saúde da população Negra, criado recentemente pela Secretaria de Saúde. Outro objetivo é discutir com a sociedade um programa a ser apresentado à Secretaria que garanta uma saúde igualitária para a população negra, além de promover o reconhecimento e o respeito às práticas de promoção de saúde dos povos tradicionais de matriz africana.”

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Comida para quem precisa

Por fim, a 18ª edição do Feijão de Ogun, com a distribuição de feijoada para a população em situação de rua, acontece no domingo. Segundo Paulo Azarias, eles contarão com o apoio da Secretaria de Assistência Social para distribuir a feijoada nos abrigos destinados à população de rua. “Também vamos fazer uma campanha de arrecadação de absorventes para adolescentes e mulheres em situação de vulnerabilidade entre a quinta-feira e sábado, pois também estamos na luta para que o Congresso Nacional derrube o veto de Jair Bolsonaro em relação à distribuição gratuita, pelo SUS (Sistema Único de Saúde), de absorventes para esse grupo”, diz.

Sobre a tradicional campanha, Paulo Azarias fala de sua importância num momento de crise econômica em que a pobreza e a fome aumentaram a ponto de muitas pessoas chegarem a um nível de pobreza em que só é possível comprar ossos, carcaças ou pés de galinha _ isso, quando ainda têm dinheiro. “O Feijão de Ogun sempre foi realizado como um ato simbólico de solidariedade e de denúncia a todo esse processo de exclusão, que ainda aumentou nos últimos três ou quatro anos. É o momento de chamar a atenção da população para se organizar e construir a solidariedade, e se indignar com esse absurdo de que as pessoas têm que comprar osso, que antes era jogado fora mas passou a ser vendido pela ganância das pessoas. Assim como o Betinho (Herbert José de Sousa) lançou lá atrás a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, entendemos que este é o momento da sociedade voltar a se sensibilizar.”

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