Biscoito para iniciar as crianças na cozinha

Thuila Meirelles é nutricionista e acredita na autonomia das crianças na construção dos hábitos alimentares; para ela, a merenda é importante nesse processo


Por Cecília Itaborahy, estagiária sob supervisão de Wendell Guiducci

08/10/2021 às 07h00

biscoitoMuitas das melhores memórias são construídas durante a infância. As lembranças afetivas da mesa cheia de primos, do cheiro e do sabor do prato favorito, de ficar debaixo da saia da avó ou da mãe que cozinham com temperos únicos. Nesses momentos é que se aprendia a cozinhar, observando os processos bem de perto, olhos vidrados. Parece que essa cena ficou no século passado, pelos perigos do fogo e dos cortes que alertaram para os acidentes infantis na cozinha. Mas isso, por outro lado, fez aumentar as distâncias entre os processos alimentares e as crianças. Elas, na maioria das vezes, não são protagonistas da construção de seus hábitos alimentícios.

Thuila Meirelles foi uma criança com dificuldades para comer. Quase não consumia ingredientes com cores. Por pressão e pela falta de informação que existia sobre a introdução de maneira lúdica, acabou desenvolvendo traumas alimentares. Ela conta que quase não tem memórias afetivas com a comida. Ironia do destino, hoje ela é nutricionista e idealizadora do “Corujinha na cozinha”: projeto de nutrição e culinária infantil que funciona como uma rede de apoio para a educação alimentar. Por sua formação, passou a entender que, assim como as crianças, o comer é complexo. “O ser humano come por mil questões, muito além dos nutrientes”, diz. Aos poucos, foi também se curando dos traumas e, agora, come e faz de tudo.

PUBLICIDADE

A dica que ela dá para quem convive com crianças com restrições é começar a mostrar os processos, apresentar os ingredientes e a lida dentro da cozinha. Agora, com a volta às aulas, isso pode ser iniciado com a escolha das merendas. Ela fala que, muitas vezes, a criança é pega de surpresa, como se, na hora da fome, ela fosse comer qualquer coisa. Mas o alimento acaba voltando inteiro ou pela metade. Escolher o que levar é uma boa opção. Mas Thuila alerta: a escolha deve ser feita entre o que é indicado, não entre qualquer alimento.

A sugestão é fazer a merenda dentro de três grupos alimentares, pensados de maneira a dar mais energia, sendo eles os energéticos (que são os cereais), os construtores (proteínas de origem animal ou vegetal) e reguladores (frutas e legumes in natura). Uma dica é fazer um espetinho de tomatinho cereja e queijo e levar uma fruta ou fazer um suco – mas é, realmente, importante que a criança goste dos ingredientes. A quantidade também fica a critério da criança – com mediação do bom senso do adulto.

A outra dica é unir todos esses grupos em um só. Como é o caso do biscoito de polvilho com cenoura, que Thuila ensina hoje aos leitores, para fazer para e com as crianças. Mas o ideal é ser criativo. Para isso, ela sugere tirar o peso que se carrega dos alimentos e incentivar as crianças a “construir as próprias ideias, sendo empoderadas e, consequentemente, com saúde”. Ela, apaixonada pela sinceridade das crianças, acredita que elas e a comida transformam o mundo, com as conexões possíveis e o prazer que daí surge.

biscoitoBiscoitinho de polvilho com cenoura

Por Thuila Meirelles

Ingredientes
125g (1 xícara de chá) de polvilho azedo
125g (1 xícara de chá) de cenoura ralada
125g (1 xícara de chá) de queijo minas padrão ralado
35ml (3 colheres de sopa) de azeite
Ervas frescas a gosto (manjericão, orégano, alecrim)
Pitada de sal
3 colheres de sopa de água filtrada

Modo de preparo
Em uma tigela grande, coloque todos os ingredientes – menos a água – e misture com as mãos formando uma massa homogênea. Coloque a água aos poucos na tigela para deixar a massa homogênea. Faça bolinhas, palitinhos de tamanhos próximos. Coloque as bolinhas em uma forma untada. Aqueça o forno a 180 graus e deixe assar por aproximadamente 20 a 25 minutos.

O conteúdo continua após o anúncio

Leia também: Salada com flores comestíveis para a primavera: cor e sabor na mesa

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.